Em congresso de jornalismo, Moro afirma que Justiça é ineficiente nos crimes do “colarinho branco”

sergio_moro_02Mea culpa – Responsável na primeira instância do Judiciário pelas ações penais decorrentes da Operação Lava-Jato, o juiz federal Sérgio Fernando Moro criticou, nesta sexta-feira (3), a morosidade da Justiça e ressaltou que o sistema “é mais ineficiente” quando envolve os chamados crimes do colarinho branco.

“Nosso sistema, além de moroso, é mais ineficiente contra crimes de colarinho branco”, afirmou o juiz durante o 10° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, em São Paulo.

Moro revelou que vê com preocupação a polarização excessiva das discussões sobre a corrupção no Brasil. Ele ainda alertou que na palestra não poderia entrar no mérito das investigações da Lava-Jato, reforçando que em suas funções tenta não ser ofensivo com os investigados. “Temos que tratar todo mundo com respeito”, ressaltou.

“Vejo com preocupação quando o debate cai para um nível ofensivo. Seja contra acusados, contra o PT ou contra mim”, disse Sérgio Moro, lembrando de ofensas que já sofreu. Ao ser questionado pelo moderador do evento se já havia sofrido ameaças, disse que não concretamente, mas que tomava precauções.

Com a cultura da impunidade prevalecendo no Brasil até recentemente, em especial entre os mais poderosos e mais aquinhoados, levar a cabo uma operação como a Lava-Jato exige não apenas coragem, mas conhecimento jurídico profundo e cuidado para não violar, mesmo que minimamente, o que determina a legislação vigente no País, sob pena de, cometendo algum deslize, colocar a perder a mais importante investigação da história brasileira.

Ao se analisar a Operação Lava-Jato como um todo e o poderio dos que foram levados ao cárcere na esteira de crimes vários – corrupção (ativa e passiva), lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha, entre outros – não é difícil imaginar o nível de retaliação que sofrem aqueles que “ousaram” interromper o maior esquema de corrupção que se tem notícia, com prejuízos bilionários diretos à Petrobras e outras estatais.

Sérgio Moro é um magistrado reservado e por isso não revela em público as pressões e ameaças que sofre, mas os flagrados na Lava-Jato insistem em derrubar, de alguma forma, aqueles que implodiram a roubalheira que financiou políticos e partidos durante uma década.

Prova maior dessa pressão exercida nos bastidores é o editor do UCHO.INFO, que constantemente é ameaçado e está sob contínuo e ilegal monitoramento telefônico-cibernético, como se esse procedimento pudesse interromper o compromisso de passar o Brasil a limpo.

Como sempre alertamos, o nosso estoque de denúncias é grande e até agora utilizamos apenas uma parte dele. Que venham com força todos os descontentes, pois mandar o Brasil pelos ares é uma questão de pouco tempo. (Danielle Cabral Távora com Ucho Haddad)

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