Após escândalo, Bolsonaro mantém chefe da Secom e afirma: “se foi ilegal a gente vê lá na frente”

Na edição de quarta-feira (15), o UCHO.INFO afirmou que o presidente Jair Bolsonaro dava sinais claros que colocaria um “pano quente” no escândalo envolvendo o chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), Fábio Wajngarten, apesar da flagrante violação da Lei nº 12.813, de 16 de maio de 2013, também conhecida Lei de Conflito de Interesses, que proíbe integrantes da cúpula do governo de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões.

Após matéria do jornal “Folha de S.Paulo”, a quarta-feira foi tumultuada no Palácio do Planalto, com ataques sórdidos ao diário paulistano e reuniões acaloradas entre assessores presidenciais, mas o resultado de toda essa movimentação foi antecipado por este noticioso, até porque Bolsonaro é o que chamamos de “mais do mesmo”. O presidente acabou por endossar o desrespeito à lei por parte de Wajngarten.

Depois de chamar o chefe da Secom no gabinete presidencial e dele exigir a apresentação da declaração do Imposto de Renda e de outros documentos que eventualmente comprovassem a inexistência de irregularidades, Jair Bolsonaro decidiu não ouvir as recomendações de destacados assessores nem de líderes políticos, que prometem atormentar o governo com ações na Justiça por conta de mais um imbróglio.

Na manhã desta quinta-feira (16), ao deixar o Palácio da Alvorada, Bolsonaro foi questionado por jornalista sobre o tema e respondeu com um misto de estupidez e dissimulação: “Se foi ilegal, a gente vê lá na frente. Mas, pelo que vi até agora, está tudo legal, vai continuar. Excelente profissional. Se fosse um porcaria, igual alguns que tem por aí, ninguém estaria criticando ele”.

Entre os jornalistas que aguardavam o presidente à porta do Alvorada estava uma repórter da Folha, que foi hostilizada pelo chefe do Executivo, o que não é novidade. “Fora, Folha de S.Paulo, você não tem moral para perguntar, não”, afirmou Bolsonaro, pedindo a outros jornalistas fazerem perguntas. “Cala a boca”, emendou o presidente diante da insistência do jornalista da Folha.

Que Bolsonaro é um desqualificado e sem estofo para cargo de tamanha importância e responsabilidade o mundo já sabe, mas seu comportamento aponta na direção de uma clara ameaça à democracia. Contudo, causa espécie a pasmaceira que toma conta de parcela da sociedade, que aceita passivamente esse destempero comportamental, como se isso fosse benéfico ao País e ao Estado de Direito.

Agindo como um ditador que usa a truculência verbal, pelo menos por enquanto, para abafar os próprios escândalos, Bolsonaro voltou a atacar a “Folha de S.Paulo”, como se noticiar a verdade fosse crime.

“Eu quero ver quando a Folha de S.Paulo vai desfazer a covardia que vocês fizeram com a Wal do Açai, de Angra dos Reis. Quando a Folha de S.Paulo vai fazer uma matéria desfazendo a covardia com a Wal lá de Mambucaba? Porque quando vocês falaram que ela estava fazendo açaí, ela estava de férias, conforme boletim legislativo da Câmara. Então a Folha de S.Paulo não tem crédito para acusar ninguém, não tem credibilidade. Lamentavelmente uma péssima imprensa o que faz a Folha de S.Paulo. Outra pergunta aí”, disse Bolsonaro.

Ora, Bolsonaro, então deputado federal, empregou em seu gabinete uma “funcionária fantasma” e a culpa é da Folha? O próprio Jair Bolsonaro, por ocasião da publicação da matéria, disse que Wal do Açaí cuidava dos seus interesses políticos na Vila Histórica de Mambucaba, mas depois afirmou que ela colocava água para seus cachorros na casa que mantém na cidade do litoral fluminense.

“Já falei que a Folha está fora. A Folha é um lixo. Eu quero saber, a Folha de S.Paulo, o Datafolha, eu perderia para todo mundo no segundo turno. Você não tem vergonha na cara, ainda vem aqui fazer plantão? Você não é o problema, é a Folha, desculpa aí. Nada contra você, você não é dona da Folha. Você está apenas cumprindo seu papel para tentar infernizar o governo. Qual pauta positiva a Folha teve do governo até hoje? Nada, zero. O 13º do Bolsa Família não apareceu na capa, se fosse no PT, que dava bilhões para a grande mídia o ano todo, estaria elogiando o Lula. Quanto a mim, é só pancada o tempo todo, acabou a mamata, Folha de S.Paulo”, atacou novamente Bolsonaro.

Em suma, assim como seus coléricos e violentos apoiadores, Bolsonaro, político claramente vocacionado para a tirania, é adepto do jornalismo de encomenda, que, para a infelicidade geral da nação, avança a passos largos e à sombra do engodo. Sem ter mostrado até o momento a que veio, o atual presidente não aceita o contraditório, muito menos a verdade.