Reforma administrativa: Bolsonaro diz não ter pressa, mas governo teme eventual intifada de servidores

Ao longo da corrida presidencial de 2018, o UCHO.INFO afirmou que as promessas feitas pelo então candidato Jair Bolsonaro eram, em sua extensa maioria, inexequíveis. Postura idêntica temos mantido desde o início do atual governo, pois o discurso supostamente moralizador do presidente da República, adotado nos primeiros dias após a posse, ficou pelo caminho. Isso porque política é a arte de se equilibrar sobre os pilares das dificuldades e das adversidades.

Sem estofo para o cargo de presidente da República e órfão de doses rasas de competência, Bolsonaro é o que se conhece como “mais do mesmo”, pois age e decide sempre de olho em um projeto de poder, algo que mereceu suas críticas enquanto bombardeava seus adversários políticos e ideológicos.

A questão da reforma administrativa, que, se levada adiante, privilegiaria a isonomia entre os cidadãos, acabou perdendo força, mesmo tendo sido anunciada com pompa e circunstância pelos palacianos. Essa decisão de Bolsonaro, que agora afirma não ter pressa em relação ao tema, decorre de um conjunto de possíveis situações capaz de comprometer os planos da família presidencial.

Ao dizer que a reforma administrativa será mais branda e, quando aprovada, valerá apenas para os servidores que ingressarem na máquina estatal no futuro, Jair Bolsonaro revelou ser uma falácia o discurso de que “faria tudo novo e de um jeito diferente”.


Esse recuo em relação à remodelação da máquina administrativa federal se deve ao fato de que o governo, que está fragilizado no Congresso Nacional, como sempre esteve, não tem disposição para enfrentar uma derrota acachapante no Parlamento, pois, como sempre afirmou este portal, os servidores são extremamente organizados e sabem como exercer pressão sobre os parlamentares.

Outro ponto que levou o governo a recuar foi a possibilidade de os servidores recorrerem à Justiça sob a alegação de “direito adquirido”, caso a mencionada reforma prospere no Congresso. Por mais mirabolantes que sejam as justificativas do governo, que precisa buscar o ajuste fiscal, a derrota na Justiça é dada como certa.

Também pesou na decisão do Palácio do Planalto de recuar em relação à reforma administrativa foi o plano político-partidário de Bolsonaro, que com a criação de uma nova legenda pretende eleger vários prefeitos nas eleições municipais de 2020. Como se sabe, em ano de eleição o melhor é manter a devida cautela ao propor temas polêmicos, já que uma rebelião do funcionalismo pode ter efeitos devastadores. Esse movimento poderia paralisar a máquina federal, o que representaria verdadeiro desastre para um governo que ainda não mostrou a que veio.

Além dos pontos acima abordados, o temor do governo diante de possível onda de protestos por parte dos servidores, a exemplo do que ocorre no Chile, foi preponderante para que a proposta de reforma administrativa fosse amenizada às pressas. É importante ressaltar que, recentemente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, disse em entrevista que uma eventual radicalização da esquerda seria contida com a edição de um novo AI-5. Um devaneio típico de totalitaristas e que não encontra abrigo no Estado Democrático de Direito.

A questão é que um protesto de servidores federais não poderia ser considerado uma ação da esquerda, mas de setores da sociedade desejosos de externar a insatisfação com um governo que muito promete, mas pouco faz (talvez nada). Na política, assim como na vida, deve sempre prevalecer o ditado popular “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.