Regina Duarte continua “fazendo novela” com a Cultura, mas escolheu pastora intolerante como adjunta

Convidada pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a Secretaria Especial da Cultura, cujo comando está vago desde que o dramaturgo Roberto Alvim foi para “degola” na esteira de um discurso nazista, Regina Duarte ainda não tomou uma decisão, mas por enquanto a atriz está fazendo o que mais sabe: novela.

Desde que reuniu-se pela primeira vez com Bolsonaro, no Rio de Janeiro, a outrora “namoradinha do Brasil” disse estar “de corpo e alma com o governo”, mas que por ora tudo não passa de um noivado. Regina Duarte viajou a Brasília na quarta-feira (22), onde almoçou com o presidente da República no Palácio do Planalto e conheceu a estrutura da Secretaria, mas o “noivado” ainda não mudou de status, para a infelicidade de Bolsonaro, que precisa de um fato novo para rechear a agenda oficial.

Para quem está de “corpo e alma” com um governo autoritário e retrógrado, que atenta contra a democracia e trata a classe artística aos pontapés, a indecisão de Regina Duarte pode ser interpretada de duas maneiras: ou é jogo de cena ou é uma forma elegante de dizer não. Até porque, ninguém renuncia a um salário de R$ 60 mil mensais para ficar em casa (o valor dobra quando está no ar) por outro de R$ 16 mil para representar um governo populista e que flerta diuturnamente com o autoritarismo. Como disse o brilhante Lima Duarte, talvez faltasse uma Viúva Porcina ao governo de Sinhozinho Malta.

Bolsonaro esperava confirmar Regina Duarte como secretaria da Cultura antes de sua viagem oficial à Índia, cujo embarque se deu nesta quinta-feira (23), mas foi obrigado a deixar para a volta, o que pode ao acontecer, caso a atriz decida não aceitar o desafio.

Considerando a euforia da atriz e todos os salamaleques por ela dispensados ao governo e ao presidente da República, uma recusa não é cogitada pelo staff palaciano, mas nada é impossível. Mesmo assim, sem estar oficialmente no cargo, Regina Duarte já escolheu a “número 2” da pasta. Trata-se da pastora evangélica Jane Silva, o que mostra o caminho a ser percorrido pela cultura a partir de agora. Ou seja, o radicalismo e o conservadorismo prevalecerão nas políticas culturais do governo, depois de uma fracassada tentativa de impor os padrões nazistas ao setor.

A pastora Jane Silva, que gosta de ser chamada de “reverenda” e dirige a Associação Cristã de Homens e Mulheres de Negócio (entidade privada), vez por outra recorre a discursos torpes e insanos, apenas para dar vazão à sua intolerância ideológica, apesar de sempre falar em nome de Cristo, que, pelo que se sabe, pregou o contrário. Jane, a tal “reverenda”, disse certa feita, sem apresentar qualquer prova, que o ex-presidente Lula construiu a embaixada da Palestina em Brasília e financia o terrorismo no Brasil. Ou seja, um espetáculo de delinquência intelectual sem limites, que você confere ao final desta matéria.

Ninguém é obrigado a gostar de Lula ou de quem quer que seja, não importando as razões da repulsa, mas abusar da leviandade para agradar o rebanho é no mínimo atitude de herege. Além disso, a tal “reverenda” assumiu, em novembro passado, a Secretaria de Diversidade Cultural, divisão da Secretaria Especial da Cultura. Em outras palavras, e já recorrendo ao adágio popular, é “a raposa tomando conta do galinheiro”.

Quem acreditava que ter Regina Duarte no leme das políticas culturais do governo pode ser uma temeridade, sequer imaginar que muito pior será o período em que Jane Silva comandará a pasta como secretária interina, até que a atriz se decida. Enfim…