Blefe de Tsipras fracassa e Grécia viverá impasse até resultado de referendo

alexis_tsipras_16Pela culatra – Um dia após a oficialização do “calote técnico” – default no jargão financeiro – dado pela Grécia no Fundo Monetário Internacional (FMI), as negociações sobre um acordo entre Atenas e os credores internacionais continuaram nesta quarta-feira (1), sem qualquer perspectiva de desfecho até o plebiscito marcado para o próximo domingo (5). Autoridades políticas envolvidas na negociação deixaram claro que, mesmo com o recuo de última hora do primeiro-ministro Alexis Tsipras, são escassas as chances de um entendimento antes de domingo.

Diante do impasse, que aumentou com o blefe de Tsipras e de Yanis Varoufakis (ministro das Finanças grego) – a Grécia continuará sem condições de quitar a dívida de 1,6 bilhão de euros com o FMI. Isso porque o governo de Atenas precisa, antes de qualquer acordo, buscar um entendimento com as instituições europeias – Banco Central Europeu e Comissão Europeia – e com os outros 18 países-membros da zona do euro para desbloquear os 7,2 bilhões de euros da última parcela do pacote de resgate financeiro.

Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro grego enviou outra carta às instituições europeias, na qual afirma que Atenas aceita as reformas propostas pela Comissão Europeia, sob condição de que sejam feitas algumas “alterações, adições ou esclarecimentos”. Esse recuo no dia seguinte ao calote deveria ter sido adotado antes do prazo final, mas Tsipras precisava fingir que cumpria suas utópicas promessas de campanha, que sugeriam, entre tatos absurdos, dar as costas aos credores, ao mesmo tempo em que garantia permanência na União Europeia.

De acordo com o documento enviado por Tsipras, ao qual o jornal “Financial Times” teve acesso, as propostas adicionais incluem a manutenção de um imposto de valor agregado às ilhas gregas, o adiamento por vários meses de reformas que afetam a idade mínima para aposentadoria, além da manutenção de uma “bolsa solidariedade” aos pensionistas pobres por um prazo maior do que havia sido especificado na proposta dos credores.

“Eles querem sufocar nossos bancos”

Se no início do dia Tsipras ainda se mostrou receptivo, à tarde o premiê grego não deu sinais de flexibilidade diante das câmeras de televisão em Atenas. Ele acusou os colegas europeus que participam da negociação de comportamento antidemocrático e chegou a afirmar que a Grécia estava sendo “chantageada”.

“Eles querem nos sufocar. Eles querem sufocar nossos bancos”, disse o chefe de governo da Grécia. “É uma vergonha estarmos passando por essas cenas humilhantes. Eles querem fechar nossos bancos, porque queremos uma votação”, completou Tsipras, citando o referendo marcado para domingo, em que os gregos decidirão se aceitam ou não as medidas sugeridas pelos credores em troca de um novo pacote de resgate.

Ele também estava se referindo às longas filas de pensionistas que estavam tentando retirar suas aposentadorias de alguns bancos nesta quarta-feira. A Grécia teve de fechar os bancos por ao menos uma semana, pois, depois do fracasso das negociações com os credores, o fluxo de capital precisou ser controlado.
No fim de seu discurso, o chefe de governo esquerdista disse querer que a Grécia permaneça na zona do euro, mas apelou aos seus compatriotas que votem “não para chantagem e austeridade” no referendo de domingo. Com este resultado, Tsipras esperar obter uma posição mais forte na mesa de negociações.

A votação – que o governo grego propôs suspender numa tentativa de última hora de conseguir o importante acordo na última terça-feira – tem se mostrado como uma barreira para um progresso nas conversações.

O palavrório do ultraesquerdista Alexis Tsipras era previsível e não está fora do script adotado durante a campanha que lhe deu o posto de chefe do governo grego. Ciente de que seu blefe pode lhe custar o cargo, assim como aconteceu com o então premiê Georges Papandreou, que em 2011 cometeu os mesmos erros em relação aos credores internacionais, Tsipras tenta desesperadamente não apenas salvar a Grécia, mas sua carreira política, que pode desmoronar em questão de horas.

Merkel: “Porta ao diálogo aberta”

Em discurso no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), a chanceler alemã Angela Merkel rejeitou liberar novos recursos à Grécia antes do resultado da votação popular. “Vamos aguardar o resultado do referendo. Antes disso, não seremos capazes de discutir quaisquer pacotes de ajuda”, disse Merkel, acrescentando que a Europa segue forte, até mais forte do que ela era “cinco anos atrás, quando começou a crise na Grécia”.

Merkel reiterou que o povo grego deve estar no centro das atenções durante todas as futuras negociações.

“Temos alguns dias turbulentos atrás de nós, mas ainda há muitos outros dias turbulentos pela frente para a Grécia”, disse a chanceler alemã. “Temos de lembrar do povo grego. Eles são um povo orgulhoso e terão de superar muitos dias difíceis. Mas a porta para o diálogo com a Grécia continua aberta. Devemos isso ao povo grego.”

Eurogrupo suspende negociações

Também em reação ao discurso televisionado de Tsipras, o chefe do Eurogrupo, o ministro das Finanças da Holanda, Jeron Dijsselbloem, afirmou que os ministros das Finanças da zona do euro discutirão novas propostas enviadas por Atenas, mas que vê “pouca chance” de avanço após os comentários do premiê grego.

“Vamos falar sobre as propostas, mas com este último discurso [de Tsipras] vejo pouca perspectiva de progresso”, afirmou Dijsselbloem aos jornalistas.

Em conferência telefônica, os ministros das Finanças concordaram em não manter mais conversações sobre a ajuda financeira à Grécia antes do resultado do referendo grego. “Eurogrupo unido na decisão de esperar pelo resultado do referendo na Grécia antes de quaisquer novas negociações”, escreveu o ministro eslovaco Peter Kazimir. “Não devemos colocar a carroça na frente dos bois”.

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