Denúncias de promiscuidade provocam efeito dominó na República

    (*) Gilmar Corrêa –

    Há pouco mais de um mês estourou o escândalo no Ministério dos Transportes. Apaniguados do Partido da República, próximos ao deputado Valdemar Costa Neto (SP), teriam participado de um suposto esquema de propina. O dinheiro público serviria para alimentar um mensalinho. Seria um sistema montado nos moldes do mensalão capaz de apear do poder o ex-presidente Lula da Silva. Ficou o dito pelo não dito.

    Outros cabeludos escândalos se sucederam depois de 2005. E sempre para a opinião pública o presidente da República da época mantinha os olhos vendados, os ouvidos tapados e a boca fechada. A atitude, como no caso dos folclóricos três macacos do Palácio de Nikko (não vejo, não ouço, não falo), fazia parte de um roteiro para não atrapalhar a política de alianças, idealizada pelo ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT).

    Os escândalos do governo Dilma Rousseff (PT) sobre os propinodutos, que começaram com os Transportes, avançaram sobre o Ministério da Agricultura e agora envolvem o Ministério das Cidades, mostram como o sistema está podre. É o loteamento da máquina pública em favor de uma aliança suspeita e capenga. O esquema não é novidade para ninguém.

    Por mais estranho que possa parecer, foi a própria presidente que deu o ponta-pé para acabar com essa pouca vergonha. Pressionada, demitiu duas dúzias de servidores comissionais no DNIT e Valec, incluindo o ex-ministro e senador Alfredo Nascimento.

    Dilma já tinha provado do fel com o caso Antônio Palocci, que até agora não explicou o crescimento assustador de seu patrimônio em menos de um ano. Dilma, portanto, prova do próprio veneno ao construir uma imagem de séria e honesta.

    E para ratificar sua imagem de administradora proba, resolveu fazer a faxina. No auge da crise nos Transportes, a liderança do PR na Câmara já tinha avisado que a mão pesada deveria servir para os demais casos de improbidade. A declaração antecipava mais problemas para a República do Palácio do Planalto.

    Num governo onde só se conjuga o verbo do fisiologismo, já se esperava que a caça às irregularidades iria mexer com mais sujeira. A briga intestina por cargos e, principalmente pelos recursos da Viúva, pode não acabar tão cedo. É bem provável que irá ampliar as denúncias sobre caixas partidárias de arrecadação na administração federal.

    Começou com Transportes, depois foi a vez da Agricultura e agora nas Cidades. O primeiro era dominado pelo PR. No segundo havia um acordo entre o PMDB e o PTB. No terceiro, quem manda é o PP.

    Não será nenhuma surpresa que novas denúncias atingiram outros ministérios e outras estatais, como a Petrobras, onde muitos sindicalistas estão aninhados com salários que ultrapassam a R$ 40 mil, ou na Itaipu Binacional, onde o terreno ainda foi muito pouco explorado pela moralidade.

    A semana começa com os escândalos. E deve terminar com novas denúncias. Mas vai depender de Dilma e dos líderes. Se houver um entendimento, o bueiro do esgoto será tapado. Caso contrário, a administração federal vai pro brejo com todas as irregularidades.

    Vamos torcer para que essa briga continue. Quem sabe, podemos finalmente começar a passar a limpo a política brasileira. Tudo tem preço, mas é preferível pagar essa fatura a financiar os corruptos.