Calheiros e Alexandre Padilha se unem para encenar peça que mescla falsa bondade com incompetência

Jogo de cena – Quando dois políticos se unem para produzir uma cortina de fumaça, o resultado dificilmente é dos melhores. Presidente do Senado e enfrentando forte pressão da opinião pública para deixar o cargo, Renan Calheiros (PMDB-AL) se juntou ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), para injetar mais um anestésico no inconsciente coletivo.

Calheiros, que tenta resistir à pressão popular, aceitou a sugestão de Alexandre Padilha e transferir para o Sistema Único de Saúde (SUS) os médicos e profissionais de saúde que trabalham na Casa legislativa. A iniciativa, que será contestada na Justiça, é um embuste desenhado a quatro mãos, porque a transferência desses profissionais para o SUS em nada alterará a dura realidade da saúde pública no Distrito Federal, assim como acontece na extensa maioria das cidades brasileiras.

Acabar com o serviço ambulatorial no Senado é um ato impensado de Renan Calheiros, agora infectado pelo vírus do populismo barato. A população do Congresso nacional – fixa e flutuante – é maior do que a de muitas cidades do País. Brasília é uma cidade com clima extremamente seco durante boa parte do ano e o prédio que abriga o parlamento tem setores que são verdadeiras masmorras, que levam facilmente uma pessoa à desidratação.

O presidente do Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo (Sindilegis), Nilton Paixão, disse na terça-feira (26) que a reforma administrativa implantada por Renan Calheiros é ilegal, pois foi viabilizada por um ato da Mesa Diretora, o que contraria a legislação vigente. “Fez-se uma minirreforma por um ato da Mesa Diretora do Senado, e não por um projeto de resolução, como está previsto em lei. O plenário do Senado precisa dar o aval a isso, não pode ocorrer simplesmente por um ato”, declarou o presidente do Sindilegis.

O viés oportunista da decisão de Renan Calheiros, que tenta escapar de mais uma ejeção da presidência do Senado, é facilmente comprovado pelo fato que muitos dos que trabalham no setor de saúde da Casa são servidores concursados e continuarão recebendo seus salários.

Que Renan Calheiros, entre as operações matemáticas, especializou-se na adição, até porque suas vacas valem mais que as correlatas e sacras da Índia, não consegue enxergar que a extinção do serviço ambulatorial do Senado aumentará em aproximadamente R$ 20 milhões os gastos com a saúde dos servidores. Sem contar que esse serviço é extremamente útil em casos de pronto atendimento.

Já o ministro Alexandre Padilha, que acalenta o sonho de despejar Geraldo Alckmin do Palácio dos Bandeirantes, parece não se incomodar com declarações absurdas. O titular da Saúde considera a transferência dos servidores para o SUS um “gesto importante” do Senado para o País. “Isso poderá dar uma grande colaboração do sistema de saúde do GDF”, completou Padilha.

Como no caso de Renan Calheiros há mais de 1,6 milhão de brasileiros pedindo o seu impeachment, em relação ao ministro da Saúde o jeito é pedir licença a Jô Soares e gritar “Vai pra casa Padilha!”.