Após muito bate-boca, CCJ da Câmara aprova proposta polêmica que reduz maioridade penal

justica_11Queda de braços – Foi uma semana de protestos e sessões tumultuadas, mas nesta terça-feira (31) a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou, por 42 votos a favor e 17 contra, a admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reduz de 18 para 16 anos a maioridade penal no Brasil. Agora,uma comissão especial será criada para analisar o texto.

A polêmica PEC 171 foi proposta em 1993 pelo então deputado federal Benedito Domingos (PP-DF), porém nunca havia entrado em análise na Casa. Os deputados aprovaram um voto em separado do deputado Marcos Rogério (PDT-RO) e rejeitaram o relatório de Luiz Couto (PT-PB), contrário à proposta e que ganhou apoio do PCdoB, PPS, PSB, Pros e PSol.

Defensores da PEC acreditam que jovens entre 16 e 18 anos cometem crimes com ciência de que ficarão impunes. Na contramão, os opositores acreditam que a idade mínima para a punição é uma cláusula pétrea da Constituição Federal, ou seja, não pode ser alterada. Também argumentam que colocar jovens em presídios seria uma medida ineficaz para reduzir a criminalidade.

Ainda foi aprovada a admissibilidade de outras 37 propostas em apenso, entre elas uma que reduz para 12 anos a maioridade penal. Com a aprovação, deputados defendem que há requisitos constitucionais mínimos para discutir a alteração do artigo 228 da Constituição e, a partir de agora, uma comissão especial terá 40 sessões para discutir o mérito da proposta.

Caso aprovada na comissão especial, a PEC terá de ser votada em dois turnos no plenário da Câmara dos Deputados, precisando do referendo de três quintos do número de deputados para ser aprovada, ou seja, 308 dos 513 parlamentares. Somente depois disso o texto segue para o Senado.

O Partido dos Trabalhadores decidiu ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) antes da criação da comissão especial para evitar a discussão da PEC. De acordo com o deputado Marcos Rogério, autor do voto vencedor, a Constituição proíbe abolir a maioridade penal, mas não reduzi-la. “A Constituição permite sim a alteração da idade mínima criminal, mas veda que essa alteração tenda a abolir o instituto da maioridade (por exemplo: reduzir para 5 anos a idade mínima para o processo penal – isso sim tenderia abolir cláusula pétrea)”, afirma o relatório.

A redução da maioridade penal ganhou força com o aumento do número de deputados conservadores e o crescimento da chamada “bancada da bala”, formada por parlamentares militares e policiais. Ainda foi levada em consideração a indicação de pesquisas recentes de que mais de 90% da população são favoráveis à mudança.

O deputado Chico Alencar (Psol-RJ), que defende a derrubada da proposta, disse: “Estão caminhando num equívoco a partir de uma opinião supostamente pública de que 90% desejam essa criminalização de quem tem menos de 18 anos. Quando lembro que, no Brasil, há uma das menores idades para o ato infracional, que é de 12 anos, muitas pessoas se sensibilizam. A reincidência de quem sai das nossas penitenciárias medievais é de mais de 70%”.

Já o deputado Giovani Cherini (PDT-RS), defensor da tramitação da PEC, revelou receber várias manifestações de eleitores pela redução da maioridade penal. “Quero dizer para todos os jovens que, quem não cometer crime, não tem perigo nenhum. O que estamos fazendo aqui não é colocar jovens na cadeia. Estamos fazendo com que jovens que cometerem crime, não tenham a certeza da impunidade. Pior que está, não fica. Sei que não é a solução, mas pode ser o começo de uma solução”.

Bate-boca

Deputados contrários e favoráveis à redução da maioridade penal bateram boca durante a discussão da PEC. Maria do Rosário (PT-RS) levantou-se e passou a gritar no plenário da comissão quando não conseguiu terminar seu argumento no tempo determinado e teve o microfone cortado.

Também contrário à redução da maioridade penal, Alessandro Molon (PT-RJ) criticou a posição de parte do PDT de concordar com a tramitação da proposta, lembrando o projeto de educação integral do fundador da legenda, Leonel Brizola. “Eu me surpreendo que companheiros do partido de Leonel de Moura Brizola, que criou os Cieps, que se estivesse vivo eu duvido que essa seria a posição aqui defendida”, disse. Foi quando o Major Olímpio (PDT-SP) reagiu aos gritos: “cuide do seu partido!”.

Com o intuito de evitar tumultos, como o registrado na semana passada, a CCJ restringiu o acesso de manifestantes no plenário da comissão. Somente 15 apoiadores e 15 contrários à PEC puderam entrar no local. “Não vamos aceitar. Primeiro escravizaram e agora querem encarcerar”, gritavam os manifestantes. “Fascistas, fascistas, não passarão!”, diziam, no final da votação.

Senado

Vale lembrar que a CCJ do Senado rejeitou em 2014 a proposta apresentada pelo senador Aloysio Nunes Ferreira Filho (PSDB-SP) que permitia o julgamento de jovens acima de 16 anos em circunstâncias excepcionais. Tal proposta previa que jovens maiores de 16 anos poderiam cumprir penas equivalentes a dos adultos em casos de crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura, terrorismo ou na hipótese de múltipla reincidência na prática de lesão corporal grave ou roubo qualificado. No entanto, a punição só poderia ser pedida pelo Ministério Público ou por juízes da mesma vara. (Por Danielle Cabral Távora)

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