Agravada pela delação da Odebrecht, crise política pode facilitar o surgimento de “caçadores de marajás”

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Considerada a mais importante e devastadora colaboração premiada no âmbito da Operação Lava-Jato, a delação conjunta do grupo Odebrecht já provoca estragos consideráveis logo no primeiro depoimento, o qual ainda depende de conclusão por parte do depoente e homologação do Supremo Tribunal Federal (STF) para que tenha validade jurídica. Do contrário, tudo o que foi revelado e sistematicamente vazado servirá para nada.

Apesar desses detalhes cruciais, as primeiras informações deixaram a opinião pública em polvorosa no final de semana e com certeza provocará estragos no cenário político-econômico durante muito tempo. Desde a elevação da temperatura da Lava-Jato, o UCHO.INFO vem afirmando que a economia nacional enfrentaria sérias dificuldades para reagir diante da deterioração do cenário político.

Apesar da nossa insistência no tema, precisou a grande imprensa tratar do assunto para que o mesmo passasse a ser considerado como algo cada vez mais possível. Em muitas ocasiões noticiamos que a economia brasileira precisaria de pelo menos cinco décadas para alcançar um ritmo de crescimento tão confiável quanto sustentável. O que para muitos era uma utopia, a delação da Odebrecht, também conhecida como “do fim do mundo”, mostrará que não exageramos ao fazer tal afirmação.

Para quem imaginou que o próximo ano seria de recuperação, mesmo que lenta, deve estar preparado para um cenário em que uma lanterna sem pilhas aparecerá no fim do túnel apenas no final de 2018, talvez no começo de 2019. De nada adianta o brasileiro sonhar com quadro diferente, pois a realidade atual mostra a extensão das dificuldades futuras.


A grande questão é saber qual investidor apostará suas economias em um país embalado pela corrupção em todos os seus escaninhos. O presidente da República, Michel Temer, que foi citado na delação da Odebrecht como tendo solicitado doação de R$ 10 milhões, tenta minimizar os efeitos da delação do grupo empresarial baiano com a adoção de medidas econômicas urgentes, como se isso pudesse reduzir o estrago.

O que Temer busca é algo parecido com enxugar gelo, pois é impossível reverter o caos econômico com medidas que visam conter o estrago político. Qualquer medida econômica, por mais precisa que seja, não surte efeito antes de seis meses, isso em economias minimamente reguladas. No caso do Brasil, o efeito poderá demorar um pouco mais. Isso significa que o próximo ano está perdido.

Não se trata de pessimismo por parte deste noticioso, mas de interpretação rasa da realidade. Com o governo sofrendo os primeiros efeitos colaterais da delação da Odebrecht, a oposição, que foi apeada do governo no rastro do impeachment de Dilma Rousseff, fará o impossível para dificultar a aprovação de projetos que visam tirar o País do atoleiro da crise. O que não significa que as mesmas não sejam corretas e necessárias, porém carecendo de ajustes.

O momento é crítico, por isso exige parcimônia. Não será à sombra de uma crise que só faz crescer que o brasileiro encontrará a solução derradeira para um problema quase sem fim. A melhor receita a essa altura dos acontecimentos é cautela, pois em cenários políticos como o de agora é que surgem falsos Messias, como aconteceu com o “caçador de marajás”. E diz o a sabedoria popular que “gato escaldado tem medo de água fria”.

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