Disputa em partido nanico e rachado faz Denise Abreu crescer em termos políticos e nas redes sociais

(Foto: Ella Durst)
(Foto: Ella Durst)
Operação W.O. — Desde que o ucho.info publicou a notícia da pré-candidatura de Denise Abreu (ex-diretora da ANAC) à Presidência da República, uma série de “coincidências” aconteceu no âmbito do pequeno Partido Ecológico Nacional, PEN, partido que ganhou registro no TSE durante a Rio+20, tem um trevo de agência lotérica como logomarca e ainda não participou de qualquer eleição.

Essas “coincidências” indicam que o Palácio do Planalto comanda uma Operação W.O., monitorando e tentando impedir toda e qualquer candidatura presidencial que possa somar votos para garantir o 2º turno nas eleições 2014.

A pré-candidatura de Denise Abreu foi incentivada pelo atual presidente do PEN, Adilson Barroso, logo após a estranha desistência de Marina Silva de participar da corrida presidencial. O PEN esperava por Marina de portas abertas. Sem Marina, o plano da legenda migrou para a reconstrução da chamada terceira via, com uma candidata mulher capaz de sustentar o debate. Barroso concordou e o acordo foi celebrado durante almoço-reunião na casa de Denise Abreu, em outubro passado. Deste encontro participaram o advogado eleitoral Marcelo Augusto Rosa e os agentes especiais da Polícia Federal Danilo Ballas e Marcelo Baeta.

Na sequência, Denise Abreu recebeu um apoio relevante. O agente especial da Polícia Federal Marcelo Baeta tornou-se candidato vice em sua chapa. Baeta é muito respeitado dentro na Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), espécie de sindicato da categoria, que rompeu com a CUT e hoje lidera uma frente de oposição aberta à presidente Dilma Rousseff e ao ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo. Uma grande quantidade de agentes da Polícia Federal filiou-se ao PEN no início de outubro, fato que foi pouco observado na grande imprensa.

Para os policiais federais, o governo Dilma boicota a Polícia Federal em represália às operações de combate ao crime organizado e à corrupção, que causaram muitas crises no governo e na base aliada. Denise estava consolidada e ganhando espaço, mas, dias depois de a notícia da pré-candidatura circular em um jornal da região do Grande ABC paulista, Adilson Barroso, de uma hora para outra, apareceu com outra conversa. Do nada, Barroso lançou um “famoso quem”, chamado Bertolino Ricardo Almeida, para tentar barrar Denise Abreu.

No mesmo período, jornalistas afinados com os ângulos favoráveis ao governo federal voltaram a comentar o nome Denise Abreu, que foi objeto de reportagens na revista “IstoÉ” e no jornal “Valor Econômico”. Uma das jornalistas chegou a perguntar a Denise Abreu, em tom ameaçador e quase raivoso, se a manutenção da pré-candidatura ajudaria ou atrapalharia o processo do qual é ré. Estranhamente, a resposta não foi usada na matéria, o que comprova que a pergunta foi um desplante.

Revolta dos ecológicos

A repercussão do nome Denise Abreu na grande imprensa animou a base do PEN. E o pequeno partido começou a sonhar com dias de visibilidade. Uma militância se formou e fechou com Denise, enquanto Adilson Barroso, isolado, encastelou-se com a família na sua cúpula de vidro, agarrando-se ao débil Estatuto do partido, que não resiste a um juizado de 1ª Instância.

Da cúpula imaginária, Adilson age como se fosse um tirano intocável, disparando telefonemas e vociferando ameaças de destituição aos presidentes dos diretórios estaduais e municipais fechados com Denise.

Sem argumentos plausíveis contra Denise Abreu, Adilson usa pólvora vencida, as já conhecidas matérias plantadas por uma fábrica de notícias que foi montada para intimidar a ex-diretora da ANAC durante o período em que sustentou denúncias e testemunhou no Congresso Nacional sobre os bastidores da venda da VarigLog para “laranjas” do chinês. Nesse período de turbulência, até o próprio Lula, visivelmente nervoso, tentou fazer piada contra Denise, recebendo à queima-roupa uma réplica que o calou: “O único Freud que o presidente Lula conhece é Freud Godoy. É esse?”

A bravata de Adilson Barroso reabriu feridas, pois já havia um movimento de ex-dirigentes do PEN golpeados nos estados de Sergipe, Minas Gerais, Paraná, Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul contra o presidente nacional. Para esses ex-dirigentes, Adilson tem “sangue de barata.”

