Movimentos convocam manifestação a favor da Lava-Jato, mas deveriam questionar decisões da Justiça

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Definitivamente, o brasileiro tem vocação para ser enganado. No momento em que uma onda de imoralidade devasta o Estado nacional, com escândalos de corrupção pululando aqui e acolá, alguns especialistas (sic) aproveitam a estupefação popular para convocar um protesto em favor da Operação Lava-Jato, como se as investigações pudessem sofrer algum tipo de abalo depois da imensidão de provas colhidas até agora.

Diante de provas e delações, imaginar que a Lava-Jato corre algum risco é abusar da teoria da conspiração. Tanto é assim, que a operação vem descobrindo mais e mais escândalos, o que denota adequação no ritmo das investigações. O que não se deve fazer é “vender” a falsa ideia de que a Lava-Jato corre sério risco de ser implodida, apenas porque alguns delegados deixaram a força-tarefa da operação. Mesmo que isso tenha ocorrido por decisão da Polícia Federal, mudanças são normais em corporações.

Que o Congresso Nacional deseja impedir o avanço das investigações jamais foi novidade, pois é enorme e impressionante o número de políticos envolvidos no maior esquema de corrupção da história da Humanidade, o Petrolão. Porém, entre o desejo dos parlamentares e a eficácia do plano bandoleiro há uma considerável distância. Como se não bastasse, a Constituição Federal serve, inclusive, para impedir que quadrilheiros mudem as leis para escaparem da prisão.

Em vez de manifestarem-se a favor da continuidade da Lava-Jato – que não está ameaçada – os brasileiros deveriam questionar muitas das decisões tomadas no escopo da operação. A roubalheira perpetrada na Petrobras e outras estatais, por meio do superfaturamento de contratos e pagamento de propinas milionárias, rendeu dezenas de bilhões de reais aos criminosos, mas a opinião pública contenta-se com condenações que não passam de um deboche em termos jurídicos.

Flagrado no escândalo do Banestado, no qual negociou acordo de delação premiada, o doleiro Alberto Youssef descumpriu o combinado com a Justiça – especificamente com o juiz Sérgio Moro – e tornou-se o principal operador financeiro do Petrolão, por obra e graça do finado compadre José Janene, então deputado federal pelo PP do Paraná e mentor do esquema criminoso.

Youssef foi preso na primeira etapa da Operação Lava-Jato, na capital maranhense, mas após pouco mais de dois anos atrás das grades e alguns depoimentos às autoridades reconquistou a liberdade, inicialmente com direito a tornozeleira eletrônica, mas agora em caráter definitivo. Ou seja, Youssef está livre para circular por toda parte e desempenhar o ofício de uma vida inteira: o mercado negro de câmbio.


As autoridades da Lava-Jato, por terem extraído de Youssef informações importantes, concederam ao doleiro um benefício que é um verdadeiro escárnio. Em qualquer país minimamente sério, não é o caso do Brasil, Alberto Youssef passaria pelo menos duas décadas atrás das grades. Um dos procuradores da Lava-Jato, em conversa com o editor do UCHO.INFO, disse que o doleiro permaneceria prisão por um século.

Outro escândalo que não foi questionado pelos brasileiros, apenas por este portal, é a não inclusão da família de José Janene, morto em outubro de 2010, no radar das investigações da Lava-Jato. Janene, como já noticiado inúmeras vezes, não apenas criou o esquema criminoso que substituiu o malfadado Mensalão do PT, mas foi um dos principais beneficiários da roubalheira sistêmica. Enquanto apresentam-se à opinião pública como maiores abandonados, surpresos com os desdobramentos da Lava-Jato, os parentes de Janene estão a desfrutar de um patrimônio milionário conquistado com dinheiro da corrupção.

Outro absurdo no âmbito da Lava-Jato foi a insossa e meteórica delação de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, que negociou com a Procuradoria-Geral da República um acordo de colaboração com base em gravações ilegais, certamente encomendada por alguma autoridade. Machado, que no acordo conseguiu, além de poupar os filhos, que agiram como cúmplices, parcelar a devolução do dinheiro roubado, enquanto o mesmo continua rendendo dividendo em aplicações financeiras no exterior. Sérgio Machado foi condenado a três anos de prisão domiciliar, pena que está sendo cumprida em uma enorme e luxuosa mansão em Fortaleza, com mimos que fazem inveja aos melhores spas.

Por outro lado, ainda na Lava-Jato, outra bizarrice por parte das autoridades continua a causar espécie. Ex-presidente da empreiteira baiana OAS e sócio minoritário da empresa, José Adelmário Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro, teve suspensa a negociação de acordo de colaboração premiada sob o argumento de vazamento de informações. Outras delações tiveram os dados vazados de forma escândalos e por integrantes da própria força-tarefa, sem que nada tivesse sido suspenso, mas no caso de Léo Pinheiro a questão polêmica é que o empreiteiro pode mandar Lula para a cadeia.

Tomara que esses convocados para o próximo protesto percebam, a reboque de lapso de consciência, que é preciso cobrar as autoridades da Lava-Jato sobre decisões absurdas, já tomadas, e outras que aguardam pacientemente na fila de espera. Obter delações a qualquer preço, concedendo aos delatores benesses inimagináveis, desde que esses falem o que desejam ouvir os investigadores, está longe de ser investigação bem sucedida. Em suma, por trás desse movimento em favor da Lava-Jato há algum interesse escuso, o qual continua intrigando o pensamento de quem conhece os bastidores da política verde-loura.

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