Ao vetar carne brasileira, EUA confirmam que Trump prometeu muito mais do que deveria a Bolsonaro

A lua de mel entre Jair Bolsonaro e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ficou pelo caminho, até porque tudo o que se viu nos últimos meses não passou de mera encenação do inquilino da Casa Branca, que aproveitou o populismo barato do homólogo brasileiro para reforçar seu discurso radical.

Depois de o governo norte-americano não apoiar a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), promessa que Bolsonaro usou como “troféu”, a gestão Trump impôs novo revés ao Palácio do Planalto ao negar a reabertura do seu mercado interno para carne bovina in natura de origem brasileira.

O tema das exportações havia sido tratado entre Bolsonaro e Trump, em março passado, durante visita oficial do brasileiro a Washington. Na ocasião foi acertada a viagem de um grupo de fiscais do Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos para auditar o sistema de inspeção de carne bovina do Brasil.

À época, os brasileiros fizeram uma série de concessões aos americanos, concordando em comprar carne suína dos EUA e abrindo cota para importação de trigo e aumentando o limite para a entrada de etanol americano no Brasil.

Além disso, o governo Bolsonaro concordou em abdicar do status de país em desenvolvimento nas negociações junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), tratamento diferenciado que prevê benefícios para países emergentes durante negociações com nações desenvolvidas.

Contudo, as concessões não se traduziram em mudança na postura americana em relação à carne bovina in natura brasileira, frustrando os membros do governo de Jair Bolsonaro, que continuam agindo à sombra da ideologia, quando deveria se pautar pelo binômio lógica e prudência.

Após a inspeção, os fiscais americanos pediram informações adicionais ao governo brasileiro, destacando a necessidade de nova inspeção no Brasil sobre a qualidade da carne. Mesmo assim, os americanos não informaram a data em que acontecerá a nova inspeção.


Somente após essa nova inspeção é que haverá a possibilidade de levantamento das barreiras contra a carne brasileira nos EUA. Esse procedimento, que é marcado pela burocracia, demorará pelo menos um ano.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ficou decepcionada com o conteúdo do relatório, já que, segundo ela, todas as informações solicitadas pelo governo dos EUA foram atendidas e esclarecidas.

Os EUA suspenderam a compra de carne bovina in natura do Brasil em 2017, logo após a “Operação Carne Fraca”, da Polícia Federal, que revelou esquema de adulteração da carne vendida no mercado interno e externo. Desde então, exportadores brasileiros tentam pressionar pela reabertura do mercado americano.

Só promessas

No final de setembro, um levantamento feito pela Câmara Americana de Comércio já havia apontado que apenas dois de 13 compromissos firmados em março entre Bolsonaro e Trump haviam sido concretizados. Entre eles estavam a designação do Brasil como aliado extra-OTAN pelos americanos e a medida unilateral do governo brasileiro de isentar turistas dos EUA da necessidade de visto.

Em outro ponto, a Casa Branca, no pedido que apresentou para discutir a ampliação do grupo que integra a OCDE, deixou de sugerir o Brasil como novo membro, apoiando, momentaneamente, apenas a candidatura da Argentina e da Romênia.

Após a repercussão negativa para o governo de Jair Bolsonaro, o Palácio Planalto foi célere ao minimizar o não cumprimento da promessa de Trump, afirmando que os americanos continuavam a apoiar a candidatura brasileira à OCDE.

Donald Trump também seguiu o mesmo discurso, afirmando que Washington continuava promovendo o ingresso do Brasil na OCDE, mas a Casa Branca não especificou quando de fato formalizaria o anunciado apoio.