Morre em Lisboa, aos 92 anos, Mário Soares, o “Presidente da Liberdade”

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Morreu neste sábado (6), em Lisboa, aos 92 anos, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, o político português mais importante do século 20 e um reconhecido defensor da democracia e da liberdade. Mário Soares foi internado em 13 de dezembro no Hospital da Cruz Vermelha, na capital portuguesa, e nos últimos dias entrou em coma profundo.

Opositor ferrenho da ditadura salazarista, Mário Soares foi preso doze vezes por sua atividade política e passou três anos na prisão do arquipélago de São Tomé e Príncipe. Exilado na França e na Alemanha, Soares foi um dos fundadores do Partido Socialista português, tendo sido o primeiro presidente eleito pelo povo depois da Revolução dos Cravos.

Presidente da República, primeiro-ministro e representante de Portugal no Parlamento Europeu por três mandatos, Mário Soares era respeitado por todos os políticos portugueses, não importando a corrente ideológica. Nascido em 1924, o ex-presidente cresceu em uma família abastada e de letrados. O pai, João Soares, antigo padre e político da Primeira República, foi um reconhecido oposicionista de António de Oliveira Salazar. A mãe, Elisa Nobre Baptista, era dona de uma pensão na região conhecida como Baixa de Lisboa.

Por conta do círculo de amizades do pai, Mario Soares não demorou a tornar-se, ainda como estudante, um contestador por excelência. O ex-presidente português casou-se na prisão com a promissora atriz Maria de Jesus Barroso, cuja carreira foi interrompida pela proibição de atuar em teatros governamentais, o que à época era tudo para os artistas. Juntos tiveram os filhos Isabel, atual de um colégio da família, e João Soares, político com vasta experiência e filiado ao Partido Socialista.

Ministro dos Negócios Estrangeiros dos três primeiros governos provisórios, Mário Soares teve papel relevante no processo da independência e descolonização das províncias ultramarinas portuguesas. Foi por três vezes primeiro-ministro, sempre em governos minoritários. Em 1986, foi eleito Presidente da República, batendo Freitas do Amaral na mais disputada corrida ao Palácio de Belém, sede da Presidência da República.


Foi a partir de Belém que Mário Soares mostrou sua destreza como político e defensor da liberdade. Dono de alta popularidade, o então presidente conseguiu dificultar sobremaneira os governos, de maioria absoluta, de Cavaco Silva, com quem cultivava inimizade figadal e recíproca.

Após dois mandatos como presidente da República, Mário Soares foi eleito, em 1999, ao Parlamento Europeu, onde permaneceu como representante de Portugal por cinco anos. Depois disso, concorreu mais uma vez à Presidência, mas, mesmo com o apoio maciço do Partido Socialista, foi derrotado nas urnas, ainda no primeiro turno, pelo histórico adversário Cavaco Silva e pelo amigo de longa data Manuel Alegre.

Mário Soares deixa uma vasta obra literária, com cerca de 80 títulos, quase todos dedicados à causa da sua vida: a política. Homem de cultura e das artes, Soares conviveu com destacados líderes internacionais de sua época e era dos últimos representantes vivos da geração que construiu a União Europeia e assistiu ao fim da Guerra Fria.

Em 2013, Mário Soares foi vítima de uma encefalite, que deixou-o muito debilitado, mas o “golpe” maior surgiu dois anos mais tarde, na esteira da morte da mulher. Desde então, as aparições públicas de Soares tornaram-se cada vez mais raras.

O governo português decretou lutou oficial de três dias, sendo que o velório de Mário Soares acontecerá na próxima segunda-feira (9) no Mosteiro dos Jerónimos, também conhecido como Mosteiro de Santa Maria de Belém. O Mosteiro, datado do século XVI, é certamente o ponto alto da arquitetura manuelina, o mais notável conjunto monástico português do seu tempo e uma das principais igrejas-salão (as naves têm a mesma altura) da Europa. (Com agências internacionais)

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