Impeachment: aeroporto de Brasília quer transformar Janaína Paschoal em celebridade

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O processo de impeachment de Dilma Rousseff atendeu ao que determina a Constituição Federal, respeitou o disposto na lei pertinente e garantiu – e ainda garante – o amplo direito de defesa da acusada. Por mais que a esquerda brasileira esperneie diante de fatos incontestáveis, alegando trata-se de um golpe parlamentar (que acabará com as conquistas sociais e os direitos trabalhistas), não há a menor possibilidade de lançar dúvidas sobre a legalidade do processo.

De igual modo, não se pode aceitar, em qualquer hipótese, a transformação dos responsáveis pela denúncia em estrelas de ocasião, até porque essas pessoas agiram em nome da pátria, não em busca de uma fama repentina que não lhes cabe.

Signatária da denúncia contra a presidente afastada Dilma Rousseff, a advogada Janaína Paschoal, que teve como parceiros de empreitada os ilustres juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr., tem buscado os holofotes no rastro de discursos acalorados, os quais não encontram espaço em momento de tamanha importância e responsabilidade, como é o de um processo de impeachment do presidente da República.

Para provar que o impeachment de Dilma Rousseff vem ganhando contornos de “espetacularização”, tanto por parte da defesa quanto por parte da acusação, a administração do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, solicitou ao Senado Federal informações sobre a chegada de Janaína à capital dos brasileiros. A concessionária do aeroporto quer montar um esquema de segurança especial para a advogada, como se isso fosse necessário. Quem conhece o Aeroporto JK sabe que é possível deixar o local sem enfrentar eventuais manifestantes contrários ao impeachment. E essa logística independe de esquema especial de segurança ou qualquer outro movimento correlato.

O julgamento final do impeachment é aguardado por todo o País, mas está longe de ser um espetáculo. É, sim, um capítulo importante da história nacional, ao mesmo tempo triste, apesar de o Brasil precisar se livrar da devastadora incompetência de Dilma Rousseff. Tratar Janaína Paschoal como celebridade é tão irresponsável quanto acreditar que Dilma é imprescindível ao País.


Se a preocupação da administração do aeroporto de Brasília é com a segurança da advogada, que a viagem até a cidade aconteça em avião privado, pois em voo de carreira Janaína corre muito mais riscos do que em qualquer outro lugar. Afinal, entre as nuvens não há para onde correr e escapar da eventual fúria dos contrários ao impeachment. Considerando que certas são as pesquisas que apontam ser de dois terços da população o contingente favorável ao afastamento de Dilma, um terço dos passageiros do tal voo dedicará olhares raivosos e fulminantes à advogada.

Ainda em relação à segurança, Janaína Paschoal demonstra, no cotidiano, não ser uma pessoa preocupada com esse quesito. A advogada costuma caminhar de forma descontraída pelas ruas do bairro onde mora na capital paulista, muitas vezes acompanhada dos filhos, com os quais, em dadas ocasiões, trava ruidosas discussões. Para quem quer escapar da peçonha alheia, discrição é a melhor receita. Ademais, tomando o processo de impeachment como base de análise, caminhar pelas ruas da maior cidade brasileira é mais perigoso do que desembarcar no aeroporto de Brasília.

Muito mais complexo e perigoso do que o processo de impeachment de Dilma Rousseff é a Operação Lava-Jato, pois envolve elevado número de pessoas poderosas que mergulharam no oceano da corrupção, mas que acabarão atrás das grades por conta das investigações. Responsável, juntamente com o empresário Hermes Magnus, pela denúncia do esquema de corrupção que hoje é conhecido como Petrolão, o editor do UCHO.INFO caminha a pé pelas ruas paulistanas com a mesma tranquilidade com que dezenas de vezes desembarcou no aeroporto de Brasília.

Não se trata de menosprezar a competência de Janaína Paschoal como profissional do Direito, mas o Brasil vem pagando um preço extremamente caro para, na reta final, fazer do impeachment um megaevento. Ser patriota exige que qualquer verbo atenha-se à primeira pessoa do plural, ao passo que o oportunismo sempre agarra-se à primeira do singular. Muito mais do que uma escolha, patriotismo é uma questão de consciência.

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