Acordo de paz com Israel obriga os EUA a entrarem nas negociações para a saída de Mubarak

Bomba-relógio – Há trinta anos no poder, o presidente do Egito, Hosni Mubarak, externou nesta terça-feira (1) os primeiros sinais de fraqueza política ao anunciar na emissora de televisão estatal que deixará o poder logo ao término do seu quinto mandato consecutivo. Gravado, o pronunciamento foi acertado com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Em sua fala, Mubarak garantiu que não concorrerá à reeleição em setembro próximo e prometeu realizar nos meses restantes de seu mandato as mudanças exigidas pelas forças de oposição.

Sob pressão popular há mais de uma semana, o presidente egípcio recebeu um ultimato das forças oposicionistas, lideradas pela Irmandade Muçulmana e no conflito representadas pelo dissidente Mohamed ElBaradei, para deixar o governo até a próxima sexta-feira (7). O anúncio não convenceu a oposição, que exige a imediata renúncia de Mubarak e a sua subsequente saída do país.

A participação mais efetiva da Casa Branca nas negociações tem como objetivo conseguir a garantia por parte de um eventual governo de oposição egípcio de que o tratado de paz com Israel, assinado por Mubarak, será mantido e respeitado. Assessores do presidente Barack Obama já teriam conversado com Mohamed ElBaradei, porta-voz da oposição egípcia, na tentativa de postergar ao máximo a saída de Hosni Mubarak. Nesse período de transição seriam acertadas as condições para a prevalência do referido tratado de paz.

Prêmio Nobel da Paz e ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ElBradei é “persona non grata” na terra do Tio Sam. Foi dele o parecer que negou a existência de armas químicas no Iraque de Sadam Hussein, ignorado pelo governo norte-americano e que resultou na invasão do país. De igual modo, Mohamed ElBaradei arrumou inimigos nas nações classificadas como potências ao não se posicionar contra o programa nuclear iraniano. “Existem regras sobre como usar a força e espero que todos tenham aprendido a lição com a situação no Iraque, onde 70.000 civis inocentes perderam a vida porque se suspeitava que o país tivesse armas nucleares”, declarou, em 2007, o então diretor da AIEA, ao fazer condenar um eventual uso de forças militares contra o Irã.

Fato é que a escolha de ElBaradei como interlocutor das forças de oposição do Egito não foi um ato impensado da Irmandade Muçulmana, que controla os movimentos contra Hosni Mubarak. A falta de consenso pode levar o Oriente Médio a uma irreversível explosão, pois a manutenção do acordo de paz com Israel é essencial para evitar uma possível e incontrolável onda de violência no mundo árabe.