Covarde e fisiológico, PSDB modula entendimento sobre corrupção e poupa Temer em alegações ao TSE

Cobrar coerência dos políticos brasileiros é tarefa inglória, talvez seja missão impossível. Mesmo assim, não custa insistir no tema, pois dessa maneira a opinião pública apura o processo que separa o joio do trigo.

Logo após a corrida presidencial de 2014, o PSDB ingressou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a chapa Dilma-Temer por abuso de poder político e econômico durante o processo eleitoral. À época, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), político pífio que conseguiu a proeza de ser derrotado por alguém do naipe do Dilma Rousseff, buscava anular o registro da chapa.

O tempo passou e Dilma foi apeada do poder na esteira de crimes de responsabilidade, o que permitiu ao PSDB ascender ao poder central de carona com Michel Temer (PMDB). De olho na eleição presidencial de 2018, os tucanos passaram a apostar todas as fichas no governo peemedebista como forma de estar na dianteira da vitrine política nacional. Como se isso fosse suficiente para cacifar o próprio Aécio como presidenciável.

Um dos piores políticos de todos os tempos, Aécio Neves não foge à regra que reina na seara política, assim como reza pela folclórica tradição tucana: ficar em cima do muro de acordo com o próprio interesse.

No momento em que recorreu ao TSE, o PSDB deu a entender na ação judicial que o caixa da campanha encabeçada por Dilma Rousseff foi abastecido com dinheiro de corrupção. É sabido que política no Brasil só se faz à base de muito dinheiro, na maioria das vezes de origem ilícita ou duvidosa, mas a transgressão acontece de forma isonômica, não deixando de fora da delinquência política esse ou aquele partido. O máximo que se pode afirmar é que determinado partido peca mais do que outro.


Com vários cargos no primeiro escalão do governo de Michel Temer, o PSDB começa a sinalizar que o entendimento sobre corrupção pode mudar com base nas circunstâncias e nos interesses de ocasião. Sem querer perder a chamada “boca rica” e sonhando em subir a rampa do Palácio do Planalto com o apoio do atual presidente da República, os tucanos de novo ficaram em cima do muro.

Nas alegações finais entregues ao TSE, no âmbito do processo que pode cassar o mandato de Temer, o PSDB mostrou ser mais do mesmo. No documento, os tucanos mencionaram episódios investigados no escopo da Operação Lava-Jato para tentar incriminar a petista, mas não creditaram a Michel Temer “qualquer prática ilícita”.

Salvas algumas raras exceções, o PSDB é uma legenda que deixa muito a desejar em termos de prática política. Algo que as delações da Odebrecht comprovarão de forma cabal quando for levantado o sigilo das mesmas.

A questão envolvendo os tucanos é simples. Relator do processo que tramita no TSE e pode entrar em julgamento na próxima semana, o ministro Herman Benjamin (TSE) reuniu argumentos de sobra para pedir a cassação do registro da chapa Dilma-Temer. Ou seja, prevalecendo a lógica jurídica, Michel Temer corre o risco de ser ejetado do Palácio do Planalto. Porém, na prática isso pode não acontecer, porque o jogo político é muito mais sujo do que imagina a vã filosofia.

Na hipótese de Temer ser afastado do poder, o PSDB perderá não apenas os muitos ministérios que ocupa à sombra de um escambo vergonhoso, mas a visibilidade política necessária para chegar em 2018 com condições de participar da disputa presidencial. Enfim, o Brasil já viveu dias melhores, quando políticos eram homens de fato e de respeito.

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