É muito fácil se tornar um doador de medula. Salve uma vida, saiba como

medula_ossea_02Pense nisso – Muita gente confunde transplante de medula óssea com transplante da medula espinhal. Porém, ainda não é possível transplantar um fragmento que seja da medula espinhal, ou seja, da porção do sistema nervoso central que passa por dentro do canal localizado na coluna vertebral.

O transplante de medula óssea se refere a um procedimento clínico que possibilita retirar parte da medula alojada na cavidade interna de vários ossos, aquela parte que no esqueleto dos bovinos, por exemplo, chamamos de tutano.

A medula óssea é formada por tecido gorduroso no qual são fabricados os elementos figurados do sangue: hemácias ou glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Entretanto, ela pode entrar em falência e não ser mais capaz de produzir as células do sangue ou pode ser destruída completamente durante o tratamento de determinados tipos de câncer que exigem altas doses de medicamentos quimioterápicos ou de radioterapia. Quando isso acontece, o transplante alógeno de medula óssea pode ser a única maneira de salvar muitas vidas.

Ao contrário do que muitos imaginam, o procedimento é bastante simples. Colhe-se uma pequena quantidade de células progenitoras da medula óssea do doador e injeta-se no sangue periférico, na veia do receptor. Através da circulação, essas células atingirão o interior dos ossos, lugar onde mais gostam de viver, começarão a multiplicar-se e retomarão a atividade de produzir os componentes do sangue. E, em pouco tempo, o doador terá recomposto completamente sua medula óssea e, se quiser, estará apto para uma nova doação.

Como o organismo tem a capacidade de rejeitar tecidos que lhe são estranhos, apesar de simples, esse procedimento esbarra num grande problema. No caso específico do transplante de medula óssea, essa rejeição tem características muito especiais que dificultam encontrar um doador compatível.

A possibilidade maior é encontrar um doador compatível é entre os irmãos. Como se trata de herança genética, a chance de ser compatível é de 25% por irmão. Portanto, quanto mais irmãos houver, maior a probabilidade de um encontrar um doador nesse grupo familiar.

Hoje, porém, a tendência é existirem famílias cada vez menores. Por isso, entre 60% e 70% dos pacientes que necessitam de um transplante de medula óssea não encontram doadores entre os familiares e precisam tomar outras providências. Vale lembrar que pai e mão não servem como doadores, já que o pai passa metade da herança genética e a mãe outra metade, ou seja, eles são haploidênticos, pois têm apenas metade da informação genética do filho. A chance de encontrar alguém da família (primos, tios etc) totalmente compatível é de 7% a 10%.

A medula óssea tem uma característica diferente porque é ela que produz os glóbulos brancos e o sistema imune. Toda a nossa resposta imune vem da medula óssea. Como no transplante de medula o paciente recebe um novo sistema imune, os glóbulos brancos do doador reconhecem como estranho o organismo do receptor e passam a agredi-lo. É o que se chama de doença enxerto versus hospedeiro, responsável pela maior causa de mortalidade nesse tipo de transplante, e que tem enorme impacto na sobrevida dos pacientes. Por isso, é indispensável que a compatibilidade entre doador e receptor seja absoluta para minimizar, o máximo possível, os danos que essa doença pode provocar.

Por isso, o transplante de medula óssea é completamente diferente dos outros transplantes. Não é o receptor que rejeita o transplante. É a medula do doador que rejeita o hospedeiro. Quando há rejeição, a agressão se manifesta em lesões de pele, de pulmão, de fígado, no trato gastrintestinal, enfim todo o organismo pode ser agredido. Além disso, pode ocorrer um retardo na recuperação do paciente e na produção dos glóbulos brancos responsáveis pela defesa do organismo.

Para ser um doador, a pessoa tem de recorrer aos registros de doadores voluntários. Primeiro, a pessoa precisa preencher um cadastro e colher uma amostra de sangue para um teste de compatibilidade (HLA). O resultado obtido por meio de um exame de laboratório bastante comum é colocado num banco de dados do Ministério da Saúde, o Redome (Registro dos Doadores de Medula).

Sempre que há um paciente que necessite de transplante e não tenha encontrado doador na família, os médicos consultam esse registro. Uma vez localizada uma pessoa compatível, ela será convocada para realizar novos exames de sangue e para uma avaliação clínica a fim de saber se pode de fato doar a medula.

As estimativas mostram que em cada dez mil pessoas registradas, apenas uma será doadora, visto que a probabilidade de encontrar alguém compatível fora da família é muito pequena. E, isso pode variar para um milhão, dependendo de sua herança genética. Se for um tipo mais frequente, sua chance é uma em dez mil. Se for raro, será uma em um milhão. Mas, de um modo geral, é sempre difícil encontrar um doador compatível.

O sangue é colhido nos hemocentros de todos os estados. O doador vai ao hemocentro mais perto de sua casa, colhe uma amostra de sangue e preenche um cadastro. Essa amostra é enviada para um laboratório de histocompatibilidade, que faz um exame e envia o resultado e os dados do doador para o Redome, no Ministério da Saúde. Se um paciente precisar de transplante, realiza-se uma busca nesse cadastro para ver se existe alguém compatível.

Caso o doador seja compatível com o doente, a pessoa é chamada e, se ainda for da sua vontade, irá doar sua medula no centro de transplantes mais próximo de sua casa, isto é, o doador não precisa locomover-se até o local do transplante. A medula que vai congelada num saco como se fosse sangue. Além disso, não existe nenhum custo para o doador. Tudo é pago pelo Ministério da Saúde.

