Carne Fraca: mais países estão em alerta por causa do escândalo no setor de carne brasileiro

Em meio ao escândalo que surgiu no rastro da Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal, Hong Kong, maior importador de carne bovina do Brasil, suspendeu temporariamente nesta terça-feira (21) a importação de carne brasileira. A medida de precaução foi anunciada pelo Centro de Segurança Alimentar do país asiático, que mencionou que “a qualidade da carne exportada do Brasil é questionada”.

Também nesta terça-feira, um dia após ter anunciado a suspensão das compras de carne de frango do frigorífico BRF Brasil Foods, a Coreia do Sul voltou atrás após receber a confirmação do Ministério da Agricultura brasileiro de que os carregamentos ao país asiático não continham produtos estragados. Seul decidiu levantar a suspensão, mas intensificará a fiscalização de carnes brasileiras.

No último ano, mais de 80% das 108 toneladas de frango importadas pela Coreia do Sul veio do mercado brasileiro, segundo dados Ministério da Agricultura sul-coreano. O país não importa carne bovina do Brasil.

Na segunda-feira (20), China, Chile e União Europeia (UE) também anunciaram suspensões temporárias e restrições à compra de carnes de frigoríficos brasileiros como consequência da Operação Carne Fraca.

Autoridades dos Estados Unidos informaram que estão “monitorando a situação”. A Rússia observa a reação da UE para decidir o que fazer. O Egito, terceiro maior importador de carne bovina do Brasil, informou o Ministério da Agricultura do Brasil sobre a possibilidade de suspender a compra de carne do país.

Pequim optou por reter em seus portos toda carne proveniente do Brasil, independentemente do frigorífico. A UE decidiu suspender a importação somente das 21 empresas que estão sendo investigadas, porém, destas somente quatro exportam para o mercado europeu.


Ministro ameaça o Chile com retaliação

Após os anúncios de restrições, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, divulgou a suspensão da licença de exportação dos 21 frigoríficos sob investigação na Operação Carne Fraca. No entanto, Maggi disse que continuará permitindo a venda dos produtos no mercado interno, destacando que um controle rígido dos procedimentos protege o consumidor brasileiro. Ora, se em vigor está a suspensão de exportação para os t ais frigoríficos, o mesmo deveria valer para a comercialização no mercado interno.

Além disso, o ministro disse que o Brasil poderá adotar medidas de retaliação contra o Chile caso o país decida suspender por completo a importação de carne brasileira.

“Daqui pra frente tudo pode, mas nos também temos nossos pontos de argumento e vamos argumentar. Nós somos grande importador de produtos do Chile (peixes e frutas) e os produtores brasileiros vivem reclamando que deveríamos criar barreiras”, afirmou. “O comércio é assim, não tem só bonzinho. Comércio é feito a cotovelada”, completou. O ministro admitiu desconhecer o nível da restrição adotada pelo governo chileno.

No Brasil, o setor de carne movimenta cerca de US$ 15 bilhões por ano. Desse total, 30% referem-se à exportação do produto brasileiro. “Significa muito dinheiro nisso, por isso a nossa atenção em não deixar acontecer [uma interrupção]. Não estamos só preocupados com a balança comercial, isso é um ponto, mas esse setor emprega seis milhões de pessoas”, ressaltou Maggi.

“Suspensão seria um desastre”

O ministro garantiu que conversará ainda esta semana com representantes dos mercados para tentar evitar um bloqueio a empresas que não foram atingidas pelas investigações da PF e voltou a defender a qualidade da carne brasileira.

“Não posso simplesmente acabar com nosso sistema produtivo por uma suspeição”, disse. “São problemas de relacionamento de fiscais com donos de frigoríficos. Não dá para dizer que a suspeição é sobre a qualidade do produto.”

De acordo com Maggi, o governo não medirá esforços para manter os mercados. “Não podemos permitir o fechamento de mercados. Para reabrir, serão muitos anos de trabalho”, afirmou.

“[A suspensão das vendas de carne brasileira ao exterior] seria um desastre. Com toda certeza, um desastre, porque a China é um grande importador nosso. A Comunidade Europeia, além de ser o nosso segundo ponto de importação, é também o nosso cartão de visitas”, concluiu o ministro. (Com ABr e agências internacionais)

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