Bolsonaro diz respeitar a democracia, mas lamenta a eleição do peronista Alberto Fernández na Argentina

Circulando pelo planeta como se fosse a derradeira solução para os problemas da Humanidade, Jair Bolsonaro é um despreparado que sequer leu a Constituição enquanto esteve deputado federal. Agora na Presidência da República, Bolsonaro, que prometeu respeitar a Carta Magna, desrespeita o texto constitucional com a mesma frequência com que atira contra a opinião pública seus recorrentes destampatórios.

Na primeira parte da Constituição, especificamente no artigo 4º, a Carta estabelece que o Brasil, no que tanges as relações internacionais, deve respeitar alguns princípios, entre os quais o que defende a “cooperação entre os povos para o progresso da humanidade” (inciso IX). No parágrafo único do mesmo artigo, a Constituição é clara ao determinar: “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”.

Analisados e interpretados os mencionados trechos da Carta, algo que dispensa doses extras de massa cinzenta, não é difícil perceber que a atitude de Bolsonaro de criticar o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, é fruto de monumental incapacidade para o diálogo e de profundo desrespeito pela democracia. Se o povo argentino decidiu que o melhor dos presidenciáveis era Fernández, não cabe a Bolsonaro tecer críticas e condenar a eleição no país vizinho.

Jair Bolsonaro insiste em governar apenas para os que o adulam de maneira irresponsável e rezam pela cartilha da extrema direita, como se a democracia não contemplasse e dependesse de todas as correntes ideológicas.


“Eu lamento. Não tenho bola de cristal, mas acho que os argentinos escolheram mal. O primeiro ato do Fernández foi ‘Lula livre’, dizendo que ele está preso injustamente. Já disse a que veio, sem contar que tem gente da esquerda lá”, disse Bolsonaro ao deixar os Emirados Árabes Unidos. “Não pretendo parabenizá-lo, mas não vamos nos indispor. Vamos esperar o tempo para ver qual a posição real dele na política”, completou.

Nesta segunda-feira (28), horas depois da divulgação do resultada da eleição presidencial argentina, Bolsonaro disse, no Qatar, que considerava uma afronta à democracia brasileira o gesto feito por Alberto Fernández em apoio ao movimento “Lula Livre”.

“É uma afronta à democracia brasileira e ao sistema judiciário brasileiro. Ele está afrontando o Brasil de graça”, declarou o presidente da República. Jair Bolsonaro tem o direito à livre manifestação do pensamento, como garante a Carta Magna, mas não pode ser infantil em termos diplomático a ponto de fazer birra por conta de contrariedades ideológicas.

Que o presidente brasileiro não consegue existir longe do revanchismo ideológico todos sabem, mas é preciso equilíbrio e ponderação no trato de temas de interesse do País. Além disso, o fato de Alberto Fernández ter feito com a mão o sinal de “Lula Livre” não configura afronta à democracia brasileira.

Ademais, se o assunto é afronta à democracia, que Bolsonaro pare de exaltar a memória do “torturador-geral da República”, Carlos Alberto Brilhante Ustra, que agiu como verdadeiro facínora enquanto esteve à frente do DOI-Codi, em São Paulo, durante a ditadura militar.