Festa Literária Internacional de Paraty

Centenário da morte de Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”, terá espaço especial na Flip

(*) Everton Amaro

20081124-euclidesNo calendário da literatura brasileira, o ano de 2009 marca o centenário da morte do escritor Euclides da Cunha. O autor de “Os Sertões” será assunto na sétima edição da Festa Literária Internacional de Paraty. Entre os dias 1º e 5 de julho, um grupo de especialistas discutirá características do conjunto de obras do escritor. No dia 4, acontecerá a mesa de discussão “O Mar e Os Sertões – Euclides da Cunha, 360°”, que, a partir das 15h30, reunirá os professores Walnice Nogueira Galvão e Francisco Foot Hardman, além do escrito e cronista Milton Hatoum. O encontro acontecerá na Casa de Cultura de Paraty , com mediação do jornalista Daniel Piza.
Publicado em 1902, a obra “Os Sertões” nasceu da cobertura jornalística de um dos conflitos mais sangrentos da história brasileira: a campanha do exército contra revoltosos instalados na cidade baiana de Canudos. Outros correspondentes já acompanhavam as tentativas do exército de derrotar os seguidores de Antônio Conselheiro. Mas Euclides se destacava como o escolhido natural do jornal. Seus relatos apresentam tanto aspectos físicos da região do sertão como palpites sobre as dificuldades táticas e estratégicas do levante.
Professora de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Walnice Nogueira comenta o aspecto literário do conjunto da obra de Euclides. “Trata-se de um livro difícil, que não é entretenimento e cuja leitura faz o coração bater forte”, diz Walnice.
Para o professor titular do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, Francisco Foot Hardman, Euclides é um daqueles casos de grande autor que teve o conjunto dos escritos ofuscado pelo brilho da obra-prima. “Acho interessante que neste, como em outros eventos, cursos e debates, sempre que possível, se destaquem os outros planos de sua atividade literária, que incluíram o ensaio, o jornalismo político, a crítica literária, a correspondência, a crônica e a poesia”, comenta Hardman.
Além de “Os Sertões”, o escritor publicou três livros: “Contrastes e Confrontos” e “Peru Versus Bolívia”, em 1907, e “À Margem da História”, em 1909. O autor escreveu também diversos artigos, crônicas e poesias. Ao comentar sobre a importância da obra de Euclides, o cronista e escritor Milton Hatoum assinala o caráter científico e a missão civilizadora do autor. “Euclides, como bom positivista, acreditava no progresso e na ciência, temas que ele aborda nos ensaios sobre a Amazônia”, explica Hatoum. “Mas ele sabe que a ‘civilização’ e os ideais republicanos falharam, e são mais bárbaros que os nativos que ele, Euclides, critica. Penso que esses temas são importantes”, completa.

Canudos: Rendição das forças de Antônio Conselheiro
Canudos: Rendição das forças de Antônio Conselheiro
Euclides da Cunha nasceu em 1866, na então província do Rio de Janeiro. Cursou a Escola Politécnica e tornou-se engenheiro militar. Mas sua vocação sempre foi a escrita. Em 1897, viajou para o sertão da Bahia para cobrir a Guerra de Canudos.
Listado entre os mais importantes escritores brasileiros, o autor de “Os Sertões” morreu em 15 de agosto de 1909, aos 43 anos, assassinado pelo amante de sua mulher Ana, o militar Dilermando de Assis. Com um desfecho trágico, a história já rendeu até roteiro de minissérie de televisão.
A esposa de Euclides teve dois filhos com o militar. Um morreu de inanição, trancado num quarto, e o
outro, por sua vez, era tratado como “a espiga de milho no meio do cafezal”, por ser o único louro numa família em que todos tinham a pele morena.
Visto por muitos críticos como um disseminador de teorias eugênicas, o escritor profetizava “o esmagamento inevitável das raças fracas pelas raças fortes”. Há quem diga que esse foi um dos motivos que levou Euclides a empunhar uma arma para tirar a vida do amante da esposa, culminando na sua própria morte.

Toda a programação do evento pode ser conferida no site da Flip.