Até a guerra hoje é fake

(*) Carlos Brickmann

Doze foguetes com cabeças explosivas, todos no alvo. Tanto iraquianos quanto americanos, alojados dentro do alvo, saíram do ataque sem precisar sequer de um band-aid. Serão os mísseis iranianos tão fracos assim? Não: os mísseis iranianos utilizados pelos terroristas do Hezbollah e do Hamas, na Síria e em Gaza, levaram Israel a desenvolver um avançado e caro sistema antimísseis. Ruins de pontaria os iranianos não são: os mísseis atingiram seu objetivo. Ou – e essa talvez seja a explicação correta – pode ser que tenham sido tomadas todas as precauções, por ambos os lados, para que a represália ocorresse – uma questão de orgulho acional iraniano – mas sem levar os Estados Unidos a novas ações. O Irã pode ser orgulhoso, mas sabe direitinho que não tem condições de enfrentar uma superpotência como os EUA.

E há informações sobre isso. Fontes do Departamento de Estado dizem ter recebido do Iraque informações sobre data e horário do lançamento, para que pudesse proteger seu pessoal (é preciso lembrar que os EUA e o Iraque têm relações próximas desde que o regime sunita de Saddam Hussein caiu após uma invasão americana, que entregou o poder aos xiitas). Os iraquianos comentam discretamente que “souberam” dos planos iranianos, e puderam assim proteger seu pessoal. Trump diz que a ausência de baixas americanas indica que o Irã não quer guerra. Resultado: as Bolsas subiram, o petróleo caiu, o ouro (o investimento dos tempos ruins) voltou ao nível normal.

Novidade antiga

É importante lembrar que a política externa é uma das áreas mais sujeitas ao lema de que verdade é o que interessa ao país. Hitler enganou os ingleses, prometendo paz em troca da autorização para invadir a Tchecoslováquia; e enganou os soviéticos, dividindo a Polônia com eles, meio a meio. A guerra já era fake, e cabia a cada país compreender as intenções do futuro inimigo.

Questão de futuro

Mas há sempre o problema do futuro: pode haver ações de terror contra alvos ocidentais, não obrigatoriamente no Oriente Médio (o ataque às Torres Gêmeas ocorreu no coração de Nova York). O Irã semeou, armou e treinou células de terror por boa parte do Oriente Médio: milícias xiitas no Iraque e na Síria, o Hezbollah no Líbano, o Hamas em Gaza, os houthis no Iêmen (que jogaram bombas de um drone na maior refinaria saudita). Há também remanescentes do Estado Islâmico e o Boko Haram, que age por sua própria conta e se dedica principalmente a escravizar crianças. Cada um dos grupos pode agir para ganhar visibilidade ou para se destacar diante dos iranianos. Ou o próprio Irã pode mobilizá-los, alegando depois que não sabia de nada. Caberá aos serviços secretos monitorar a movimentação do terror e dar base a ações de seus governos. De vez em quando pode sumir um líder do terror.

Quem alvejou o avião?

Sempre pode haver alguma falha, já que a investigação é controlada pelo Governo do Irã, sem participação plena dos fabricantes do avião, da empresa aérea, dos países cujos cidadãos morreram na queda. Mas tudo indica (inclusive uma foto) que o Boeing 737-800 da Ukrainian Airlines foi atingido por um míssil antiaéreo iraniano, pouco depois da rajada do Irã contra as bases do Iraque em que deveriam estar alojados soldados americanos. Há especialistas, em minoria, que dizem ter reconhecido um foguete russo. Mas tudo indica que tenha sido iraniano, disparado por erro.

Adiscurpe noça fália

Este colunista sempre achou que o principal problema do ministro Abraham Weintraub fosse o nome de seu Ministério: carregado de diplomas, ele deveria ser ministro do Ensino, já que da Educação, conforme se cansou de demonstrar por seus twitters e comportamento público, não poderia ser. Discutir no Twitter chamando a mãe do parceiro de “égua desdentada” não é coisa de quem tenha bons modos. Mas este colunista estava enganado: um ministro do Ensino não pode escrever “imprecionante”, como o fez nesta semana. Nem “insitaria”, nem “paralização”, como já fez antes.

Ou ceja, não poderia também ezersser o quargo de ministro do Encino do noço Braziu.

Impostando

Não adianta nem proteger os bolsos: hoje, às 12h50, o Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo comprova que cem bilhões de reais já saíram de nossos bolsos e foram para os cofres do Governo. Economia? Bem, em doze dias já nos foi tungada a mesma quantia que no ano passado levou treze dias para sair. Pouca coisa? É um aumento de quase 10%, mais do que o rendimento da poupança, mais que o rendimento do Fundo de Garantia, e o suficiente para mostrar que, mesmo com a lenta recuperação da economia, a arrecadação de impostos continua subindo e vai bem, obrigado.

Luz de graça

E essa de Bolsonaro de oferecer luz de graça a templos? Não basta a isenção de impostos? Fiel que é fiel não se importa de orar no escuro.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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