Lava-Jato: “lista de Fachin” confirma que o governo do escorregadio Temer é mais do mesmo ou pior

Diga o que quiseres e direi quem és. Essa á uma adaptação do dito popular “diga-me com quem andas e te direi que és”. Presidente da República, o peemedebista Michel Temer é digno da mencionada adaptação, pois algumas declarações recentes serviram como prenúncio de tempos bicudos.

Certa feita, já como presidente interino, em maio de 2016, Temer reuniu-se com parlamentares logo após a demissão de Romero Jucá, então ministro do Planejamento. Disse o presidente, naquela ocasião, que “não terá compromisso com equívocos” e que os “homens do governo são todos falíveis”.

Em clara tentativa de demonstrar força, Michel Temer disse aos seus convivas da época que já lidou com bandidos quando era secretário da Segurança Pública nos governos dos peemedebistas Franco Montoro e Luiz Antonio Fleury Filho.

“As pessoas estão acostumadas a quem está no governo não poder voltar atrás, se errou tem que ter compromisso com o erro. Nós somos como JK [Juscelino Kubitschek], não temos compromisso com equívoco. Portanto quando houver algum equívoco, nós reveremos este fato. De modo que… Eu vi aqui, ‘ah, bom, mas o Temer está muito frágil, coitadinho, não sabe governar…’ Conversa! Eu fui secretário da Segurança Pública duas vezes em São Paulo e tratava com bandidos. Então eu sei o que fazer no governo e saberei como conduzir”, disse Temer.

“Agora, meus caros, quando eu perceber que houve um equívoco na fala e na condução do governo, eu reverei essa posição. Não tem essa coisa de não errei, não aceito errar. Posso errar, não tem problema nenhum em errar, mas, se o fizer, consertá-lo-ei.”

Antes de instalar-se no principal gabinete do Palácio do Planalto, Michel temer prometeu aos brasileiros montar uma equipe ministerial com notáveis. O que não aconteceu, pois a dependência do governo em relação ao Parlamento seja a ser deprimente. E o loteamento da Esplanada dos Ministérios entre os partidos da chamada base aliada simplesmente implodiu a prometida “ponte para o futuro”.


Há dias, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, Michel Temer, ao falar sobre o próprio governo, disparou: “Acho que não cometi nenhum erro”. Cada qual pode pensar aquilo que lhe convém, direito esse que se estende ao presidente da República, que cometeu o maior erro ao montar a equipe ministerial que aí está. Ciente de que política no Brasil só se faz com muito dinheiro, na maioria das vezes de origem duvidosa, o presidente sabia quem estava colocando em cada ministério, assim como conhecia a vida pregressa de cada um. Afinal, nesse universo são todos iguais.

Com a divulgação da devastadora “lista de Fachin”, o Brasil acabou descobrindo que Michel Temer errou feio. Não porque ele próprio foi acusado por um dos delatores da Odebrecht, mas porque entregou pastas importantes a pessoas muito mais que suspeitas. Denúncia e investigação não configuram culpa, mas em qualquer governo deve prevalecer a tese popular sobre Pompeia Sula, a segunda esposa do imperador romano Júlio César, a quem não bastava ser honesta, mas parecer como tal.

Político experiente que é e conhecedor da lentidão do Judiciário, Michel Temer criou uma linha de corte para os escândalos do Petrolão em que estão envolvidos ministros de Estado e outros colaboradores destacados. Os que foram alvo de denúncia serão afastados temporariamente das funções, ao passo que os que se tornarem terão de deixar o governo em caráter definitivo.

O presidente sabe que pelo elevado número de citados na “lista de Fachin” e a complexidade dos inquéritos, as investigações a partir da delação da Odebrecht terminarão após o fim do seu mandato. Ou seja, Temer estará fora da linha de tiro como presidente da República, mas terá de responder à Justiça como cidadão comum. Afinal, ele foi acusado de negociar a “venda” do PMDB à Odebrecht pela bagatela de US$ 40 milhões.

Reza a Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LVII, que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Sob essa determinação constitucional, todos os que têm seus nomes na “lista de Fachin” são por enquanto inocentes, mas é preciso reconhecer que a equipe ministerial de Temer é, em parte, suspeita. Talvez o presidente da República não veja problema nesse detalhe, pois tem experiência de lidar com bandidos, como ele próprio afirmou.

O UCHO.INFO não está condenando por antecipação os investigados, assim como não está a rotulá-los como bandidos, mas Michel Temer está a compactuar com “equívocos”, contrariando sua própria fala, mesmo que “homens de governo sejam falíveis”. É de conhecimento público que política no Brasil está longe de ser algo de pessoas bem intencionadas, mas pelo andar da carruagem a paciência está perto do fim.

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