De cabeça para baixo

(*) Carlos Brickmann

Jornais e noticiosos de TV estão magrinhos, as revistas se dedicam, na falta de coisas ainda mais chatas, às retrospectivas. Vejamos, pois, a Internet. No mínimo é divertido. Há um cavalheiro, por exemplo, que garante que Flávio Bolsonaro vai dinamitar todas as acusações que sofreu: um dia desses, dará entrevista coletiva na qual provará que Fabrício Queiroz é agente do PT, infiltrado na família Bolsonaro para desmoralizá-la. Recebia dinheiro do PT para depositá-lo na conta de pessoas da família, sem que estas percebessem.

Este colunista sempre sonhou em voltar de uma viagem e encontrar seu apartamento integralmente reformado, com extremo bom gosto, por conta de amigos desinteressados e generosos. Também sonha ter inimigos infiltrados, de preferência em grande número, depositando dinheiro à vontade em sua conta bancária. Nada: quem foi que disse que o Sol nasceu para todos?

Escrever essas coisas não é difícil. Mas deveria ser difícil achar quem nelas acreditasse. Pois há quem acredite, também, e adicione comentários.

E, no Estado americano de Virgínia, o polemista Olavo de Carvalho acusa o pessoal da Porta dos Fundos de jogar coquetéis Molotov nas instalações da Porta dos Fundos. Pode ser? Neste mundo tudo é possível – mas o atentado foi gravado em vídeo e por ele é possível chegar ao dono de algum dos carros. Se a Polícia, pertinho do crime, com o vídeo em mãos, ainda não pegou ninguém, como se pode identificar o criminoso a dez horas de voo?

Surpresa!

A deputada mais votada do país, Janaína Paschoal, é filiada ao PSL, pelo qual Bolsonaro se elegeu; foi convidada por Bolsonaro para vice. E é dela a mais contundente opinião sobre Flávio Bolsonaro: acha que ele cometeu crime, sim. “Ao que tudo indica, infelizmente, Flávio cometeu peculato, usou funcionários para desviar dinheiro público”. Janaína aparentemente concorda com a tese de que Flávio Bolsonaro tem sido mais visado que outros colegas de Assembleia. Pede que o Ministério Público faça com outros da lista da Assembleia fluminense o que faz com Flávio. Janaína é a pessoa mais próxima de Bolsonaro a dizer que há crime a ser julgado.

Confusão próxima

Como será aplicada a lei anticrime, que criou o juiz de instrução? Há quem diga que o processo de Flávio Bolsonaro não mais poderá ser julgado pelo juiz Flávio Itabaiana. Há quem diga que o caso já está com Itabaiana, desde antes da nova lei, e que a ele caberá concluir o processo. O Conselho Nacional de Justiça criou grupo de trabalho para debater o tema, com prazo até 15 de janeiro. O juiz de instrução deve comandar o inquérito, e não poderá julgar o caso. Os críticos da lei dizem que não haverá juízes para preencher os novos cargos.

Moro, o compreensivo

Sergio Moro, que assumiu a Justiça e Segurança Pública com poderes, dizia-se, de superministro, sofreu mais uma derrota quando o presidente se recusou a vetar na lei anticrime o dispositivo que criou o cargo de juiz de instrução. Mas, como nas derrotas anteriores, não reagiu. Dizia-se que Bolsonaro manteve o dispositivo para tirar o juiz Flávio Itabaiana do julgamento do filho, mas não há certeza sobre a aplicação do novo sistema.

Gugu, de meu bem a meus bens

Rose Miriam, mãe dos filhos de Gugu Liberato, que não foi contemplada em seu testamento, disse que está disposta a lutar para ser a inventariante do caso. Além disso, quer que seja reconhecida uma união estável, que lhe permitiria reivindicar parte dos bens de Gugu – embora tenha comparecido à leitura do testamento e concordado com seu cumprimento imediato. O advogado Carlos Eduardo Farnesi Regina, que trabalhou com Gugu por mais de 15 anos e representa a família, coloca sua posição, em nome dos herdeiros:

“Representei os interesses de Gugu Liberato como advogado por mais de 15 anos e agora represento a família em seu espólio. Gugu deixou um testamento que foi lido em ato solene na presença de dois tabeliães e de todos os beneficiados. Nessa mesma reunião realizada, todos os presentes, inclusive Rose Miriam, acompanhada de seu irmão, concordaram com o cumprimento imediato da última vontade do apresentador e conferiram a mim a incumbência de promover o inventário, agora sob sigilo judicial.

“Causa espanto que atos públicos e realizados a luz do dia sejam tratados como coação, enquanto atos praticados na calada da noite em residências sejam admitidos como normais. Todas as minhas reuniões com meus clientes foram diurnas, abertas e por mim gravadas com o conhecimento dos presentes. As mensagens trocadas foram registradas e arquivadas de forma a preservar a transparência, legalidade e sigilo do inventario e da relação cliente/advogado. “Minha função foi, é e continuará sendo preservar, proteger e fazer cumprir a última vontade de Augusto Liberato, manifestada em benefício de seus filhos e sobrinhos.”

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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