Integrantes do primeiro escalão do futuro governo dos EUA discordam de Trump, que fica em “saia justa”

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Ou Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, desmonta parte da sua equipe de governo, ou assume que é um fanfarrão profissional. Depois de defender um bom relacionamento com a Rússia, rasgar elogios a Vladmir Putin, criticar as agências de inteligência norte-americanas e incentivar a tortura como método investigatório, Trump assiste a uma intifada deflagrada por pessoas indicadas para postos-chave do novo governo.

Na quinta-feira (12), dois indicados pelo presidente eleito para integrar o primeiro escalão do governo desautorizaram o próprio chefe durante sabatinas no Senado dos EUA. Não se trata de mentira (sic) inventada pela imprensa, mas de afirmações feitas por pessoas escolhidas a dedo pelo magnata bufão.

Futuro secretário de Defesa, James Mattis, e o próximo chefe da Agência Central de Inteligência (CIA), Mike Pompeo, adotaram discursos contrários às estapafúrdias declarações de Trump. Ambos destacaram a importância do apoio dos EUA à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), defenderam as agências de Inteligência do país, fizeram duras críticas à Rússia, não pouparam Putin e condenaram a retomada de métodos de tortura em interrogatórios. Em suma, colocaram o próximo inquilino da Casa Branca em situação de dificuldade.

Uma das mais polêmicas e contestadas nomeações feitas por Trump, o general reformado Mattis, conhecido como “Cachorro Louco”, foi claro e incisivo ao alertar sobre o perigo que representa a Rússia, destacando que Moscou “suscita sérias preocupações em várias frentes”, principalmente quanto à OTAN.

“As principais ameaças aos interesses americanos começam com a Rússia. A realidade é que lidamos com o senhor (presidente russo, Vladimir) Putin, e reconhecemos que ele está tentando destruir a Aliança Atlântica” afirmou Mattis, ressaltando que a OTAN é de suma importância para a defesa dos EUA.

Durante a campanha, Donald Trump questionou a importância da OTAN, alegando que os EUA gastam muito mais dinheiro com a aliança do que os outros países integrantes. O eleito foi além e afirmou que poderia deixar de defender os parceiros na OTAN, contrariando o estatuto de defesa mútua, um dos esteios da organização.


Não contente, James Mattis contrariou Trump mais uma vez ao defender a manutenção do acordo nuclear firmado pelos EUA e outras potências com o Irã, em 2015. Para o general, o pacto é imperfeito, mas deve ser mantido. Durante a campanha, o bilionário republicano ameaçou mandar pelos ares o acordo, classificado por ele como “desastre”.

O futuro secretário de Defesa arrumou mais um ponto de conflito com o presidente eleito dos EUA. Disse ser contrário à transferência da embaixada norte-americana em Israel para Jerusalém. A proposta de Trump foi um desafio à postura decenal de Washington em relação ao Estado de Israel. “Neste exato momento, eu fico com a (atual) política dos Estados Unidos”, disse Mattis, ao responder a pergunta do senador republicano Lindsey Graham.

Próximo chefe da CIA, Mike Pompeo não teve problemas para revelar posição antagônica à de Trump. Ele defendeu as agências de Inteligência dos EUA, constantemente atacadas pelo futuro chefe, afirmando ter total confiança nos relatórios que apontam Moscou como responsável pelos ataques cibernéticos durante a campanha presidencial, os quais teriam beneficiado Trump na corrida À Casa Branca. “Foi uma ação agressiva russa. Eu não tenho qualquer dúvida sobre as descobertas nos documentos da Inteligência”, disse Pompeo.

Assim como o futuro secretário de Defesa, Mike Pompeo posicionou-se contra a adoção da tortura como ferramenta de investigação. Durante comício, o destrambelhado Trump disse “gostar muito” do waterboarding (afogamento simulado) para extrair informações de prisioneiros, defendendo a reintrodução desse método criminoso no país. Anteriormente, Pompeo havia afirmado que não considerava o waterboarding um método ilegal.

Se na política há inferno astral, Donald Trump certamente está no pior momento. Na ultima terça-feira (10), Jeff Sessions, indicado para assumir a Procuradoria-Geral dos EUA, também posicionou-se contra as técnicas de tortura. Sessions afirmou aos senadores ainda que não investigará a candidata democrata Hillary Clinton, a quem Trump chamava de “corrupta”.

Na quarta-feira (11) mais um episódio colocou por terra a fanfarrice discursiva de Donald Trump. Indicado para o cargo de secretário de Estado, pasta que cuida das relações internacionais norte-americanas, Rex Tillerson também mostrou preocupação com a Rússia, defendendo a manutenção das sanções contra Moscou. No estilo pá de cal, Tillerson disse que o México é “amigo de longa data”, declaração que contraria a disposição de Trump de construir um muro na fronteira entre os dois países.

A cereja do bolo ficou por conta do senador republicano John McCain, com vasta carreira política e respeitado no Congresso dos Estados Unidos, que referiu-se a Vladimir Putin como “assassino e bandido”.

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