Milhares de iranianos se despedem do general Qasem Soleimani, morto em bombardeio no Iraque

Centenas de milhares de cidadãos vestidos de preto encheram as ruas de Teerã nesta segunda-feira (6) nas cerimônias em homenagem ao principal comandante militar iraniano Qasem Soleimani, morto em ataque americano em Bagdá. De acordo com a televisão estatal iraniana, o contingente de participantes teria alcançado a marca dos milhões. O governo decretou feriado na capital iraniana para garantir o maior número possível de pessoas no ato fúnebre.

Empunhando retratos do militar, a multidão se reuniu na Universidade de Teerã antes que o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, presidisse orações pelo general morto.

Soleimani, de 62 anos, era líder da poderosa Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária iraniana, responsável pelo serviço de inteligência e por conduzir operações militares secretas no exterior. Ele foi morto em um ataque aéreo americano que atingiu o veículo em que estava nas imediações do aeroporto de Bagdá. O assassinato aumentou as tensões entre Teerã e Washington, que há muito não era dos melhores.

O governo do Irã divulgou comunicado, no domingo (5), informando que deixará de cumprir “quaisquer limitações” impostas ao programa nuclear do país pelo acordo assinado em 2015 com o G5+1 (França, Reino Unido, Alemanha, China, Rússia e Estados Unidos), já enfraquecido desde que Washington decidiu abandonar o pacto em maio de 2018.

A multidão em Teerã mostrada pela televisão estatal parecia ser a maior desde o funeral do fundador da República Islâmica, aiatolá Ruhollah Khomeini, em 1989.

Ali Khamenei pareceu chorar enquanto rezava diante dos caixões cobertos de bandeiras que continham os corpos de Soleimani e outros cinco “mártires” mortos no ataque americano. A voz do líder falhou de emoção quando ele orava, forçando-o a fazer uma pausa.

O líder supremo foi ladeado pela filha de Soleimani, o substituto do general morto como comandante da Força Quds, Esmail Qaani, o presidente iraniano, Hassan Rohani, o presidente do Parlamento, Ali Larijani, e o principal comandante da Guarda, general Hossein Salami.

“As famílias de soldados americanos no Oriente Médio passarão os dias esperando a morte de seus filhos”, disse a filha de Soleimani, Zainab. “O louco do Trump que não pense que tudo acabou com o martírio de meu pai”, acrescentou. Zainab também afirmou que os Estados Unidos e seu aliado Israel enfrentarão um “dia sombrio” em resposta à morte do general.

As pessoas rezaram junto com Khamenei e gritavam “morte aos EUA”. Um cartaz erguido por uma das pessoas dizia “é nosso direito buscar uma vingança severa”, ecoando comentários de líderes políticos e militares iranianos.

Muitos iranianos consideravam Qasem Soleimani, veterano da guerra de oito anos contra o Iraque, um herói nacional. Além disso, o general era a segunda figura mais poderosa do Irã, depois de Khamenei.

Os caixões de Soleimani e de Abu Mehdi al-Muhandis, líder da milícia iraquiana Forças de Mobilização Popular [Hachd al-Chaabi], que também foi morto no ataque da última sexta-feira (3), foram envoltos em suas bandeiras nacionais e passaram de mão em mão sobre as cabeças dos participantes do cortejo no centro de Teerã.

A vasta procissão, mostrada nas imagens da televisão bloqueando ruas inteiras da capital, começou na Universidade de Teerã e se movimentou em direção à Praça Azadi (Praça da Liberdade). Enquanto marchavam, os participantes gritavam “morte aos EUA” e “morte a Israel”, empunhando bandeiras do Iraque, do Líbano, e bandeiras de cor vermelha, considerada a cor dos mártires no Irã.

O corpo Soleimani chegou ao Irã no domingo. Após um cortejo nas ruas de Bagdá, o esquife foi transportado para a província iraniana do Khuzistão, na fronteira com o Iraque e, no mesmo dia, foi transportado em carro aberto pelas ruas da cidade de Ahvaz, no sudoeste iraniano e na cidade sagrada de Mashhad, no nordeste do país, antes de chegar a Teerã. O enterro está agendado para a terça-feira (7) em Kerman, cidade natal do comandante. (Com agências internacionais)