Eventual cassação de Roseana desmontará o projeto político do clã comandado pelo caudilho Sarney

Encaixando as peças – Cassar ou não cassar? Eis a questão. Essa pergunta nove entre dez brasileiros têm feito desde que foi anunciada, na noite de quarta-feira (7), a decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de requerer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a cassação do mandato da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e do vice Washington Luiz Oliveira (PT).

Roseana é acusada de abuso de poder econômico e de autoridade durante a campanha eleitoral de 2010, quando a peemedebista, que estava no Executivo estadual, firmou com prefeituras maranhenses centenas de convênios com viés eleitoreiro. A ação pedindo a cassação do mandato de Roseana foi protocolada pelo ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB), que no passado integrou o grupo político comandado por José Sarney.

A grande questão é se de fato a cassação do mandato da governadora Roseana Sarney será consumada. A dúvida se justifica, porque no Brasil, onde as leis são desrespeitadas de maneira contínua, ainda prevalece a teoria obtusa e tacanha do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

No processo, que no TSE aguardava um parecer do Ministério Público Federal, sobram provas dos crimes eleitorais cometidos por Roseana, que não pode reclamar de uma eventual decisão desfavorável, pois ela própria se valeu dos mesmos argumentos para pedir a cassação do então governador Jackson Lago (PDT), quem em 2006 derrotou a filha do “coronel” Sarney nas urnas.

O senador José Sarney atuou intensamente nos bastidores para evitar a cassação do mandato da filha, inclusive com indicação da advogada Luciana Christina Guimarães Lóssio, que já defendeu Roseana, como ministra efetiva do TSE. Luciana Lóssio, não por acaso, é a relatora do processo de perda de mandato da governadora maranhense. Acontece que o momento atual é inadequado para qualquer manobra radical nas coxias do Judiciário. As recentes manifestações populares deixaram as autoridades alertas, incluindo nesse rol as do Judiciário, que continua olhando e ouvindo os protestos.

O processo tem provas suficientes e incontestáveis, o que reforça a tendência pela perda do mandato da integrante do clã que em cinco décadas conseguiu a proeza de transformar o Maranhão na mais pobre unidade da federação.

Confirmada a cassação de Roseana, o projeto político de José Sarney irá pelos ares. Com 83 anos e problemas sequenciais de saúde, o senador anunciou, há meses, a intenção de não concorrer a novo mandato eletivo. Para manter o controle político no estado, Sarney decidira que, em 2014, Roseana seria a candidata do clã ao Senado Federal, onde a governadora já cumpriu mandato. Caso o TSE decida pela cassação, Roseana ficará inelegível, obrigando o pai a encontrar outro nome para disputar uma vaga na Câmara Alta.

Apesar desse imbróglio, que com o parecer de Roberto Gurgel fica mais nítido, no Amapá, estado pelo qual o maranhense elegeu-se senador, havia um acordo entre partidos para que Sarney fosse o único candidato ao Senado, concorrendo à vaga que se abrirá ao final da corrente legislatura.

O grande senão nesse enxadrismo político é que, prevalecendo as hipóteses acima mencionadas, a família perderá boa parte do poder político que detém, principalmente no Maranhão. Com isso, alguns integrantes do grupo de Sarney podem orquestrar uma rebelião de última hora, provocando uma cizânia na política local. E candidatos ao papel de desertor não faltam na terra do arroz de cuxá e da vinagreira.