Lava-Jato: nem mesmo um padre acredita na versão de Bumlai sobre empréstimo bancário

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O pecuarista José Carlos Bumlai é amigo e irmão-camarada do lobista-palestrante Lula, que por sua vez manda no PT e faz o que bem entender na legenda, como se fosse a área de serviço do misterioso sítio em Atibaia.

Bumlai contraiu em seu próprio nome um empréstimo no valor de R$ 12 milhões, junto ao Banco Schahin, para favorecer o PT, mas Lula sequer soube da transação. Essa é a essência do depoimento do pecuarista ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba e responsável na primeira instância da Justiça pelos processos decorrentes da Operação Lava-Jato.

Ouvido nesta segunda-feira (30) por Moro, o pecuarista disse que o Partido dos Trabalhadores “assumiu totalmente” o empréstimo de R$ 12 milhões, contraído de forma fraudulenta em 2004. Parte do dinheiro chegou ao empresário Ronan Maria Pinto, de Santo André, também preso na esteira da Lava-Jato. A força-tarefa da operação que desmontou o maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão, descobriu que o tal empréstimo jamais foi pago pelo partido. A inadimplência foi compensada cinco anos mais tarde com um contrato, no valor de US$ 1,6 bilhão, firmado entre o Grupo Schahin e a Petrobras.

Preso em novembro na 21ª fase da Lava-Jato, Operação Livre Acesso (alusão ao passe livre que o pecuarista tinha no Palácio do Planalto), José Carlos Bumlai foi colocado em prisão domiciliar, em março passado, por causa de problemas de saúde. Foi no vácuo dessa mudança de status prisional que possivelmente construiu-se uma teoria tão esdrúxula quanto a apresentada a Moro.

O pecuarista afirmou que “nunca esteve no banco solicitando esse empréstimo”. Perguntado sobre a razão do empréstimo milionário, Bumlai disse que “eles precisavam de um dinheiro para o segundo turno das eleições de 2004”. Trata-se de uma enorme mentira, pois em 2004 o PT estava oferecendo dinheiro grosso em troca de dossiês contra José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab, que à época eram candidatos a prefeito e vice da capital paulista. A dupla derrotou a então petista Marta Suplicy, que tentava a reeleição.


Ao juiz, o pecuarista revelou detalhes da operação, que pela falta de nexo não convence quem conhecem os bastidores do esquema de corrupção. Bumlai creditou a Sandro Tordin, então presidente do Banco Schahin; a Delúbio Soares, à época tesoureiro do PT; a Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio, prefeito cassado de Campinas; e aos marqueteiros Armando Peraldo e Giovanni Favieri, de Campo Grande (MS), a engenharia da operação financeira.

“Estava em São Paulo quando recebi um telefona de um amigo, que eram três, Giovani, Armando e Sandro Tordin para que desse uma chegada até o Banco Schahin”, explicou Bumlai. “Fui lá e me deparei na cabeceira com o candidato a prefeito de Campinas doutor Hélio, à direita dele seu Delúbio Soares, depois seu Carlos Eduardo Schahin, uma cadeira vaga em que me sentei, e o Sandro, o Armando e o Giovanni”, completou o réu.

O conselheiro rural (sic) de Lula disse que João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT e preso na Lava-Jato, participou da operação financeira no momento em que foi discutida a quitação do empréstimo. De acordo com Bumlai, não lhe informara que um contrato arranjado com a Petrobras quitaria a dívida. Como esperado, o pecuarista inocentou Lula de qualquer responsabilidade em relação ao bisonho empréstimo.

O depoimento de José Carlos Bumlai ao juiz da Lava-Jato foi recheado de inverdades, pois beira o inadmissível alguém que toma um empréstimo milionário no próprio nome, para supostamente favorecer um partido político, e não se inteira da forma como o mesmo será quitado. Sobre o fato de Lula não saber na negociata, trata-se de uma mentira descomunal, pois o ex-presidente era a única conexão supostamente confiável com o PT. Se de fato Bumlai fez a operação financeira sem o conhecimento do ex-metalúrgico, ou ele é inocente demais ou um traidor de primeira hora.

Considerando que juiz Sérgio Moro é um especialista em crimes de lavagem de dinheiro, Bumlai não escapará de condenação pesada, ao mesmo tempo em que a Lava-Jato aproxima-se cada vez mais, agora com velocidade, do alarife Lula.

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