Ao defender o irmão, Eduardo Bolsonaro recorre à falsa genialidade e insere Churchill na polêmica

Para a família do presidente Jair Bolsonaro não basta atentar contra a democracia. É preciso recorrer ao ridículo para defender um filho mimado que continua acreditando ser a versão apasquinada de príncipe consorte dessa barafunda em que se transformou o Brasil.

Vereador no Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro publicou em sua conta no Twitter, na segunda-feira (9), texto que é um atentado contra a democracia e o Estado de Direito. “Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos… e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!”, escreveu o filho do presidente da República.

Diante da repercussão negativa dessa estultice, Carlos, que é conhecido como “02”, resolveu minimizar o estrago culpando a imprensa por divulgar que ele defende a ditadura.

“O que falei: por vias democráticas as coisas não mudam rapidamente. É um fato. Uma justificativa aos que cobram mudanças urgentes. O que jornalistas espalham: Carlos Bolsonaro defende ditadura. CANALHAS!”, escreveu o filho do presidente, dando a entender que profissionais da imprensa têm problema de interpretação de texto.

Responsável pelas estratégias do presidente nas redes sociais, Carlos tem plena consciência acerca do que publica e não faz sem o consentimento do pai, que tem no filho uma espécie de “longa manus” para atacar desafetos e lançar balões de ensaio com o objetivo de testar a aceitação das bizarrices do próprio pensamento.

Como “a emenda saiu pior do que o soneto”, como disse certa feita o poeta português Manuel Maria de Barbosa l’Hedois du Bocage (1765-1805), a solução encontrada pelo clã Bolsonaro foi sair em defesa de Carlos, como forma de estancar o que tem ingredientes de sobra para se transformar em grave e ruidosa crise.


Foi a partir dessa decisão que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o fritador de hambúrguer que pleiteia a Embaixada do Brasil em Washington, saiu em defesa do irmão e protagonizou um atentado histórico contra a memória de Winston Churchill (1874-1965), ex-primeiro-ministro do Reino Unido.

Ao tentar amainar o estrago, o parlamentar declarou: “O que o Carlos Bolsonaro falou não tem nada de mais, ele falou que as coisas na democracia demoram porque tem debate, só isso”.

Para quem recentemente afirmou que para fechar o Supremo Tribunal Federal são necessários apenas um soldado e um cabo, a declaração do irmão soa como valsa, mas é preciso reconhecer que trata-se de mais uma manifestação da família presidencial a favor do totalitarismo e do retrocesso.

Contudo, Eduardo Bolsonaro, que tem se preparado para sabatina no Senado consultado textos na internet, a afirmação do irmão pode ser comparada à famosa e polêmica declaração de Churchill, que certa vez disse: “A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que foram experimentadas”.

Ao que parece, quem tem sérios problemas para interpretar textos são os integrantes do clã liderado por Jair Bolsonaro, pois a famosa frase de Churchill, mesmo carregando inefável paradoxo, não deixa dúvidas a respeito do apreço do então primeiro-ministro britânico pela democracia. Afinal, Churchill, que durante anos esteve ao lado dos liberais britânicos e depois retomou o conservadorismo, jamais pregou contra a democracia.

Eduardo, que tenta destilar suposta genialidade, principalmente porque está prestes a enfrentar sabatina no Senado, disse que se Winston Churchill fosse deputado, filho do presidente, os opositores deixariam a polêmica de lado.

Arrastar o nome de Winston Churchill para o centro do imbróglio é um claro sinal do desespero de um político despreparado que tenta defender o irmão, um abilolado que acredita ser o último gênio da raça, que por sua vez é responsável pelas estratégias digitais de um presidente da República desprovido de estofo e competência para ocupar o cargo. Enfim, o fruto não cai longe da árvore, com prega o adágio popular.