Após a vitória do “não”, Alemanha rejeita pedido da Grécia de novo resgate

grecia_crise_24Avanço do blefe – Nesta segunda-feira (6), a Alemanha rejeitou o pedido da Grécia para negociar outro pacote de ajuda financeira a fim de evitar sua saída da zona do euro, após vitória esmagadora do “Não” no referendo sobre a austeridade exigida pelos credores internacionais.

O atual coordenador da equipe negociadora grega, Euclides Tsakalotos, foi nomeado ministro das Finanças em substituição a Yanis Varoufakis, que pediu demissão nesta segunda para facilitar as negociações com os credores.

De acordo com Steffen Seibert, porta-voz da chanceler alemã Angela Merkel , “não se trata de pessoas, mas de posições”. “Depende da Grécia, se quiser continuar na Eurozona”, ressaltou. “Esperamos ver as propostas do governo grego a seus sócios europeus”, acrescentou.

Uma fonte do governo grego disse que o primeiro-ministro Alexis Tsipras e a chanceler alemã teriam “acordado”, em conversa telefônica nesta segunda-feira, que Atenas apresentará suas propostas na reunião de cúpula convocada às pressas para terça-feira (7) em Bruxelas.

A forma dura que marca a dureza das declarações de Berlim contrasta com o tom conciliador de França, Itália e Espanha. Inclusive, o chefe do governo italiano, Matteo Renzi, destacou em sua conta no Facebook que a Europa “precisa falar não só de austeridade e equilíbrio orçamentário, mas de crescimento, infraestruturas”, enquanto a Espanha está aberta a novas negociações sobre um novo plano de ajuda à Grécia.

Apesar de na última terça-feira (31) a Grécia não ter conseguido pagar o empréstimo de 1,6 bilhão de euros ao FMI, a diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, afirmou que a instituição “monitora a situação” e está “disposta a ajudar a Grécia se for pedido”.

Angela Merkel reuniu-se nesta segunda-feira em Paris com o presidente francês, François Hollande, para analisar as consequências do referendo grego, em que a recusa à austeridade prevaleceu, com 61% dos votos.

“A porta está aberta às discussões. É o governo (grego) que deve fazer propostas sérias”, disse Hollande, após uma reunião com Merkel no Palácio do Eliseu.

“Esperamos agora propostas totalmente precisas do primeiro-ministro grego. É urgente ter essas propostas para que possamos encontrar uma saída à situação atual”, reiterou Merkel, acrescentando que “as condições prévias para entrar em novas negociações sobre um programa concreto de mecanismo europeu de estabilidade ainda não estão reunidas”.

Enquanto os líderes da zona do euro analisam as consequências do voto grego, Tsipras também conversou com o presidente russo, Vladimir Putin, por telefone.

A Casa Branca pediu nesta segunda-feira que os dirigentes da União Europeia e da Grécia cheguem a um acordo que permita ao país continuar na zona do euro. “O referendo passou, mas nossa posição continua sendo a mesma”, explicou Josh Earnest, porta-voz da Casa Branca, julgando que é de interesse de ambas as partes uma solução “que permita à Grécia continuar na zona do euro”.

Após as comemorações pela vitória do “Não” nas ruas de Atenas, na noite de domingo, os gregos sabem que sua saída do euro, a temida Grexit de consequências imprevisíveis, tanto para a Europa como para a Grécia, não é impossível.

O risco mais iminente é que os bancos fiquem sem dinheiro e se prolongue o controle de capitais decretado há uma semana. As autoridades gregas estenderam o fechamento dos bancos até a quarta-feira, segundo a agência de imprensa ANA.

O Conselho de Governadores do Banco Central Europeu decidiu manter a assistência de liquidez emergencial aos bancos gregos no mesmo nível fixado em 26 de junho, informou a instituição em comunicado.

O Conselho do BCE reuniu-se por teleconferência após a vitória do “Não” às medidas de austeridade no referendo grego realizado no último domingo.

As bolsas fecharam em queda, mas as perdas foram reduzidas. Assim como o euro, que permaneceu praticamente inalterado desde sexta-feira, o que sugere que as consequências de uma eventual Grexit seriam limitadas.

“A estabilidade do euro não está em jogo”, afirmou Valdis Dombrovskis, vice-presidente da Comissão Europeia, à imprensa. “Temos tudo o que precisamos para controlar a situação”, acrescentou.

Os ministros da Economia de Alemanha e França se reuniram em Varsóvia, enquanto que o grupo de trabalho do Euro, que reúne autoridades do Tesouro, se encontra em Bruxelas.
De acordo com as pesquisas, mais de dois terços dos gregos querem continuar na zona do euro, embora os analistas acreditem que as possibilidades de Grexit são “muito altas”.

Holger Schmieding, analista do Banco Berenberg, alertou que “a Grécia está no limbo até novo aviso, deslizando para a Grexit a menos que Atenas mude de rumo”, disse.

Tsipras insiste em que os credores devem finalmente aceitar a reestruturação da gigantesca dívida grega, de 240 bilhões de euros, cerca de 267 bilhões de dólares.

O último plano de ajuda do FMI e da UE à Grécia venceu no dia 30 de junho, apesar do pedido de Tsipras para que fosse ampliado. O Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, que emprestou 144,6 bilhões de euros, declarou na última sexta-feira (3) a moratória do país.

Fato é que com ou sem um novo plano de resgate financeiro, a Grécia continuará mergulhada em uma crise econômica profunda, que exigirá da população do país grandes sacrifícios e por longo período. Isso significa que uma melhora no cenário econômico da Grécia não será da noite para o dia, como acreditam os que optaram pelo “Não”, sendo que a reconstrução do país se dará somente dentro de algumas décadas, ou seja, será tarefa da próxima geração.

À sombra desse cabo de guerra que se formou no rastro do calote grego está um cipoal de interesses político-ideológicos, os quais passam não apenas pela União Europeia, mas também pela Rússia e China. Enquanto os representantes dos países-membros da UE pressionam o ultraesquerdista Alexis Tsipras a adotar medidas de austeridade para negociar um novo plano de resgate, o que enfraqueceria o movimento da esquerda no Velho Mundo, Moscou e Pequim estão de olho na possibilidade de fincar um pé político na região, desde que o premiê grego continue blefando e mantendo o país na corda bamba.

É importante destacar que Tsipras, que se elegeu na esteira de promessas radicais e utópicas, não colocaria tudo a perder se não tivesse a garantia dos russos e dos chineses de que na pior das hipóteses a Grécia será socorrida de alguma forma. (Danielle Cabral Távora com Ucho Haddad)

apoio_04