Bolsonaro precisa explicar atuação do irmão, “ex-funcionário fantasma” da Alesp, como lobista de prefeituras

Em 21 de outubro de 2018, faltando uma semana para o segundo turno da corrida presidencial, o então candidato Jair Bolsonaro, em vídeo ao vivo transmitido direto do Rio de Janeiro, disse aos apoiadores que se acumulavam na Avenida Paulista, em São Paulo, inúmeras frases de efeito, muitas das quais não foram levadas a cabo porque promessa de campanha não vinga. Entre as falácias de Bolsonaro, mereceram destaque: “Só que a faxina agora será muito mais ampla”, “Nós acreditamos no futuro do nosso Brasil. E juntos, em equipe, construiremos o futuro que nós merecemos”.

Bolsonaro disse também, na reta final da campanha, que, se eleito, governaria de um jeito novo e diferente. Passado um ano do governo, o que se viu até o momento é um presidente que pode ser rotulado como “mais do mesmo”, pois trata-se de um digno representante da chamada “velha política”, termo que Bolsonaro usou com certa insistência nas primeiras semanas de governo.

Quando atacava o PT e os partidos de esquerda no afã de turbinar sua campanha eleitoral, Jair Bolsonaro sabia que aquela era a única maneira de abduzir parte do eleitorado, já que nada tinha para apresentar em termos de proposta real para mudar a realidade brasileira.

Para provar que Bolsonaro não passa de um exemplar do que existe de pior na política nacional, seu irmão, Renato Bolsonaro, comerciante em Miracatu, na região do Vale do Ribeira (SP), tem intermediado verbas do governo federal para prefeituras do estado de São Paulo. A informação foi revelada pelo jornal “Folha de S.Paulo”.

Renato Bolsonaro, que não tem cargo público, tem participado de solenidade de anúncio de obras, seu nome aparece como testemunha em contratos de liberação de verbas oficiais e recebe agradecimento de prefeitos pela intermediação com o governo federal.

Com a ingerência de Renato Bolsonaro, mais de R$ 110 milhões repassados para a construção de pontes, recapeamento asfáltico e investimento em centros de cultura e esportes nas cidades de São Vicente, Itaoca, Pariquera-Açu e Eldorado, município onde moram familiares do presidente da República.

O irmão de Bolsonaro nega que seja remunerado pelo trabalho de intermediação de verbas federais, mas se recusa a responder quem paga as despesas das muitas viagens que faz pelo estado de São Paulo.

Funcionário fantasma

Em 2016, Renato Bolsonaro foi exonerado do cargo de assessor especial parlamentar na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), após reportagem do SBT revelar que ele não aparecia para trabalhar. Durante três anos, Rentato, que embolsava mensalmente R$ 17 mil, constou como funcionário do gabinete do deputado estadual André do Prado (PR). Em vez de dar expediente na Alesp, de acordo com o SBT, Renato trabalhava em uma de suas lojas de móveis. Ou seja, a família Bolsonaro é obcecada por funcionários fantasmas.

Causa espécie o fato de um cidadão com esse bisonho currículo estar intermediando recursos do governo federal para prefeituras do estado de SP, sem ser remunerado. Considerando que o sobrinho de Renato, o senador Flávio Bolsonaro (RJ), está na proa do escândalo das “rachadinhas”, em conjunto com o “irmão-camarada” Fabrício Queiroz, nessa novela do irmão lobista de prefeitura ainda tem muita emoção pela frente.

Pegando carona na “síndrome do retrovisor”, que afeta nove entre dez bolsonaristas, que sempre recorrem ao passado petista para justificar os tropeços e as bizarrices do governo Bolsonaro, faz-se necessário perguntar se a pancadaria dedicada no passado a Vavá, irmão de Lula, não cabe como luva no caso de Renato Bolsonaro. Até porque, segundo a sabedoria popular, “o pau que bate em Chico, bate em Francisco”.