“Gregos sobreviverão sem programa de resgate”, diz Alexis Tsipras

alexis_tsipras_13Cronômetro acionado – Em entrevista à televisão estatal, o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, afirmou nesta segunda-feira (29) que, caso os credores internacionais ofereçam um acordo, Atenas pagará suas dívidas ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que vencem na terça-feira.

Tsipras disse ainda estar disposto a conversar com líderes europeus para salvar as negociações. “Meu telefone está ligado o dia todo. Quem quer que seja, eu sempre atendo as ligações”, afirmou o premiê grego, um dia antes do iminente calote de Atenas.

Além disso, respondendo às especulações de que ele renunciará caso os gregos votem a favor do avanço de um programa de austeridade no referendo de 5 de julho, Tsipras garantiu que o governo respeitará a decisão da população. Ele reiterou que, votando contra o programa de austeridade, o povo estará fortalecendo a posição de Atenas perante os credores.

“Vamos sobreviver e vamos escolher nosso futuro. Os gregos sobreviverão sem programa [de resgate]”, afirmou.

O premiê grego disse que o resultado do referendo sobre as propostas dos credores internacionais será implementado, qualquer que seja o desfecho da votação. Contudo, ele acrescentou: “Se o povo grego quer prosseguir com os planos de austeridade em perpetuidade, que vão nos deixar incapazes de levantar nossas cabeças, vamos respeitá-lo, mas não vamos ser nós que vão realizá-los.”

Protestos em Atenas

Tsipras, no entanto, rejeitou a possibilidade de um retorno do dracma. “Não acho que o plano deles [instituições europeias e credores] seja empurrar a Grécia para fora da zona do euro, cujos custos seriam enormes, mas sim acabar com as esperanças de que possa haver políticas diferentes na Europa”, disse o primeiro-ministro.

Se por um lado Alexis Tsipras declarou que o pagamento da dívida de 1,6 bilhão de euros ao FMI ainda é possível antes do fim do prazo, o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, afirmou que a Grécia dará o calote nesta terça-feira.

“A Grécia anunciou que não pagará ao FMI. Desta forma, qualquer pagamento futuro do FMI está descartado”, disse Schäuble num programa de entrevista do canal público alemão ARD, também nesta segunda-feira.

Também nesta segunda-feira, manifestantes voltaram a se reunir perto do Parlamento da Grécia e protestaram contra a União Europeia (UE) e o FMI. Aproximadamente 15 mil apoiadores do governo esquerdista de Tsipras participaram do evento, na companhia de ministros do governo.

Os manifestantes pedem que Alexis Tsipras não aceite um acordo com os credores internacionais. “Tsipras é um de nós, uma pessoa comum. E existem pessoas que não gostam disso”, disse a aposentada Satroula Noutsou.

De acordo com pesquisa do último final de semana encomendada pela revista “To Vima”, 47% dos gregos são a favor das medidas de austeridade propostas pelos credores. Apenas 33% se opõem.

A história se repete

A proposta de referendo é uma estratégia política apresentada pelo ministro de Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, que pretende não ser responsabilizado de forma isolada por eventual débâcle da economia do país. Isso porque Alexis Tsipras foi eleito no vácuo de promessas impossíveis de serem cumpridas, já que o discurso de campanha teve como base um punhado de utópicas teorias esquerdistas.

Tsipras venceu a eleição vendendo de maneira camuflada a ideia de um calote nos credores internacionais, como se a comunidade financeira tivesse obrigação de financiar a economia grega e suportar os atos irresponsáveis dos governantes do país.

O erro maior da Grécia foi aderir à União Europeia, projeto que nivelou por cima a realidade econômica, monetária e inflacionária dos estados-membros. Ou seja, o país que estava na zona de conforto não aceitou descer degraus, mas puxou à força os que estavam nos subterrâneos da crise econômica.

No âmbito do agendado referendo, é importante lembrar que o então primeiro-ministro grego Georges Papandreou anunciou medida idêntica, em novembro de 2011, para decidir sobre um acordo europeu que implicava um perdão de 50% da dívida do país e a imposição de um conjunto de medidas de austeridade.

À época, apesar das duras críticas, Papandreou disse aos seus ministros que o referendo seria “um mandato claro e uma forte mensagem dentro e fora da Grécia sobre o nosso trajeto europeu e a nossa participação no euro”.

“O dilema não é ter este ou outro governo. É sim ou não ao acordo de resgate, sim ou não à Europa, sim ou não ao euro”, declarou, na ocasião, o primeiro-ministro grego, que não explicitou naquele momento a pergunta que seria apresentada no referendo. Uma semana após o anúncio, Georges Papandreou deixou o governo da Grécia, depois de selar acordo com os partidos de oposição.

Considerando que a história é feita de fatos que se repetem, Alexis Tsipras deveria redobrar a dose de responsabilidade ao tratar do calote que ganha força na comunidade internacional.

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