Leviatã: desdobramento da Lava-Jato mostra situação difícil do PMDB e prova que política é negócio

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A grande imprensa brasileira deveria abandonar a hipocrisia, reconhecendo de forma clara que no Brasil política faz-se apenas com muito dinheiro, na maioria das vezes de origem duvidosa (leia-se corrupção). Se para alguns a cobrança que ora fazemos parece improcedente, a lógica surge na esteira de simples e primários cálculos matemáticos. No momento em que um parlamentar investe na respectiva campanha de cinco a dez vezes mais do que receberá de salário ao longo do mandato, caso eleito, é porque há algo estranho nos subterrâneos do poder.

A Operação Leviatã, desdobramento da Operação Lava-Jato e que tem como foco principal os senadores peemedebistas Edison Lobão (MA) e Jader Barbalho (PA), mostra de maneira inequívoca que política e corrupção são irmãs siamesas e que a situação do governo do também peemedebista Michel Temer piora com o passar dos dias, apesar da agenda positiva programada pelo Palácio do Planalto.

No início da manhã desta quinta-feira (16), a Operação Leviatã ganhou as ruas para cumprir mandados de busca e apreensão nas casas e escritórios de pessoas investigadas por propina na construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Entre os alvos, segundo a Polícia Federal, estão o ex-senador Luiz Otávio (PMDB- PA) e Márcio Lobão, filho do senador Edison Lobão e presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ). Os mandados da Leviatã foram expedidos pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), novo relator da Lava-Jato.

As buscas realizadas pela PF estão vinculadas a um inquérito que tramita no STF para investigar pagamento, por parte das empresas do consórcio de Belo Monte, de 1% dos valores das obras da usina ao PT e ao PMDB. A Operação Leviatã mirou o repasse de dinheiro de propina ao PMDB, pois o butim destinado ao PT é de competência da Justiça Federal do Paraná, já que não envolve pessoas com direito a foro especial por prerrogativa de função, o malfadado “foro privilegiado”.

Como sempre acontece em operações policiais que saem no encalço de corruptos, os investigados negam qualquer envolvimento com ilícitos, até que tenham tempo e recobrem a memória. Foi o que fez a defesa de Márcio Lobão, que em nota considerou “drástica” a medida e afirmou que o cliente não está envolvido em ilegalidades. Ou seja, os investigados, por meio de prepostos, tentam exibir a aura da inocência.


Márcio Lobão é o atual presidente da Brasilcap, empresa do grupo Banco do Brasil que atua no mercado de capitalização, até porque o status político do pai serve para algo, a começar por cargos na máquina pública. Esse é o chamado presidencialismo de coalizão, que no Brasil pode ser traduzido como “entre e roube à vontade”.

Coube ao ex-presidente da Andrade Gutierrez Energia, Flávio David Barra, delator da Operação Lava-Jato, apontar o senador Edison Lobão como responsável por coordenar o recebimento de propinas para o PMDB, furto da roubalheira nas obras da hidrelétrica de Belo Monte e da usina nuclear de Angra 3.

De acordo com o delator, Lobão indicou o filho Márcio e, posteriormente, o ex-senador Luiz Otávio Campos – apadrinhado do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) – para receber os pagamentos ilícitos envolvendo ambas as obras.

Considerando que um delator assume o compromisso de só falar a verdade, sob pena de, descumprindo o combinado, colocar a perder o acordo de colaboração premiada, acreditar na anunciada inocência dos investigados é uma to de imensa irresponsabilidade. Mesmo assim, de acordo com o que reza a Constituição Federal, todos são considerados inocentes, até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Contudo, apesar desse preceito constitucional, não se pode fechar os olhos para a triste realidade da política nacional, onde tudo é possível e tem preço. Por isso voltamos aos tais cálculos matemáticos. Para eleger-se senador pelo Maranhão, por exemplo, um candidato precisa despejar na campanha pelo menos R$ 15 milhões. Ora, se uma campanha de apenas três meses consome essa dinheirama, alguém precisa explicar o que passa no pensamento de quem, se eleito, receberá R$ 3,5 milhões de salário ao longo de oito anos de mandato. Resumindo, se não for diletantismo tupiniquim, por certo é milagre da multiplicação.

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