Em discurso morno, Trump vendeu imagem de vitorioso, falou em paz e anunciou novas sanções ao Irã

Na noite de terça-feira (7), após os bombardeios da Guarda Revolucionária iraniana a duas bases militares utilizadas pelos Estados Unidos no Iraque (base de Ain Al-Assad, no oeste do Iraque, e de Irbil, no norte), o presidente Donald Trump, que prometera fazer um pronunciamento à nação, acabou recorrendo à sua conta no Twitter para, minimizando os ataques, afirmar “tudo está bem”. “Até agora, tudo bem”, tuitou o americano às 23h50 de terça-feira (horário de Brasília).

“Mísseis lançados pelo Irã em duas bases militares no Iraque. Avaliação de baixas e danos acontecendo agora. Por enquanto, tudo bem”, escreveu o inquilino da Casa Branca. “Nós temos a mais poderosa e bem equipada força militar em qualquer lugar do mundo, de longe”, emendou

A resposta iraniana, deflagrada nas primeiras horas desta quarta-feira (horário iraquiano), foi calculada, pois não deixou vítimas fatais, mas serviu como resposta aos EUA Washington que Teerã não está de braços cruzados, mas também e principalmente para consumo interno do próprio Irã, cujo governo até recentemente enfrentava protestos. Com o imbróglio que se formou nos últimos dias, o dissenso despareceu, pelo menos por enquanto, no país persa.

No pronunciamento que fez por volta das 13h30 desta quarta-feira (8), na Casa Branca, Donald Trump foi antagônico em sua fala, ao mesmo tempo em que não abriu de vender à opinião pública local a imagem de vitorioso, o que lhe interesse em termos político-eleitorais.

Em seu discurso, finalizado com um aceno na direção da paz – sem direito a perguntas dos jornalistas –, Trump disse que ninguém ficou ferido e tudo indica que o Irã parece estar recuando, o que não condiz com a postura de Teerã. O presidente americano também afirmou que o povo iraniano merece um país livre e desenvolvido, mas ao mesmo tempo anunciou a imposição de novas sanções à nação comandada pelos aiatolás.

O presidente americano não detalhou as novas sanções, o que faz com que sua fala genérica permita múltiplas interpretações. Mesmo assim, impor sanções a um país que continua recorrendo a artifícios comerciais no cenário internacional para sobreviver é o mesmo que acionar uma bomba de efeito retardado. Ou seja, Trump não quer a paz na esteira do diálogo, mas na base da imposição das suas vontades.

Trump sabe que não saiu vitorioso desse episódio, pois os principais parceiros dos EUA, em especial os europeus, não manifestaram apoio à Casa Branca em relação ao ataque que culminou com a morte do general iraniano Qasem Soleimani.

Por enquanto o cenário de beligerância que se formou nos últimos dias recebeu uma lufada de arrefecimento, mas não é motivo para o mercado financeiro global sair comemorando, como já acontece, pois a volatilidade no Oriente Médio continua.