Brasil, a barafunda que reúne políticos honestos, delatores mentirosos e investigadores incompetentes

Os 78 delatores do Grupo Odebrecht, que fecharam acordo coletivo de colaboração premiada no âmbito da Operação Lava-Jato, dependem da máxima verdade para garantir a liberdade. Apenas Marcelo Bahia Odebrecht, ex-presidente do grupo empresarial, está preso em Curitiba desde junho de 2015, devendo deixar a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, no segundo semestre deste ano. Isso se tudo der certo e as mais de mil horas de denúncias forem passíveis de comprovação.

Os delatados, por sua vez, não apenas negam as acusações, mas afirmam que todas as doações ocorreram dentro do que determina a legislação eleitoral ou sequer pediram dinheiro para campanhas. Ademais, garantem que jamais agiram fora da lei, como se o Brasil fosse o paraíso dos probos, estão à disposição das autoridades e confiam na Justiça. Isso significa que o País está diante de um vasto grupo de inocentes injustiçados, os quais sofrem perseguição de delatores mitômanos e investigadores incompetentes.

Quem conferiu alguns dos vídeos em que aparecem os delatores da Odebrecht não demorou a perceber que os dirigentes e os ex-executivos do grupo baiano mostraram-se convincentes, à sombra de depoimentos recheados de detalhes e com ordenamento lógico e clareza impressionante. Afinal, a espada da Justiça está a balançar sobre a cabeça de cada um, podendo despencar a qualquer momento. Como nenhum deles tem vocação para mártir, entregar os parceiros de bandalheira é a saída que resta.

Não se deve descartar a possibilidade de os depoentes terem se submetido a treinamento específico (possivelmente media training), o que facilita a eloquência em momentos de dificuldades e tensão, mas é inaceitável a reação dos denunciados, que com discursos prontos, desconexos e repetitivos ousam sugerir que os delatores organizaram um jogral da mentira.


É preciso reconhecer que a legislação garante ao cidadão o direito de não produzir provas contra si, assim como estabelece que todos são considerados inocentes até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, porém a política brasileira demonstrou nas últimas décadas ser irmã siamesa da corrupção.

Lula, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff, Michel Temer, Renan Calheiros, Eunício Oliveira, Eliseu Padilha, Moreira Franco, Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Aloísio Nunes Ferreira Filho, Fernando Haddad, Gilberto Kassab, Sérgio Cabral Filho, Rodrigo Maia, Beto Richa, Tião Viana, Lindbergh Farias, Eduardo Paes, Jorge Viana, Fernando Collor, José Agripino Maia, Ciro Nogueira, Romero Jucá, Kátia Abreu, Edison Lobão, Valdir Raupp, Marta Suplicy, Arlindo Chinaglia, Vicentinho, Zeca Dirceu, Vicente Cândido, Carlos Zarattini, entre tantos próceres (sic) da política nacional, foram acusados apenas porque os delatores estavam com elevado estoque de criatividade e os investigadores com tempo a perder.

A cortina do palco da política nacional está puída e deve cair sobre a extensa maioria dos farsantes no momento em que os acusados sem direito a foro privilegiado, diante de iminente condenação, decidirem soltar a voz e contar detalhes do esquema de corrupção que está prestes a dragar as três maiores legendas do País: PT, PMDB e PSDB. Sem contar os “puxadinhos” que reúnem alguns alarifes com mandato.

Contudo, se por um lado a força-tarefa da Operação Lava-Jato não deriva da gênese de Pôncio Pilatos, por outro é preciso estar atento ao surgimento de salvadores da humanidade e espertos profissionais e de plantão, que por enquanto estão quietos como pássaro na época de troca das penas.

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