(Flickr)
(Flickr)
De acordo com o professor Bosco, presidente afastado do diretório de Sergipe, todos os fundadores, abnegados que dedicaram três anos recolhendo assinaturas para homologar o PEN, já foram golpeados. Cesar Rozek, presidente destituído no Paraná, aumenta o tom: ”Todos os estados golpeados vão entrar com ações conjuntas contra Adilson Barroso que usou nosso nome para fundar o partido e depois fez o PEN cair na vala comum de partidos de aluguel. Adilson Barroso veio ao nosso estado, sem nos avisar, negociar a sigla com terceiros.”

Nesse festival de negociatas, que correm à revelia da legislação eleitoral, o último contrariado foi o deputado federal Silvio Costa, ex-PTB, agora no PSC, que perdeu o PEN em Pernambuco para um preposto do presidenciável Eduardo Campos, Fred Oliveira secretário de Relações Institucionais do prefeito de Recife, Geraldo Julio. Costa, que apoia Armando Monteiro na disputa pernambucana, tentou negar a destituição do filho caçula do comando do PEN-PE: “Não me consta que o governador Eduardo tenha atuado para destituir a executiva do PEN. Fiquei até uma hora da manhã com Adilson Barroso, ele inclusive me convidou para entrar no PEN, e não me falou nada”, resumiu, confidenciando que o nome Marina ainda circula na boca de Adilson, e que por causa disso, descartou o PEN. Para Silvio Costa, Adilson contou que Marina Silva iria para o PEN, pois o projeto Rede Sustentabilidade poderia emperrar.

No PEN, as destituições são feitas sem nenhum comunicado prévio. O mesmo fato ocorreu com o deputado Wanderlei Barbosa, de Tocantins, que foi trocado pela ex-prefeita de Palmas, Nilmar Ruiz, suplente de deputada federal que se tornou inelegível devido à cassação de diploma por captação ilícita de votos.

O fortalecimento da pré-candidatura de Denise Abreu contrasta com a fragilidade institucional do PEN. Os ex-dirigentes prometem que levarão ao ministro Marco Aurélio Mello documentos que comprovam a falsificação de assinaturas. Marco Aurélio desconfiou da veracidade das assinaturas levadas na homologação do PEN no TSE. O que acontecerá ao PEN ainda não se sabe, mas Adilson Barroso (pessoa física) terá dificuldades para explicar as muitas trapalhadas em que se envolveu.

A novidade

Essa situação de punhaladas internas e alfinetadas externas fez a caminhada de Denise Abreu virar assunto em “O Globo”, um dos jornais de maior circulação do País. Nas redações dos grandes veículos nacionais, os analistas políticos já consideram Denise Abreu um nome capaz de alcançar votação tão surpreendente quanto as conquistadas por Heloísa Helena em 2006 e Marina Silva em 2010.

Não é novidade que Denise Abreu tem carisma, que não passa despercebida por onde anda, que sabe falar, fala bem e consegue atrair atenção para o seu discurso concatenado. Denise tem história na sociedade paulistana, sabe muito e é extremamente preparada.

Denise, muito jovem, tornou-se por meio de concurso, Procuradora do Estado de São Paulo, na maior PGE do País. Denise Abreu ganhou visibilidade no governo do tucano Mário Covas por conta das soluções jurídicas que criou e que foram replicadas em todo o Brasil. Em uma delas, a que criou as Organizações Sociais, a construção e a manutenção de dez hospitais saíram do papel.

Durona e intransigente com a legalidade, Denise Abreu colocou o governo Lula em polvorosa quando foi contra a venda da VarigLog para “laranjas” do chinês Lap Chan. Não será também novidade, caso consiga a legenda, que Denise Abreu não será uma candidata qualquer, que vai dar o que falar, sobretudo em uma chapa que tem como candidato a vice um agente especial da Polícia Federal como Marcelo Baeta, em meio à maior crise de insegurança pública do País, cada vez mais tomado pelo crime organizado e pelo narcotráfico.

