Encantador de Serpentes

    (*) Ipojuca Pontes –

    Lula da Selva, digo, da Silva, sujeito responsável pela intromissão criminosa de figuras do porte de Delúbio Soares na vida pública brasileira, apareceu para dizer que Lindbergh Farias, senador pelo PT do Rio de Janeiro, é um “encantador de serpentes”.

    (Ironicamente, Lindbergh, ex-presidente da UNE, braço radical do PC na vida estudantil do país – e entidade viciada em mamar nos cofres públicos -, entrou na política pelas mãos de Collor de Melo: em 1992, pressionado pela confraria das esquerdas, o imaturo presidente convocou o povo a sair pelas ruas para protestar contra os que queriam depô-lo. Em vez do povo, apareceu a tropa de choque da UNE, com o estudante “baby face”, de cara pintada, no meio do agito geral. Sem a tola convocação de Collor, não existiria o atual senador do PT).

    Agora, o Dr. Lula (arrolado pela Polícia Federal em inquérito como conivente com repasse de US$ 7 milhões da Portugal Telefônica para os cofres do PT) quer fazer de Lindbergh, a todo custo, governador do Rio de Janeiro. É caso de reincidência específica. Em 2004, o ex-sindicalista fez do cara-pintada prefeito de Nova Iguaçu, um dos principais municípios da Baixada Fluminense.

    Mas depois de dois mandatos, LF deixou de encantar serpentes no problematizado município. Tido como político que quebrou a cidade, “Lindinho” (como passou a ser chamado, pejorativamente), além de carregar o ônus de ver sua candidata repudiada nas eleições, responde um inquérito no STF com acusações de corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

    Segundo matéria da Época (25/03/2013), o negócio fede: no rolo, a ex-Chefe de Gabinete da Secretaria de Finanças da prefeitura, Elza Araújo, declara que, desde o início do mandato, LF montou um esquema de captação de propina entre empresas contratadas pelo município. O valor de cada propina podia chegar a R$ 500 mil por contrato. “O dinheiro sujo”, afirma Elza, “chegava à sala da secretaria em bolsas e maletas trazidas por empresários. Depois as quantias eram usadas para quitar despesas pessoais de Lindbergh”.

    As denúncias não ficam por aí: entre os “malfeitos”, há o caso de uma empresa encantada, a R7, que recebia pagamentos, mas não entregava as mercadorias vendidas. Segundo Elza, o esquema também bancava prestações e abastecia a conta de empresa de familiares do senador do PT, que nasceu na Paraíba, mas defende com furor o direito do Rio se apropriar, indevidamente, dos royalties do petróleo pertencentes aos estados da Federação.

    Com um currículo desses, e ainda por cima apoiado na forte engrenagem montada por Lula, dificilmente Lindbergh deixará de ser o próximo governador do Rio, um Estado cuja população ainda se intoxica com o velho trololó de um porvir venturoso incensado há décadas pela finória esquerda festiva.

    É verdade que os outros candidatos não são menos dotados: um deles, de nome Pezão, vice-governador pelo PMDB, é cria de Sérgio Cabral, o governador acusado de enriquecimento precoce e dono de um Taj Mahal na costa de Mangaratiba, (sub)avaliado em R$ 1,5 milhão. Por sua vez, Anthony “Trêfego” Garotinho, outro candidato, já foi condenado pela Justiça Federal a dois anos e meio de prisão por formação de quadrilha.

    Como de praxe, os candidatos partiram para cenas de pugilato verbal. Jorge Picciani, que preside o PMDB do Rio, diz que Lindbergh é “covarde, moleque e carreirista”. O senador do PT rebate: “Não tenho mansão incompatível com meus rendimentos. Vou ser candidato com tudo aberto, minhas contas, meu patrimônio”.

    E com a entrada em campo do Garotinho, que denunciou a presença de Cabral no banquete da “Dança da Garrafa”, em Paris, a chapa vai esquentar.

    PS – Não existem “encantadores de serpentes”. Elas são capturadas nas matas, têm suas presas arrancadas e são submetidas a longos períodos de fome. Como aditivo, os domadores indianos passam urina de rato nas flautas, cujo cheiro evoca comida, uma espécie de Bolsa Família das cobras. Tal prática, um truque sujo para domá-las e fazê-las dançar, talvez explique o fascínio de Lula pela perversa confraria.

    (*) Ipojuca Pontes, ex-secretário nacional da Cultura, é cineasta, destacado documentarista do cinema nacional, jornalista, escritor, cronista e um dos grandes pensadores brasileiros de todos os tempos.