Assim estava escrito

(*) Carlos Brickmann

carlos_brickmann_10A festa é geral, irrestrita. E com o nosso dinheiro, justo o nosso, que não participamos da festa. Entre 2007 e 2009, 443 ex-parlamentares gastaram R$ 25 milhões na Farra das Passagens – digamos, levar a namorada a Paris com a verba destinada a viagens de serviço. As investigações, com toda a documentação disponível, levaram sete anos. E só agora os casos chegam ao sobrecarregado Supremo. Um dia os envolvidos serão julgados.

O jeitinho brasileiro no uso de dinheiro público não se limita a Executivo e Legislativo. Uma auditoria do Tribunal Superior do Trabalho revelou que 24 dos 27 tribunais regionais do trabalho “compram” férias dos juízes, convertendo em dinheiro períodos não desfrutados. É uma boa quantia: só em São Paulo, 290 magistrados receberam R$ 21,6 milhões. Diz o TST que no Judiciário não pode haver conversão de férias em dinheiro. Mas nem todo benefício é dinheiro: em Porto Seguro, 700 juízes estaduais se esfalfam em debater os problemas do setor, alheios às belezas naturais da Bahia e aos bons serviços do hotel que os hospeda, a R$ 605 a diária. O show de encerramento é com Ivete Sangalo e Diogo Nogueira. O patrocínio é de uma empresa condenada por crimes ambientais e cheia de casos judiciais, que podem cair com os juízes cuja conta ajudou a pagar.

Mas por que irritar-se lendo tudo, se os escândalos são iguais? Um bom livro, recém-lançado, mostra como as coisas acontecem. Está tudo lá.

O poderoso checão
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Nilo Dante, um grande repórter, com anos de cobertura de Política Nacional e Política Internacional nos principais veículos do país, aprendeu muito sobre os bastidores do Poder. E conta, em O Sócio Oculto, como é que as coisas realmente funcionam; como é que prestigio, dinheiro e bons presentes, bem distribuídos (e muito bem retribuídos), têm influência decisiva nos rumos do país.

Há aquilo que uma dirigenta já chamou de “malfeitos” que, quando descobertos, se transformam em escândalos, com CPIs e ameaças de desestabilização política; há o jeito, planejado por ótimos advogados e financistas, de ocultar o rastro do dinheiro, fazendo-o passear pelo mundo até voltar lavadinho ao Brasil; há o amaciamento da crise, executado por profissionais especializados, de ação internacional.

The Goldfather

As contas, as transferências, os apelidos que, mais do que ocultar os envolvidos, retratam os nomes pelos quais os amigos o chamam – o Hebreu, o Turco, o Italiano – epa, este é o do escândalo não literário. Um retrato do Brasil. Só falta dar os nomes verdadeiros, mas seria impossível: os escândalos são iguais, mas os envolvidos variam – um pouco.

O Sócio Oculto, Editora Mídia In, ou em e-book Amazon. Um toque de perfeição: os culpados jamais são punidos, nem têm sentimento de culpa.

Menos é melhor

Talvez esses escândalos tão bem retratados por Nilo Dante em O Sócio Oculto levem ao resultado da consulta pública do Senado sobre projeto de emenda constitucional que reduz o número de parlamentares federais a 2/3 do atual: senadores de 81 para 54 (dois por Estado, e não três), e deputados federais, de 513 para 386: são 99,5% favoráveis, 0,5% contra. Este colunista é contra: senadores, vá lá, mas quer no máximo 250 deputados.

Os cortes no Orçamento

A redução nas verbas federais para Educação, Saúde e Previdência virou bandeira de guerra. Um bom jornalista, Antônio Carlos Cacá Leite, do Metro de Vitória, Espírito Santo, calculou os cortes na Educação: 10%. Ou R$ 10 bilhões a menos. O programa mais atingido é o FIES (bolsas em universidades privadas), com perda de R$ 1,7 bilhão e 313 mil contratos. O Pronatec teria de adiar as novas turmas por seis meses. As universidades federais perderiam 47% do orçamento. A meta de gastos em Educação cairia de 10% para 6% do PIB. Terrível, essa PEC 241 neoliberal!

Só que esses dados não são da PEC 241. São os números oficiais da Educação em 2015, primeiro ano da Pátria Educadora da presidente Dilma Rousseff.

Mais do mesmo

O senador Romero Jucá (PMDB – Acre) está de volta ao ninho: é o líder do Governo no Senado – e já reforma o gabinete a seu gosto, com gastos próximos de R$ 300 mil. Louve-se a firme postura ideológica de Jucá, que foi vice-líder do Governo de Fernando Henrique, líder do Governo de Lula e Dilma e agora de Temer: os governos podem mudar, mas Jucá, inflexível, não cede em seus princípios, não muda. Faz parte de todos. Foi também duas vezes ministro, em ambas afastado por denúncias de corrupção.

Narizinho

Em inquérito sigiloso, a Procuradoria Geral da República cita um mimo da Odebrecht, em 2014, para Coxa, que poderia ser Gleisi Hoffmann. Mas não espere vê-la em Curitiba: Gleisi é senadora, seu foro é o Supremo.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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