Marina adotou discurso conciliador, mas não pode ignorar o caso do avião e o viés antagônico do vice

marina_silva_17Sem rodeios – Na entrevista que concedeu ao Jornal Nacional, da Rede Globo, a presidenciável Marina Silva (PSB) enfrentou três temas “indigestos” colocados pelos apresentadores do noticioso. O primeiro deles, que ingressa na seara da coerência – ou da incoerência –, é que o vice de Marina, o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), trabalhou pela aprovação da Lei da Soja Transgênica, defendeu pesquisas com células-tronco embrionárias e recebeu doações de campanha de empresas de armas e de fabricantes de bebidas. Postura que contraria o palavrório de Marina Silva. que disse não ser contra a soja transgênica, mas não disse que é a favor. Será que Beto Albuquerque fará um “mea culpa” e se dirá arrependido?

William Bonner, apresentador do JN, perguntou: “Esses exemplos não mostram que Marina e Beto Albuquerque são aquela união de opostos tão comum da velha política, apenas para viabilizar uma chapa, uma eleição?” Não há como condenar a pergunta, pois se Marina Silva quer fazer política de um jeito novo, certamente a candidata do PSB começou errando. Aliás, Marina errou no momento em que aterrissou como hóspede no PSB, apenas porque a sua Rede Sustentabilidade tropeçou no Tribunal Superior Eleitoral. Desde o início era sabido que os pensamentos de Marina não combinavam com os de Eduardo Campos. Tanto é assim, que com a morte de Eduardo o presidente do PSB disse que Marina não precisaria continuar no partido caso fosse eleita presidente da República

Marina Silva vem adotando um discurso conciliador que agrada a “gregos e troianos”, mas não se pode deixar de exigir coerência por parte da candidata. De nada adianta discursar em determinada direção e caminhar em outra. Ou o discurso combina com as atitudes, ou nada feito. Marina tenta viabilizar cada vez mais sua eleição, sem se distanciar demais de suas pregações, mas a política é um imundo e contínuo jogo de interesses. E muitas vezes esse jogo exige que o candidato abra mão de suas mais arraigadas convicções, caso queira alcançar o triunfo.

Em relação ao avião que vinha sendo usado na campanha e que despencou em Santos, no litoral paulista, matando Eduardo Campos e outros seis ocupantes, Marina disse desconhecer os preâmbulos do empréstimo da aeronave. A candidata do PSB pode alegar o que quiser – e diz o que qualquer um diria diante de situação constrangedora –, mas deve estar consciente que o fato de “laranjas” estarem por trás da compra da aeronave pode atrapalhar sua candidatura, inclusive com graves punições ao partido por conta do cometimento de crime eleitoral. Entre a teoria da lei e a regra dos tribunais há uma distância monumental, mas ao pé da letra o PSB está na fila da degola. Ou seja, a pergunta foi pertinente, mesmo que Marina tente empurrar o problema para o defunto.

A única pergunta descabida, na opinião do ucho.info, foi a que tratou sobre a baixa popularidade no Acre, seu reduto eleitoral e onde, em tese, é mais conhecida. Pois bem, o fato de Marina ser muito conhecida no Acre não significa que sua popularidade seja alta. É bom lembrar que o Acre é uma quase capitania dos irmãos Viana (Jorge, o senador, e Tião, o governador), por isso é difícil alguém sobreviver politicamente fora desse grupo.

No quesito popularidade não há como questionar Marina Silva, pois outros políticos também enfrentam o mesmo problema. É o caso de Aécio Neves, presidenciável do PSDB, que possivelmente não conseguirá eleger o governador de Minas Gerais, estado que ele próprio governou e deixou o Executivo com boa aprovação. É fato que o PSDB errou ao escolher Pimenta da Veiga como candidato ao governo mineiro, mas com a suposta popularidade de Aécio isso não poderia acontecer.

Dilma Rousseff, a presidente que tenta a reeleição, é mineira de nascimento, mas tem sua base eleitoral no Rio Grande do Sul. Na terra de chimangos e maragatos, Dilma corre o risco de ver o “companheiro” Tarso Genro, atual governador gaúcho, ser derrotado nas urnas de outubro próximo.

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