“Rachadinhas”: Jair Bolsonaro deve explicações sobre depósito de Queiroz na conta da primeira-dama

Demorou, mas acabou acontecendo. Flávio Bolsonaro, senador pelo Rio de Janeiro e filho do presidente da República, afundou de vez no lamaçal que move o escândalo das “rachadinhas”, cujo timoneiro é Fabrício Queiroz, seu ex-assessor de gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

O burburinho decorrente do esquema criminoso permaneceu no acostamento durante quatro meses por conta de decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, que seguiu o que determina a Constituição Federal em relação à quebra de sigilo, mas o plenário da Corte optou por liberar o compartilhamento de informações financeiras por órgãos como Coaf e Receita Federal.

Com a decisão do plenário do STF, Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz retornaram à mira do Ministério Público fluminense, que deflagrou operação de busca e apreensão em endereços dos envolvidos no esquema das “rachadinhas”. Entre os alvos, parentes de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro. São eles: José Procópio Valle, ex-sogro de Bolsonaro; Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada de Bolsonaro; Francisco Diniz e Juliana Vargas, primos de Ana Cristina; Daniela Gomes, Guilherme dos Santos Hudson, Ana Maria Siqueira Hudson, Maria José de Siqueira e Silva e Marina Siqueira Diniz, tios de Ana Cristina.

Endereços ligados a Queiroz também foram alvos de buscas. Os investigadores ainda tinham mandados contra a mulher de Queiroz, Marcia Aguiar, e sua enteada, Evelyn Mayara. Todos estiveram lotados no gabinete de Flávio em diferentes momentos de seu mandato como deputado na Alerj.

A origem da relação de Queiroz com o clã Bolsonaro é o presidente da República. Os dois se conhecem desde 1984 e pescavam juntos em Angra dos Reis. Nesse turbilhão de escândalos, Fabrício depositou R$ 24 mil na conta de bancária da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Em explicação nada convincente, o presidente da República disse que havia emprestado R$ 40 mil a Queiroz e que o tal depósito referia-se ao pagamento de parte do empréstimo. Contudo, nem Bolsonaro nem Michelle declararam ao Imposto de Renda as operações financeiras em questão.

Com o avanço das investigações, o MP do Rio de Janeiro descobriu que contas bancárias controladas pelo miliciano Adriano da Nóbrega (ex-capitão da PM e um dos fundadores do “Escritório do Crime) foram utilizadas por Fabrício Queiroz no âmbito das “rachadinhas”, esquema criminoso operado antigo gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro na Alerj.

Os procuradores chegaram a essa conclusão a partir de dados obtidos com a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Queiroz e da mulher de Adriano, Danielle Mendonça da Nóbrega, ex-assessora de Flávio na Alerj.

Adriano da Nóbrega comanda a milícia que atua na comunidade de Rio das Pedras, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, onde Flávio Bolsonaro venceu em 95% das seções eleitorais como candidato a senador. Como na política inexistem coincidências e pessoas dispostas à benemerência, os Bolsonaro devem explicações aos brasileiros.