Peronista Alberto Fernández vence eleição presidencial na Argentina

Em meio a amplo e notório descontentamento devido à crise econômica na Argentina, Alberto Fernández venceu a eleição presidencial e consagrou o retorno da centro-esquerda peronista à Casa Rosada. Em discurso de vitória, o presidente eleito adiantou que os tempos que virão “não serão fáceis”.

O atual presidente, Mauricio Macri, reconheceu a esperada derrota na eleição realizada no domingo (27) e disse ter telefonado para parabenizar Fernández pela vitória e convidá-lo para um café da manhã nesta segunda-feira, a fim de iniciarem um “período de transição ordenada”.

Com 96,82% das mesas contabilizadas na apuração extraoficial, realizada pelo Ministério do Interior, Macri contava 40,50% dos votos, contra 47,98% de Fernández. Com isso, estava claro que o candidato peronista, que tem como vice em sua chapa a ex-presidente Cristina Kirchner, manteria um percentual acima do limite de 45%, evitando a necessidade de um segundo turno.

Os argentinos também elegeram 130 deputados e 24 senadores no Congresso, além de alguns prefeitos e governadores. A coalizão Frente de Todos, de Fernández, ficou com 64 dos 130 assentos para deputados e 13 dos 24 para senadores, enquanto a coalizão de Macri levou 56 cadeiras na Câmara e oito no Senado.

Diante de uma multidão de simpatizantes na sede da coalizão Frente de Todos, no bairro de Chacarita, em Buenos Aires, Fernández convocou os argentinos a se unirem a seu projeto de governo para enfrentar os tempos vindouros que, segundo ele, “não serão fáceis”, em referência à crise econômica que assola o país sul-americano.

O discurso de Fernández girou em torno do consenso e da união. Ele ressaltou que sua coalizão “não é a frente de nós, é a Frente de Todos, nascida para incluir todos os argentinos”.

“Sabem que até 10 de dezembro o presidente é o presidente Macri. Vamos colaborar em tudo o que pudermos colaborar, porque a única coisa que nos preocupa é que os argentinos deixem de sofrer de uma vez por todas”, afirmou.

O presidente eleito aproveitou para pedir ao atual governo para que, quando passar à oposição, “seja consciente do que deixou” e “ajude a reconstruir o país das cinzas”. “Tomara que passem a ter esse compromisso de diálogo que nunca tiveram”, acrescentou.


Fernández reassumiu o compromisso de cumprir todas as propostas que fez durante a campanha eleitoral, entre elas reativar a economia e gerar empregos como saídas para tirar o país da crise.

“Daqui em diante só nos resta cumprir o prometido. Saibam os argentinos que cada palavra que demos e cada compromisso que assumimos foi um compromisso moral e ético sobre o país que devemos cumprir”, declarou.

Além disso, ele lembrou o nono aniversário de morte do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2010), marido de sua companheira de chapa, Cristina. “Não seria justo que hoje eu não reconhecesse o que ele fez por nós e a enorme possibilidade que ele me deu”, afirmou Fernández, que foi chefe de gabinete de Kirchner.

Por sua vez, em discurso diante de simpatizantes reunidos na sede da campanha da coalizão Juntos pela Mudança, no bairro de Palermo, o presidente Macri parabenizou Fernández e disse que havia acabado de falar com ele sobre “a grande eleição que fizeram”.

“O convidei para tomarmos um café da manhã na Casa Rosada, porque há de começar um período de transição ordenada que leve tranquilidade a todos os argentinos. Porque, aqui, a única coisa importante é o futuro e o bem-estar dos argentinos”, destacou. Fernández confirmou sua ida à sede da presidência.

No cargo até 10 de dezembro, Macri garantiu que ele e sua equipe defenderão os valores nos quais acreditam, como “a verdade, o diálogo, o respeito pelo outro, a honestidade, a decência”, assim como “a paz e a liberdade” e o compromisso de cuidar da democracia e da República.

“Sempre colocarei o bem comum acima de qualquer coisa”, frisou. Macri declarou que sua legenda exercerá uma “oposição saudável, construtiva e responsável” e que após o muito que foi aprendido nos últimos anos, a próxima etapa “também será uma aprendizagem”.

Macri chegou ao poder em 2015 com a promessa de liberalização e crescimento econômico. Em vez disso, a Argentina rumou a uma profunda recessão, com a inflação anual superior a 50% e um terço da população abaixo da linha da pobreza.

A crise econômica ficou mais severa em 2018, quando o peso argentino perdeu cerca de metade de seu valor. Macri se viu forçado a selar um acordo de mais de US$ 55 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e impor um doloroso programa de austeridade.

Muitos culpam as políticas apoiadas pelo FMI por levar a Argentina em 2001 à pior crise econômica da história do país, quando o governo deixou de quitar suas dívidas após vários anos de recessão. (Com agências internacionais)