FMI e Banco Mundial alertam os emergentes e torcem para os EUA evitarem falência

Sinal de alerta – Para os quase 11 mil participantes do encontro anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, que terminou no final de semana em Washington, a crise de endividamento do euro se tornou, de repente, um tema secundário. Ministros, banqueiros e jornalistas tiveram olhos somente para a utópica disputa entre democratas e republicanos nos Estados Unidos, uma queda de braços eminentemente política que pode provocar consequências devastadoras na economia global

Até agora, o presidente Barack Obama e os políticos republicanos não foram capazes de chegar a um consenso sobre o orçamento do país e a elevação do teto de dívida pública, mostrando que o impasse desafia o relógio e coloca nuvens carregadas no horizonte planetário.

Caminho complexo

O planeta continua apostando em uma situação que tornou-se comum nos últimos anos: a de que os políticos norte-americanos deixarão para o último minuto do segundo tempo da prorrogação o desfecho sobre a economia dos EUA, evitando assim a inadimplência, conhecida no mercado financeiro como “default”. O prazo final para evitar a falência da maior economia global é a próxima quinta-feira, 17 de outubro.

Na opinião de muitos participantes do encontro em Washington, apenas a elevação do teto da dívida pública será insuficiente no longo prazo. Mesmo assim, qualquer solução que contemple um prazo médio será muito melhor do que a proposta apresentada pelos republicanos na última semana, de elevar o teto da dívida ianque por 45 dias. Essa queda de braços tem, de um lado, o presidente Barack Obama e, de outro, os integrantes do chamado “Tea Party”, banda ultrarradical do Partido Republicano.

Carta na manga

Como noticiou o ucho.info em matéria anterior, o presidente Barack Obama pode chamar para si a decisão de aumentar a dívida pública do país, ignorando o impasse que só cresce no Congresso. Na verdade, os republicanos do Tea Party estão forçando a situação para que isso de fato aconteça, pois a Constituição norte-americana, que é absolutamente enxuta, não confere ao presidente esse direito.

Diante do desrespeito da Carta Magna, Obama estaria sujeito a um processo de impeachment, que seria aprovado na Câmara dos Representantes, dominada pelos republicanos, mas tropeçaria com certa facilidade no Senado, cuja maioria é democrata.

Emergentes de olhos abertos

A recuperação da economia dos EUA registrada nos últimos meses trouxe um pouco de alívio à economia global, principalmente nos chamados países emergentes. Contudo, apesar do anúncio feito no começo deste ano de que poderia abandonar política monetária mais frouxa, o presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, deve rever sua decisão diante do cenário atual. Isso porque o Estado, que é responsável por 20% do PIB norte-americano, pode se ausentar do mercado na condição de consumidor, o que comprometeria a recuperação da economia do país no médio prazo.

Mesmo assim, em algum momento deverá ocorrer uma mudança na política monetária do país, mas os países emergentes devem estar preparados para essa situação. A eventual transição com vista a uma normalização da política monetária deve ser “cuidadosamente sintonizada e coordenada, bem como claramente comunicada”, afirmou a declaração final do Comitê Financeiro do FMI, divulgada no último sábado (12).

O motivo é que os países emergentes deverão vivenciar uma maciça perda de capital no caso de um aumento da taxa de juros nos Estados Unidos. Por esse motivo, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, alertou os Bancos Centrais de todo o planeta para que trabalhem conjuntamente para minimizar os efeitos colaterais de uma quase inevitável enxurrada de dinheiro no mercado internacional.