Na opinião de Marcelo Baeta, “Denise Abreu conhece a máquina administrativa do País, é uma mulher de grande sensibilidade social e senso do justo, até por ter sofrido ela mesma uma grande injustiça. Só quem sofreu uma grande injustiça sabe dar o devido valor que a justiça tem para as pessoas. Não há democracia sem Justiça”, arrematou o agente da PF, em clara referência ao processo que corre contra a sua companheira de chapa, devido à sua atuação como diretora da ANAC. Para quem não se recorda, o processo contra Denise Abreu resulta de uma ação sem fundamento do então senador Demóstenes Torres, nome que decepcionou o País e que desde a sua débâcle dispensa maiores comentários.

Outro fator a embalar a pré-candidatura de Denise Abreu é a “Onda Tuminha”, que agora anima o Brasil. Na dedicatória que fez para Denise Abreu, na noite do lançamento do livro “Assassinato de Reputações — Um crime de Estado”, Romeu Tuma Jr escreveu: “À querida Denise Abreu, com carinho, respeito e admiração. A história nos fará Justiça.” O autógrafo foi comemorado nas redes sociais.

Uma fonte do Palácio do Planalto inclusive já revelou ao ucho.info, “com Denise nos debates, dificilmente a presidenta iria aos debates. Dilma evita a Dra. Denise de todas as formas.”

Bóia-fria de vitrine

O PEN é um partido pequeno e ainda por cima rachado. O clima interno na legenda é de franca rebelião contra as esquisitices do presidente Adilson Barroso, ex-deputado que ainda se diz deputado e que é apenas um ex-vereador do PFL da cidade de Barrinha (onde foi vice-prefeito), região onde predomina o corte de cana de açúcar para alimentar as usinas de Ribeirão Preto, no interior paulista.

Adilson tornou-se deputado estadual na cota do imponderável que sempre ronda as eleições do Brasil. Entrou para a Assembleia Legislativa de São Paulo, na eleição de 2002, com apenas 9.909 votos, última vaga na carona dos 682.219 votos dados à exótica Havanir Nimtz, que se elegeu e ainda levou de carona mais três deputados.

adilson_barroso_02 (flickr)

Antes mesmo de tomar posse, Adilson trocou o Prona pelo PTB. A infidelidade partidária é uma constante na carreira do presidente do PEN. Saiu do PFL, do Prona, do PSC, do PSL até conseguir registrar o PEN no TSE, em 2012, recolhendo assinaturas entre os fieis da Assembleia de Deus, fato que nega.

Adilson disputou sem sucesso as eleições de 2006 e 2010 para deputado estadual em São Paulo. Em 2006, obteve 23.091 votos e não foi reeleito. Em 2010 apenas 5.862 votos. Saiu do PSC pela porta dos fundos, mas conseguiu registrar o PEN.

A reboque do discurso visguento da “origem pobre”, que depois tomou conta do messiânico e embusteiro Lula, Adilson insiste em afirmar que é um ex-cortador de cana, apesar de se vestir como um sertanejo “novo rico”, compondo um perfil que nem de longe lembra o de um boia-fria.

Evangélico, Adilson Barroso ficou marcado depois de fugir de um pastor evangélico que o esperava na frente da Assembleia Legislativa, na capital paulista. O pastor estava encarregado de converter o voto de Adilson na acirrada disputa pela presidência do Legislativo entre Rodrigo Garcia (então PFL) e Edson Aparecido (PSDB) em 2005. Adilson chegou dentro do famoso ônibus alugado para isolar os votos pró-Garcia.

No período em que foi deputado estadual, na carona de Havanir, Adilson obteve uma evolução patrimonial de 110,3% e emplacou projetos inócuos como o Dia do Empregador; o Dia do Cristão; o Dia do Evangelho; dando nome a um viaduto na rodovia SP-333, que cruza Sertãozinho; nome a um viaduto na SP-055 que cruza Itanhaém; nome a uma ponte em Barrinha.

Vaidoso e falso humilde, o presidente nacional do PEN gosta de ser chamado de “estrategista.” Quando presidiu o PSC-SP, ficou conhecido por fazer umas contas malucas de cabeça. Previa nas eleições de 2006, nas quais concorreu e não se elegeu, que o PSC faria 1,5 milhão de votos, elegendo assim cinco deputados estaduais e cinco federais em São Paulo, apenas aceitando candidatos com histórico político entre o mínimo de 5 mil e o máximo de 20 mil votos.

Adilson Barroso também ficou marcado por votar contra o Servidor Publico, sob vaias, apitos e gritos de “fora”, na famosa sessão que mudou as regras previdenciárias, aumentando de 6% para 11% a alíquota de contribuição previdenciária paga pelos servidores estaduais da ativa.