Bolsonaro abusa da covardia ao dizer que ataque a ONGs foi “discurso político”, mas PF revela a verdade

Nada há de pior no ser humano do que a covardia, algo que ganha contornos superlativos quando envolve políticos e governantes. Todos sabem que o presidente Jair Bolsonaro é movido pela covardia, traço de personalidade típico de fanfarrões e desprovidos de intelectualidade, mas pelo fato de estar à frente da nação deveria pelo menos recorrer à coerência, mesmo que isso represente um esforço hercúleo.

Sem ter como cumprir as promessas de campanha, Bolsonaro abusa do revanchismo ideológico para evitar deserções na massa ignara que o apoia. Para tal, modula suas declarações na frequência do absurdo, como se o País fosse obrigado a engolir suas estultices.

Por ocasião das queimadas na Amazônia, assunto que deflagrou uma crise ambiental de alcance internacional, o presidente acusou as ONGs de estarem por trás da ação criminosa. A declaração tinha o claro objetivo de demonizar as organizações, que, na opinião do presidente, são instrumentos da esquerda.

Governar um país é tarefa que não pode ser executada de forma amadorística, situação que torna-se ainda mais perigosa quando o governante chafurda na vala da ignorância. Bolsonaro foi instado pelo Supremo Tribunal federal (STF) para explicar sua declaração em relação às ONGs, mas, como esperado, abusou da covardia e afirmou, em manifestação enviada à Corte, que que tudo não passou de “discurso político”.

“Considero que não fui dúbio ou ambíguo. Em verdade, fui genérico. Isso porque, referida declaração não teve destinatário certo e específico, isto é, não se referiu a alguma ONG determinada ou concretamente determinável”, respondeu o presidente ao Supremo.

Sempre agarrado às chicanas jurídicas, pois só assim consegue escapar da ilegalidade, Bolsonaro foi além: “Apenas proferi discurso político, sem qualquer conteúdo ilícito, com fundamento, repita-se, no meu direito fundamental de livre manifestação do pensamento.”


É fato que a livre manifestação do pensamento é um direito garantido pela Constituição a todo cidadão, mas na condição de chefe do Executivo Bolsonaro deveria reavaliar seus discursos. Talvez fosse o caso de ficar em silêncio e governar, algo que, passados dez meses, ainda não aconteceu.

Como vem afirmando o UCHO.INFO desde o início da crise ambiental, as queimadas na Amazônia e em outros biomas foram orquestradas por fazendeiros, empresários e produtores rurais, levadas a cabo pelos criminosos do campo, em especial os piratas da madeira e garimpeiros ilegais.

A Polícia Federal, em investigação sobre o escândalo, concluiu, através da análise de mensagens trocadas pelo aplicativo WhatsApp, que o “Dia do Fogo” – nome dado à ação criminosa – foi organizado por grupos de WhatsApp, como “Sertão”, “Dia D” e “Dia 10”. Além de empresários e fazendeiros, participam desses grupos de mensagens autoridades, inclusive policiais civis.

No final de agosto, a Polícia Civil do Pará abriu inquérito para investigar ameaças ao jornalista Adécio Piran, do jornal Folha do Progresso, após publicação de matéria sobre o “Dia do Fogo”. No dia 2 de setembro, os investigadores concluíram que o responsável pelas ameaças é o administrador de um grupo de mensagens denominado “Direita Unida Renovada”.

Os discursos de Jair Bolsonaro sobre questões ambientais soaram como valsa nos ouvidos dos criminosos do campo, que partiram para a ação certos da impunidade. É preciso que o cidadão reconheça que no Brasil é impossível eleger-se presidente da República com gastos de aproximadamente R$ 4 milhões.

Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto com o apoio de diversos setores da sociedade a começar pelos ruralistas, que despejaram na campanha do então candidato não apenas esperança. Por conta disso, agora cobram a contrapartida, até porque na política ninguém madruga para benemerência. Ou seja, o escambo é diuturno.