Carne Fraca: suspeito de receber dinheiro de fiscal vai presidir da Comissão de Agricultura da Câmara

Certa feita, de forma desavisada e equivocada, alguém creditou ao general francês Charles De Gaulle a frase “O Brasil não é um país sério”. Independentemente de quem seja o verdadeiro autor, essa lapidar declaração cai como fina luva sobre a realidade nacional.

Não é de hoje que o Brasil debaixo da mambembe teoria do “faz de conta”, como se o País suportasse por muito tempo desmandos aos bolhões e atentados à lei e ao bom senso de maneira recorrente. Com a política verde-loura sendo propulsada pela corrupção, os brasileiros têm assistido a verdadeira enxurrada de absurdos, sem que haja qualquer tipo de reação contra os malfeitores.

Acusado de receber propina do Petrolão, o maior e mais ousado esquema de corrupção da história da Humanidade, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) foi guindado à presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Pedindo socorro à sabedoria popular, colocaram a raposa para tomar conta do galinheiro. Em países razoavelmente sérios, o Congresso já estaria cercado por manifestantes, mas no Brasil esse tipo de reação dá muito trabalho.

Debaixo de um jeito sonso de ser, Lobão começa a “colocar as mangas de fora”, mesmo que na condição de pau mandado de parlamentares ladinos e encalacrados na Operação Lava-Jato. Depois de muitos ensaios de Renan Calheiros (PMDB-AL), enquanto presidente do Senado, o agora comandante da CCJ promete submeter ao colegiado projeto que trata do abuso de autoridade. Um rapapé esculpido a várias mãos que afronta a lógica e ignora a legislação vigente. O objetivo dos parlamentares é engessar as investigações sobre corrupção.


Como se fosse pouco, a Câmara dos Deputados elegeu nesta quinta-feira (23) o novo presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Casa. Trata-se do deputado federal Sérgio Souza, do PMDB do Paraná.

A chegada de Souza à Comissão de Agricultura da Câmara nada teria de estranho se não fosse a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal. Nas investigações que flagraram esquema de corrupção envolvendo fiscais agropecuários e frigoríficos, o nome de Sérgio Souza foi mencionado em diálogos telefônicos, grampeados com autorização judicial, como sendo destinatário de polpudas quantias em dinheiro pagas por Daniel Gonçalves Filho, líder do esquema criminoso desbaratado pela PF na esteira da Carne Fraca.

O nome de Souza surgiu pela primeira em um diálogo de 11 de abril de 2016 entre o ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura no Paraná, Gil Bueno de Magalhães, e um interlocutor identificado como Francisco, representante da Cooperativa Agroindustrial Castrolanda, em Castro, cidade do interior paranaense.

O Congresso Nacional transformou-se ao longo do tempo em um imundo e privado clube de negócios, cujos frequentadores distanciam-se cada vez mais daqueles que os elegeram. Paciência tem limite, dizem os mais experientes, mas a letargia em que está mergulhado o brasileiro chega a assustar.

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