Câmara dos EUA anuncia abertura de processo de impeachment contra Donald Trump

A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, anunciou nesta terça-feira (24) a abertura de processo de impeachment contra o presidente Donald Trump.

O republicano é suspeito de pressionar o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para que apoiasse investigações contra Hunter Biden, filho do pré-candidato democrata à Presidência, Joe Biden. A pressão teria ocorrido durante telefonema no final de julho. A revelação do caso na última semana provocou uma tempestade política em Washington.

“Isto é uma quebra da Constituição americana”, disse a democrata Nancy Pelosi ao anunciar a abertura do processo. “O presidente precisa ser responsabilizado. Ninguém está acima da lei. Portanto, hoje estou anunciando que a Câmara dos Deputados está avançando com uma investigação oficial de impeachment.”

Segundo o jornal “The New York Times”, a tendência é que Pelosi determine a instalação de uma comissão especial para investigar as suspeitas que envolvem Trump. Em 1973, a Câmara dos Representantes instalou uma comissão semelhante para investigar o então presidente Richard Nixon, mas ele acabou renunciando antes que a Casa legislativa votasse pela admissibilidade do processo em plenário.

Os democratas têm maioria na Câmara, mas a possibilidade de um processo de impeachment prosperar até a fase final é mais improvável no Senado, que tem a última palavra sobre eventual saída do presidente. Os republicanos superam o Partido Democrata em número de senadores. Ainda assim, o caso tem alto potencial de desgaste para Trump, que já encaminha seu projeto de reeleição, em 2020.

Na última sexta-feira (20), o “The Wall Street Journal” noticiou que Trump pressionou o presidente da Ucrânia em durante telefonema no final de julho para investigar tanto Biden quanto seu filho, Hunter. Na ocasião, segundo o jornal, Trump pediu a Zelensky para que seu advogado pessoal, o ex-prefeito Rudy Giuliani, pudesse atuar na investigação em conjunto com os ucranianos.

O caso em questão envolveria suspeitas sobre as ligações de Hunter com a empresa de gás de um oligarca ucraniano. Giuliani, por sua vez, também sugeriu aos ucranianos que Biden, na época em que ainda era vice-presidente, atuou para proteger seu filho. Porém, integrantes do Judiciário ucraniano disseram ao “The Wall Street Journal” que não há evidências de qualquer irregularidade na conduta de Biden ou de seu filho.

Joe Biden, que foi vice-presidente de Barack Obama, lidera no momento as pesquisas entre os pré-candidatos democratas para se tornar o escolhido do partido que enfrentará o republicano Trump nas eleições de 2020.


No último domingo (22), Trump disse a repórteres na Casa Branca que o telefonema foi, sobretudo, de parabenização (o partido de Zelensky acabara de vencer eleição parlamentar no país), mas admitiu que também tratou de corrupção e dos Biden. Ele, no entanto, minimizou o caso falando que não fez nada de errado.

Porém, o escândalo ganhou mais força na segunda-feira, quando o jornal “The Washington Post” revelou que Trump suspendeu ajuda militar no valor de US$ 400 milhões para a Ucrânia, dias antes do telefonema para Zelensky, levantando a suspeita de que a medida tinha como objetivo pressionar o líder ucraniano a cooperar na ação contra Biden.

Antes mesmo de “Wall Street Journal” revelar detalhes da conversa entre Trump e Zelensky, outra reportagem do “Te Washington Post”, publicada dois dias antes, já havia apontado que Trump fora alvo de denúncia na comunidade de inteligência por causa de uma conversa suspeita.

Neste caso, o diário havia indicado que um agente dos serviços de inteligência dos EUA que acompanhava a conversa — como é rotina em telefonemas de presidentes americanos – ouviu Trump fazer uma “promessa” a um “líder estrangeiro”, despertando “preocupação urgente” sobre a segurança nacional americana. Inicialmente, o “líder estrangeiro” não foi identificado pelo “Washington Post”, mas dois dias depois o concorrente apontou que se tratava de Zelensky.

Ainda de acordo com o “Washington Post”, após diálogo entre os mandatários o agente registrou queixa anônima contra Trump na comunidade de inteligência.

Depois das reportagens, membros da Câmara pediram que o governo Trump liberasse a transcrição das conversas do presidente com Zelenski. Já o Senado não apenas pediu as transcrições do telefonema, mas solicitou que o agente que ouviu a conversa testemunhe sobre o caso.

Trump afirmou que fornecerá a transcrição da conversa. Após o anúncio da abertura do processo de impeachment, o presidente americano também atacou os democratas. “Eles nem sequer viram a transcrição da ligação. Isso é uma caça às bruxas!”, escreveu o Trump no Twitter.

Em mais de dois séculos, os deputados só concluíram duas votações para pedir o impeachment de um presidente: em 1868, contra Andrew Jackson, e em 1999, contra o democrata Bill Clinton. Em ambos os casos, os presidentes perderam na Câmara, mas acabaram permanecendo no cargo ao vencerem votações no Senado. (Com agências internacionais)