Grécia: “não” vence em referendo histórico e coloca o país na corda bamba

grecia_crise_23Tiro no escuro – Os gregos decidiram pelo “não” neste domingo (5) em referendo sobre as exigências feitas pelos credores da dívida do país. Surpreendentemente, 61,31% da população decidiu rejeitar as medidas de austeridade impostas pelos financiadores da dívida grega em troca da liberação do resgate econômico. Os favoráveis ao “sim” somaram 38,69% dos votos.

Milhares de pessoas que carregam a bandeira nacional comemoram o resultado na praça Sintagma, em Atenas. Em pronunciamento na televisão estatal antes do anúncio do resultado, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, afirmou que o povo grego fez uma escolha “histórica e valente”. “Essa resposta vai alterar o diálogo existente com a Europa”, declarou.

Tsipras destacou que a “democracia não pode ser chantageada” e que a prioridade da Grécia é restaurar o sistema bancário e estabilizar a economia. O primeiro-ministro disse que voltará à mesa de negociações nesta segunda-feira.

Os bancos gregos foram fechados há uma semana, depois de o Banco Central Europeu (BCE) anunciar a manutenção do nível de créditos de emergência às instituições bancárias. Sem o aumento do nível de liquidez, o governo grego pode ser obrigado a voltar a emitir dracmas – a moeda anterior ao euro.

Em entrevista a jornalistas, o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, afirmou que o país vai buscar um “ponto em comum” com os credores da dívida e que resultado sinaliza um “basta” à austeridade.

Quando apenas 30% das urnas estavam apuradas, estimativas já indicavam uma larga vantagem do “não”. Cerca de 10 milhões de eleitores foram convocados a votar. A participação nas urnas foi de 65%, similar à das eleições gerais, em janeiro. O referendo ocorreu sem incidentes.

Líderes europeus reagem

Em resposta a um pedido de França e Alemanha, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, convocou para terça-feira uma reunião emergencial de líderes da União Europeia (UE) para discutir o resultado do referendo.

Nesta segunda, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês, François Hollande, se encontram em Paris “para contribuir com uma solução duradoura para a Grécia”, diz um comunicado emitido pelo Palácio do Eliseu, sede do governo da França.

O ministro da Economia alemão, Sigmar Gabriel, afirmou que será difícil conceber um novo programa de resgate à Grécia diante da vitória do “não”. “Com a rejeição das regras da zona euro, é difícil imaginar negociações sobre um programa no valor de bilhões”, disse.

A Comissão Europeia informou que “respeita o resultado do referendo na Grécia”. O presidente da instituição, Jean-Claude Juncker, faz consultas com os outros 18 líderes da zona do euro sobre as medidas que devem ser tomadas.

“Este resultado é muito lamentável para o futuro da Grécia”, afirmou em comunicado o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem. “Medidas difíceis e reformas são inevitáveis para a recuperação da economia grega. Vamos agora aguardar as iniciativas das autoridades gregas”, acrescentou.

O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, defendeu que a UE discuta urgentemente um programa de ajuda humanitária à Grécia para evitar que os cidadãos paguem o preço da “situação dramática” vivida pelo país.

Logo na abertura do pregão desta segunda-feira, os mercados asiáticos reagiram de forma negativa ao resultado do referendo.

Credores

O Fundo Monetário Internacional (FMI), o BCE e a Comissão Europeia tinham exigido uma série de reformas econômicas ao governo grego em troca de ajuda financeira.

De acordo com o documento, Atenas poderia receber 15,5 bilhões de euros em financiamentos da UE e do FMI, em quatro parcelas, até o final de novembro. Esse valor é um pouco mais do que o necessário para a Grécia conseguir pagar o serviço da dívida nos próximos seis meses.

Entre as demandas necessárias para Atenas receber o valor estão a redução de pensões, cortes nos salários de funcionários públicos, aumento de impostos sobre alimentos, restaurante e turismo, e a eliminação de isenções fiscais em ilhas turísticas – o que já causou protestos no país, onde o desemprego atinge um quarto da população.

Na última terça-feira, expirou o prazo para Atenas quitar uma dívida de 1,6 bilhão de euros com o FMI. As negociações entre o primeiro-ministro Alexis Tsipras e os credores internacionais se arrastaram por cinco meses sem acordo.

Manifestantes tomaram conta de Atenas nos dias que antecederam o referendo, evidenciando a divisão entre os que defendem as reformas impostas à Grécia e os que rejeitam as medidas. (Com agências internacionais)

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