Impeachment: transcrição de telefonema confirma pedido de Trump a Zelensky para investigar Joe Biden

Se Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, imaginou que um eventual processo de impeachment poderia desmoronar logo na largada, a esperança transformou-se em pesadelo para o inquilino da Casa Branca.

A transcrição do telefonema entre Trump e o presidente ucraniano, Wolodymyr Zelensky, confirma que o republicano pediu que o líder da Ucrânia investigasse o democrata Joe Biden, seu possível rival nas eleições de 2020.

A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos liberou, na terça-feira (24), por decisão da democrata Nancy Pelosi, a abertura de inquéritos que podem levar ao impeachment de Trump.

Trump propôs a Zelensky um encontro na Casa Branca, após o ucraniano prometer conduzir a investigação sobre Biden e seu filho Hunter, que trabalhou na diretoria de uma empresa de gás ucraniana quando o pai era vice-presidente dos Estados Unidos.

A conversa fez com que uma fonte da comunidade de inteligência estadunidense denunciasse de forma anônima o comportamento inadequado do presidente, que coloca em situação de vulnerabilidade a segurança dos EUA e configura interferência estrangeira nas eleições presidenciais do próximo ano. A Direção Nacional de Inteligência deveria repassar a denúncia ao Congresso, mas não o fez.

No telefonema, Trump inicia sua fala parabenizando Zelensky pela vitória eleitoral no país da Europa Oriental. Isso posto, o americano muda de assunto de maneira célere e passa a pressionar o homólogo para que inicie investigação sobre seus adversários políticos, o que sugere teoria da conspiração.

Em clara atitude que configura abuso de poder, Trump trata da existência de servidores de e-mail ucranianos que podem comprometer Hillary Clinton, ao mesmo tempo em que aborda suposta investigação do caso, na Ucrânia, por parte do promotor especial Robert Mueller.

“Gostaria que meu procurador-geral ligasse para o seu pessoal e gostaria que você fosse a fundo nisso”, disse Trump.


Nesse ponto da conversa, o presidente americano passa a falar de Joe Biden, que por enquanto lidera a corrida democrata para ser o candidato do partido para disputar a eleição presidencial em 2020.

“Estão falando muito sobre o filho de Biden. Que Biden parou uma investigação. Muitas pessoas querem descobrir algo sobre isso. Então o que você puder fazer com o procurador-geral seria ótimo”, afirmou Trump, de acordo com a transcrição do conteúdo do telefonema. “Biden saiu se vangloriando que ele parou a investigação então se você puder examinar isso… me parece horrível.”

Wolodymyr Zelensky responde que seu candidato a procurador-geral na Ucrânia examinaria o caso de Biden. “Ele vai olhar o caso, especificamente a empresa que você mencionou na questão”, diz o presidente ucraniano.

Casa Branca descarta oferta de ajuda financeira

Segundo assessores da Casa Branca, a transcrição do telefonema revela que Trump em nenhum momento condicionou o início da investigação a uma eventual ajuda financeira do governo americano à Ucrânia. Quando Trump pergunta a Zelensky como os Estados Unidos podem ajudar a Ucrânia, o chefe do governo de Kiev diz que gostou das sanções impostas à Rússia por Washington.

A presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, anunciou, na terça-feira (24), a adoção das medidas iniciais para o impeachment de Donald Trump. Ela abrirá investigação formal para determinar se Trump pode ser afastado do cargo. Os democratas acusam o presidente de usar o cargo para perseguir um adversário político, o que prevê punição de acordo com a legislação do país.

“O presidente precisa ser responsabilizado pelos seus atos”, disse Pelosi. “Ninguém está acima da lei”, completou a democrata. A aprovação de um processo de impeachment requer ao menos 218 votos, sendo que até o momento 206 deputados democratas já declararam apoio à medida.