Dilma defende retorno do Paraguai ao Mercosul, mas Cartes está cauteloso

Pé atrás – A primeira visita de Estado do presidente paraguaio, Horacio Cartes, ao Brasil foi dominada pela questão do retorno do país ao Mercosul, impasse que já dura mais de um ano.

A suspensão temporária do Paraguai do bloco econômico sul-americano resultou de pressão exercida pela presidente Dilma Rousseff, que discordou do impeachment de Fernando Lugo, apeado do cargo por decisão do Congresso paraguaio com base na Constituição local. Dilma contou com o apoio dos presidentes do Uruguai e da Argentina em seu projeto de retaliação ao governo de Assunção.

Após reunião de mais de uma hora com Cartes, que tomou posse em agosto, Dilma disse que o Paraguai está em processo de retorno ao bloco, mas “no tempo deles”. A presidente reafirmou o interesse do Brasil em ter o vizinho país no Mercosul, lembrando que as relações bilaterais entre as duas nações não foram prejudicadas ao longo do processo. Tal declaração mostra que Dilma tem conceitos distintos e oscilantes acerca de soberania.

“Nós consideramos que essa participação do Paraguai no Mercosul tem um significado muito importante nesse momento e consideramos também que sermos capazes de integrar da Patagônia ao Caribe [fazendo referência à entrada da Venezuela] torna a nossa região um tecido multilateral muito mais forte”, afirmou Dilma.

Cartes, por sua vez, disse que sabe da importância da integração física ampla do Mercosul, mas avisou que o Paraguai quer voltar a sentar “na mesa grande quando as coisas forem úteis” para ele também.

Reforço a parcerias

Sem a presença do Paraguai, a Venezuela foi incorporada ao bloco e ocupa hoje sua presidência rotativa. Cartes já havia deixado claro, quando tomou posse, que a entrada da Venezuela não estaria de acordo com os acordos internacionais firmados pelos fundadores do bloco, que preveem a aprovação pelo Legislativo de cada membro para o ingresso de um novo país.

“Agora estamos no momento em que o Paraguai consolidou seu processo de normalização democrática superando as dificuldades do passado recente”, disse o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Eduardo dos Santos.

Como exemplo da manutenção das relações durante a crise do Mercosul, Dilma citou a conclusão, em outubro, da linha de transmissão entre a usina de Itaipu e a subestação de Villa Hayes, na Grande Assunção.

“Isso é um símbolo de que tudo o que ocorreu não afetou as relações concretas que existem entre os nossos países”, disse.

Ainda que esta tenha sido a primeira visita oficial ao vizinho sul-americano desde 15 de agosto, Cartes já havia tido outros quatro encontros com Dilma no período, frequência que, segundo a presidente brasileira, expressa a vontade dos dois países de aprofundar as parcerias estratégicas.

Além da área de energia, os dois conversaram sobre infraestrutura – citando parcerias na área ferroviária –, além de ampliação das trocas comerciais e programas de combate à pobreza. Segundo o Itamaraty, o comércio entre Brasil e Paraguai fechou o ano de 2012 em US$ 3,6 bilhões. Até agosto deste ano, o comércio bilateral aumentou 23% em relação ao mesmo período do ano anterior. (Do ucho.info com informações do DW)