Começa o julgamento dos acusados pelo acidente da TAM, na esteira de erros e equívocos absurdos

Na contramão – Começou há instantes, na 8ª Vara Criminal Federal de São Paulo, o que pode se transformar em um dos maiores equívocos da Justiça brasileira: o julgamento do caso do acidente da TAM no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, tragédia que deixou 199 mortos.

Diferentemente do que apontou o Ministério Público, nem de longe os acusados pelo acidente, Denise Maria Ayres de Abreu, ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Marco Aurélio dos Santos de Miranda, diretor de segurança de voo da TAM, e Alberto Fajerman, vice-presidente de operações da companhia aérea. Considerados culpados pela maior tragédia da aviação comercial brasileira, os três respondem por crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo.

Durante as investigações, que aconteceram sob a intensa pressão do Palácio do Planalto, muitas informações e fatos lógicos e comprovados foram deixados de lado, evitando que o governo do então presidente Luiz Inácio da Silva fosse arrastado para o olho de um furacão que certamente acabaria com a carreira política do ex-metalúrgico.

Às autoridades não importou o conjunto de detalhes importantes que certamente esclareceria o caso, mas, sim, a obediência burra e covarde para atender as ordens truculentas que desceram a rampa do Palácio do Planalto.

O Airbus da TAM que fazia o voo JJ3054, que partiu de Porto Alegre, não conseguiu pousar em Congonhas porque naquele dia, 17 de julho de 2007, chovia na capital paulista e a pista do aeroporto paulistano, que passara por reforma, não tinha recebido o sistema de “grooving”, ranhuras que aumentam a aderência da aeronave ao solo e evitam a formação de lâmina d’água. Por conta desse detalhe, a pista não poderia ter sido liberada para pousos, assunto que cabe à Infraero, empresa do governo federal, e não à Anac, como apontou o relatório final das investigações.

Acusar Denise Ayres de Abreu de ter liberado a pista semanas antes do acidente é o maior dos absurdos, já que uma diretora jurídica da Anac, agência reguladora do setor, não tem competência para tal. Se isso tivesse ocorrido, o que não aconteceu, a culpa ainda assim seria da Infraero, responsável pela infraestrutura aeroportuária no País. O que explica a movimentação intensa e covarde do governo federal nos bastidores da tragédia.

O mesmo pode-se afirmar em relação a Miranda e Fajerman, que em nenhuma hipótese, nem mesmo no mais utópico dos raciocínios, tiveram alguma culpa pelo acidente, que ocorreu pela irresponsabilidade de um governo conhecido por sua incompetência e pirotecnia.

Somente quem conhece os bastidores do caso, com seus devidos detalhes, sabe como foi a pressão para que o governo escapasse da culpa. Para que o leitor do ucho.info consiga imaginar, menos de duas horas depois do acidente já tinha emissários palacianos na cena da tragédia eximindo o governo do PT de qualquer responsabilidade pelo ocorrido. O Brasil estava em choque e os corpos das vítimas ainda eram consumidos pelo calor deixado pelas chamas, mas a sordidez oficial entrou em cena sem qualquer cerimônia.

Para que prevalecessem as ordens dadas pelo governo, alguns destacados palacianos aturam sem escrúpulos depois que as conclusões sobre o acidente começaram a emergir do fundo do mar de tristeza que inundou o País. Para conter a verdade, o Palácio do Planalto fez ameaças covardes, típicas de organizações mafiosas, aos que estavam revelando ao mundo os fatos verdadeiros que levaram ao acidente. Inclusive a quebra de empresas foi incluída no cardápio criminoso do Palácio do Planalto.

Que as famílias das vítimas queiram justiça é natural e justo, mas não se pode levar a julgamento que não tem culpa e que foi condenado antecipada e definitivamente pela opinião pública, vergonhosamente manipulada pelo jornalismo sensacionalista que grassa no Brasil.

Desde os primeiros instantes após o acidente até as muitas horas que se seguiram até que o caso saísse das manchetes, a imprensa brasileira agiu de forma antiética e nada profissional ao explorar a tragédia de maneira sensacionalista. Na disputa pela audiência, cada veículo de comunicação, em específico as emissoras de televisão, surgia com uma informação rotulada como exclusiva, aumentando a dor e a expectativa dos familiares das vítimas. Em uma tragédia nenhum jornalista tem o direito de explorar o fato à exaustão apenas para atender os interesses comerciais de um veículo midiático, ignorando as consequências devastadoras que esse comportamento provoca nos familiares.

Os profissionais de imprensa, que à época se engalfinhavam por uma informação supostamente exclusiva, não tiveram a honradez de dedicar o mesmo empenho na busca pela verdade. Ir contra a opinião pública, influenciada pelos órgãos midiáticos sensacionalistas, requer muita coragem e determinação, algo que o ucho.info faz com muita tranquilidade, uma vez que seu patrimônio maior é a manutenção da verdade e a informação correta, como ela é. Apesar de todas as críticas de que já fomos alvo e de outras tantas que ainda virão, o ucho.info vale-se da consciência para afirmar, sem medo de incorrer em erro, que Denise Abreu, Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Alberto Fajerman.

Para finalizar, contrariando a expectativa dos familiares das vítimas, um detalhe estranho no julgamento poderá colocar o processo na rota da arguição da nulidade. O Ministério Público Federal e a Justiça Federal aceitaram como testemunhas de acusação cinco pilotos, que à época do acidente trabalhavam na TAM. Se não for uma armação para liquidar de vez a companhia aérea fundada pelo comandante Rolim Adolfo Amaro, o que desde o início foi tentado pelas autoridades, certamente existe algo errado e podre nas coxias do caso.

Apenas para lembrar, o editor do ucho.info é o jornalista que mais conhece o caso, pois acompanhou de muito perto os bastidores do maior acidente aéreo da história da aviação brasileira. Por isso fazemos tais afirmações com total segurança.