Novo partido de Bolsonaro é misto de declaração de amor ao fascismo com deboche à sociedade

Nada pode ser mais “fascistóide” do que o partido criado pelo presidente Jair Bolsonaro, o Aliança Pelo Brasil, legenda que consegue ser ainda mais à direita do que a deplorável Arena (Aliança Renovadora Nacional), criada em 1965 para dar suporte ao golpe militar ocorrido um ano antes.

A desfaçatez de Bolsonaro e seus quejandos mais uma vez se fez presente durante evento de lançamento do Aliança, nesta quinta-feira (21), em um hotel de luxo da capital federal. O presidente da República, que continua sendo um digno representante da “velha política”, ousou concordar com o manifesto da nova legenda, que por enquanto não está oficializada pela Justiça Eleitoral.

No documento, o Aliança destaca que o partido “é o sonho e a inspiração de pessoas leais ao presidente Jair Bolsonaro, de unirmos o país com aliados em ideais e intenções patrióticas”. Para começar, Bolsonaro precisa aprender o estrito significado de patriotismo, pois cantar o Hino Nacional com “cara de poucos amigos” e a mão espalmada sobre o lado esquerdo do peito está longe de ser atitude patriótica. É jogo de cena da pior qualidade, para não afirmar que é mais um embuste oficial.

No manifesto, o Aliança Pelo Brasil ressalta que o objetivo da sigla é “livrar o país dos larápios, dos ‘espertos’, dos demagogos e dos traidores que enganam os pobres e os ignorantes que eles mesmos mantêm, para se fartar.”

Pois bem, já que o assunto é larápio, causa espécie o fato de Flávio Bolsonaro, senador pelo Rio de Janeiro, ter sido indicado como vice-presidente do partido, pois o escândalo das “rachadinhas”, que tem na proa ninguém menos que Fabrício Queiroz, continua sendo abafado a todo custo pela guarda pretoriana do Palácio do Planalto. Isso posto, não merece crédito um partido que ao mesmo tempo em que defende o fim dos larápios indica à vice-presidência alguém que está no centro de um esquema criminoso. Sem contar o depósito de R$ 96 mil em dinheiro na conta de Flávio Bolsonaro, feito no caixa eletrônico em envelopes com R$ 2 mil cada, e sua meteórica evolução patrimonial.

O manifesto lembra que a legenda propõe uma aliança com “as famílias, com as pessoas de bem, com os trabalhadores, com os empresários, com os militares, com os religiosos e com todos aqueles que desejam um Brasil realmente grande, forte e soberano”.

Discurso tosco que sequer consegue traduzir a realidade dos bastidores. Ademais um partido que objetiva uma aliança “com as famílias e as pessoas de bem”, não pode ter no posto de secretário-geral o advogado Admar Gonzaga.

Ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Admar Gonzaga é réu em ação penal por violência doméstica. O novo escudeiro de Bolsonaro agrediu com um soco no rosto a ex-mulher, Élida Souza Matos.


Covarde, culpou enxaguante bucal por olho roxo

Em 2017, Admar Gonzaga teria solicitado ao também advogado Alexandre Luiz Amorim Falaschi para contratar um investigador particular com o objetivo de seguir sua mulher, Élida Souza Matos. Essa informação consta do depoimento de Falaschi prestado à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM) de Brasília. O detetive Ailton Francisco Ferreira afirmou, em depoimento, ter instalado um rastreador no carro de Élida. Em julho de 2017, a esposa de Admar Gonzaga registrou boletim de ocorrência acusando o então ministro do TSE de agressão, mas em seguida retirou a queixa.

Em novembro de 2017, a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, denunciou Admar ao Supremo Tribunal Federal (STF) por lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher.

De acordo com o laudo de exame de corpo de delito, houve “ofensa à integridade corporal ou à saúde”, e o meio que produziu essa ofensa foi “contundente”. Atendida no IML, Élida apresentava “edema e equimose violácea em região orbital direita”. Ela alegou ter sido agredida com empurrões.

Na defesa que enviou ao STF em outubro de 2017 (agora o processo está na primeira instância), o ministro Admar relatou que a mulher havia recebido a notícia de uma doença, ingerido bebida alcoólica sem se alimentar e uma crise de ciúmes acabou desencadeando a briga entre os dois. Gonzaga confirmou que empurrou a mulher, mas disse que o fez em sua defesa e “que o movimento não foi empregado como meio deliberado de agressão”. Covarde, ressaltou que seus movimentos foram em defesa própria.

“Não são fatos, mas a versão expressada por uma pessoa acometida de grave crise de ciúmes, e que havia degustado algumas taças de vinho a mais, sem o acompanhamento de adequada alimentação. Assim como agravante para a desestabilidade emocional, sucedeu-se a descoberta de doença autoimune, denominada esclerodermia, conforme já revelado em petição da própria requerente, muito atormentada pela exposição que estamos sofrendo”, alegou.

Admar Gonzaga também deu ao STF explicações sobre o hematoma no olho de sua esposa, que consta do laudo do IML de Brasília. Alegou que Élida escorregou em um enxaguante bucal e bateu o rosto na banheira. “Tal lesão, pelo que me recordo, foi causada pelo tombo que se sucedeu ao escorregão que sofreu sobre o Listerine, e que a levou a bater com o rosto na banheira, mas jamais em face do alegado empurrão em seu rosto.”

“Peixe” do presidente

Admar Gonzaga já advogou para Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), conhecido como “Pitbull” ou “Zero Dois”, garantindo na Justiça o direito do filho do presidente da República de concorrer ao cargo de vereador no início de carreira, aos 17 anos. Em 2000, Carlos tornou-se o mais jovem vereador da história do Brasil. O próprio Jair Bolsonaro já chamou Admar de “meu peixe” perante interlocutores.

Considerando que Bolsonaro é misógino declarado e Admar Gonzaga é réu por violência doméstica, nada melhor do que um partido político movido a radicalismos e falácias para unir os iguais.