Dilma ignorou Dirceu em jantar no Alvorada, mas assunto tomou conta das rodinhas de políticos

dilma_rousseff_520Jogo bruto – Durante o churrasco oferecido aos líderes e presidentes de partidos no Palácio da Alvorada, na noite de segunda-feira (3), a presidente Dilma Rousseff não disse uma palavra sequer sobre a prisão do ex-ministro José Dirceu na décima sétima fase da Operação Lava-Jato, mas o assunto dominou as conversas de ministros, deputados e senadores.

De acordo com os presentes ao rega-bofe, o clima era de muita preocupação com o desfecho político das investigações. O consenso foi que o alvo final será o ex-presidente Lula. Dilma inclusive afirmou que não tem medo que denúncias de corrupção abalem seu mandato e que ninguém deve temer o que vem pela frente.

“Na crise política, as instituições devem ser preservadas. Devemos fazer nossa travessia sem medo. Eu não tenho medo. Eu aguento pressão, eu percebo o que está acontecendo, ouço para mudar e melhorar”, discursou a presidente no encerramento do jantar.

Apesar de não citar especificamente a prisão de Dirceu e a imprevisibilidade da operação Lava-jato, a petista frisou em seu discurso a necessidade de preservação das instituições. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi um dos primeiros a sair do jantar.

De acordo com os convidados, nas mesas, o assunto era somente a prisão de José Dirceu e onde a Operação Lava-jato vai parar. Inclusive, alguns fizeram até piada da situação.

“O consenso nas rodinhas era de que, já que vai prender todo mundo, que prenda logo de uma vez só e acaba com isso. A piada lá era: não é lava-jato, é lava lento e vaza rápido as delações. A operação é lenta, mas os vazamentos vêm a jato. Havia uma preocupação geral de que a operação tem um único objetivo, que é prender o ex-presidente Lula”, contou um dos senadores presentes.

A presidente circulou pelas mesas e tentou centrar as conversas na necessidade da base brigar pela manutenção do ajuste fiscal nas votações da chamada pauta bomba na volta do recesso. No discurso ressaltou que nenhum país no mundo sobrevive sem equilíbrio fiscal, que a prioridade é construir a estabilidade fiscal e financeira, sem a indexação de aumentos vinculados a inflação.

“Não podemos indexar a economia. As condições de ontem não se repetirão hoje. Não teremos outra oportunidade com as commodities. Mas podemos aproveitar a crise para fazer mudanças”, argumentou Dilma, na presença do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

A presidente ainda pediu que os aliados enfrentem as pautas difíceis que serão colocadas na volta do recesso, com “altivez”. “Da estabilidade fiscal eu não arredo o pé. Não quero que votem como carneirinhos mas, como uma base corajosa em nome e para o Brasil”, apelou a petista.

Dilma fez um discurso otimista. Prometeu buscar o diálogo com todas as forças políticas e com o setor produtivo. E para animar a base, fez promessas grandiosas.

“A presidente disse que dentro de dois meses vai entregar os primeiros 39 quilômetros da transposição do Rio São Francisco. E até 2016 vai entregar a obra toda, concluída. Isso é uma notícia maravilhosa para o meu Nordeste. Também anunciou que logo estará fazendo as concessões na área de infraestrutura para dividir a crise com o setor privado”, acreditou o líder do PP, senador Benedito de Lira (AL).

Entre o que Dilma tenta demonstrar e o que de fato enfrenta nos bastidores do poder há uma enorme distância. Isso porque no Palácio do Planalto o clima é de muita preocupação, pois José Dirceu não pagará essa fatura sozinho. Abandonado por Lula e Dilma desde o julgamento da Ação Penal 470 (Mensalão do PT), Dirceu disparou recentemente sua verborragia na direção de ambos. Disse o ex-chefe da Casa Civil que Dilma e Lula são farinha do mesmo saco. Ou seja, Dirceu deu a entender que a dupla pode estar envolvida no Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história.

Por outro lado, o silêncio de Dilma em relação à prisão de José Dirceu tem uma explicação que deve ser considerada. Muitos dos que compareceram ao churrasco no Palácio da Alvorada estão sendo investigados na Lava-Jato. Ou seja, Dilma tentou ser elegante, mas no íntimo estava a comemorar o calvário do seu desafeto. A grande questão é que Dirceu pode contar o que sabe, até porque não lhe resta outra opção que não a delação premiada, já que muitos delatores o incriminaram. (Danielle Cabral Távora e Ucho Haddad)

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