Antes disso, numa primeira etapa, será feita uma avaliação clínica do doador para saber se está em condições de doar a medula sem correr nenhum risco e serão repetidos os exames de sangue. As sorologias são feitas só nesse momento. Não é como na doação de sangue comum que elas são feitas imediatamente para verificar casos de hepatite, sífilis, HIV, etc.

Existem duas formas de doar a medula óssea: por punção de veia periférica para filtração das células-mãe, as células progenitoras, através de um aparelho ou puncionando a medula diretamente da cavidade do osso.

A doação por punção da veia periférica é um procedimento parecido com o de doar plaquetas do sangue. Antes o doador recebe um medicamento que estimula a produção de células brancas, principalmente de células progenitoras imaturas, que migram da medula óssea para as veias. Cinco dias depois, o sangue passa por uma máquina semelhante à de diálise, onde é filtrado para coletar essas células. Em média quatro horas de filtração bastam para conseguir a quantidade necessária de material que será processado e levado para o paciente que precisa do transplante. Esse procedimento dura, em média, quatro horas.

A outra forma é puncionar diretamente a medula óssea do osso usando seringa e agulha. São feitas punções no osso do quadril para aspirar o material que contém as células progenitoras do sangue. Nesse caso, o doador é anestesiado para que não sinta dor. Esse procedimento dura 40 minutos.

Qualquer pessoa entre 18 e 55 anos, e em bom estado de saúde, pode ser doadora de medula óssea. Não existe nenhum outro critério para exclusão. Apesar disso, o desconhecimento sobre a doação de medula óssea é muito grande. Geralmente, quando as pessoas são informadas de como é fácil ser doador voluntário ficam surpresas. Não podiam imaginar que doar a medula óssea fosse simples nem que pudesse ser feita em vida. Não sabiam que ela se reconstitui, se regenera em pouco tempo. Nesse campo, a falta de informação é o principal obstáculo.

As pessoas só costumam se sensibilizar quando veem o desespero e o sofrimento de uma família que procura um doador para alguém muito próximo.

Passo a passo para se tornar um doador

– Qualquer pessoa entre 18 e 55 anos com boa saúde poderá doar medula óssea. Esta é retirada do interior de ossos da bacia, por meio de punções, sob anestesia, e se recompõe em apenas 15 dias.

– Os doadores preenchem um formulário com dados pessoais e é coletada uma amostra de sangue com 5 a 10ml para testes. Estes testes determinam as características genéticas que são necessárias para a compatibilidade entre o doador e o paciente.

– Os dados pessoais e os resultados dos testes são armazenados em um sistema informatizado que realiza o cruzamento com dados dos pacientes que estão necessitando de um transplante.

– Em caso de compatibilidade com um paciente, o doador é então chamado para exames complementares e para realizar a doação.

– Tudo seria muito simples e fácil, se não fosse o problema da compatibilidade entre as células do doador e do receptor. A chance de encontrar uma medula compatível é, em média, de UMA EM CEM MIL!

– Por isso, são organizados Registros de Doadores Voluntários de Medula Óssea, cuja função é cadastrar pessoas dispostas a doar. Quando um paciente necessita de transplante e não possui um doador na família, esse cadastro é consultado. Se for encontrado um doador compatível, ele será convidado a fazer a doação.

– Para o doador, a doação será apenas um incômodo passageiro. Para o doente, será a diferença entre a vida e a morte.

– A doação de medula óssea é um gesto de solidariedade e de amor ao próximo.

– É muito importante que sejam mantidos atualizados os dados cadastrais para facilitar e agilizar a chamada do doador no momento exato.

Caso você decida doar

1. Você precisa ter entre 18 e 55 anos de idade e estar em bom estado geral de saúde (não ter doença infecciosa ou incapacitante). Lembre-se que uma vez no cadastro, poderá ser chamado, se identificado como compatível com algum paciente, até os 60 anos.

2. É possível se cadastrar como doador voluntário de medula óssea nos Hemocentros nos estados.

3. Será retirada por sua veia uma pequena quantidade de sangue (5 a 10ml) e preenchida uma ficha com informações pessoais. Seu sangue será tipificado por exame de histocompatibilidade (HLA), que é um teste de laboratório para identificar suas características genéticas que podem influenciar no transplante. Seu tipo de HLA será incluído no cadastro. Os resultados são confidenciais e servem apenas para os fins do Redome.

Seus dados serão cruzados com os dos pacientes que precisam de transplante de medula óssea constantemente. Se você for compatível com algum paciente, outros exames de sangue serão necessários.

Se a compatibilidade for confirmada, você será consultado para confirmar que deseja realizar a doação. Seu atual estado de saúde será avaliado.
A doação é um procedimento que se faz em centro cirúrgico, sob anestesia peridural ou geral, e requer internação por um mínimo de 24 horas. Nos primeiros três dias após a doação pode haver desconforto localizado, de leve a moderado, que pode ser amenizado com o uso de analgésicos e medidas simples. Normalmente, os doadores retornam às suas atividades habituais depois da primeira semana.

Existe outra forma de obtenção das células-tronco da medula óssea, que utiliza uma máquina específica (aférese) para separar do sangue periférico (corrente sanguínea), as células necessárias para o transplante. Neste caso, o doador tem que receber um medicamento antes da doação (fator de crescimento), que estimula a medula óssea a liberar estas células para a corrente sanguínea. Esta técnica só é utilizada em casos específicos, sob decisão médica e com consentimento do doador.

Importante

Um doador de medula óssea deve manter seu cadastro atualizado sempre que possível.

O Transplante de Medula Óssea é a única esperança de cura para muitos portadores de leucemias e outras doenças do sangue e do sistema imune. Clique e saiba mais.

(Por Danielle Cabral Távora)

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