Muralha ou trampolim

(*) Lígia Fleury –

ligia_fleury_04Nos últimos dias temos assistido às terríveis notícias da guerra no Oriente Médio e isto me remete a pensar no sentido que damos à nossa vida.

Ninguém nasce racista nem apegado a bens materiais. Ao nascer, somos escolhidos para viver, respirar, amar, sentir, crescer, optar pelo próprio caminho, sermos isso ou aquilo outro. Neste caminho todos encontramos pedras; alguns desistem, outros as tiram da frente, outros transformam as pedras em muralhas e há os que fazem delas um trampolim para o próximo passo. Essas atitudes são opções que fazemos no decorrer do tempo, enquanto ele se encarrega de nos transformar em adultos.

Independente de cor, religião, opção sexual, nascer, crescer e morrer é o caminho natural para todo ser humano e aí está a questão: cada um escolhe o próprio caminho, quando amadurecer, no que e em que acreditar, no sentido que quer dar à sua existência. Não é tarefa fácil, vem acrescida e permeada do ambiente familiar, da cultura local.

Se, por um lado, a cultura é a responsável por hábitos como manter e preservar espaços organizados e limpos, respeitar o outro, entender a hierarquia sem que seja isso uma afronta pessoal, preservar o meio ambiente, valorizar a Educação, preservar a vida, se apegar em um bem superior, a um Deus representado em cada crença; por outro a cultura também é responsável por colocar armas mortais nas mãos de crianças, incentivar o tráfico de drogas, corromper, esconder o rosto e o corpo…

Essas diferenças culturais nos são impostas no seio familiar, na realidade local e aí reside o divisor entre guerra e paz, aí nasce a intolerância. O hábito de não aceitar que o outro tenha suas convicções, que o outro lado do mundo pense diferente, aos poucos, vai-se incorporando no dia a dia, no encontro com as pedras do caminho.

Este é o momento de criar muralhas ou trampolins. Essa é a escolha! Para mim, não faz sentido perder vidas, em sua maioria jovens, por pedaços de terra, por poder! Mas para outros, a vida é a própria guerra. Neste limite, a cultura não conversa e não transgride; cada um por si e todos perdendo a vida; crianças, jovens e adultos perdendo o que de mais belo nos é dado, uma vida que poderia ser de sonhos e conquistas.

Mas isso seria mais um Conto de Fadas, uma história infantil. E a vida não o é. Portanto, façamos a nossa parte, aprendendo com os exemplos do outro, como dos alemães que vieram ao Brasil e nos encantaram pela aproximação como nosso povo, numa lição de humildade, perseverança, garra e reconhecimento, valorizando com vida a própria pátria. Ou com os orientais que apareceram recolhendo o lixo de lugares públicos; com os brasileiros na arte de receber com alegria. P

Por meio de atitudes que possibilitam a convivência com as diferenças, podemos deixar nosso legado de um mundo melhor. A grande questão, no entanto, é a impossibilidade de transformar histórias, pois mudar uma cultura implica em aceitar que eles queiram, também, mudar a sua. E

Então, eu continuarei incrédula ao olhar imagens de vidas que se perdem com a violência da guerra, por ler que os conflitos humanos se dão por pedaços de terra, por saber que a ganância humana pelo poder está acima de um bem Divino que nos é dado para que possamos escolher o que fazer com este presente.

(*) Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog educacaolharcomligiafleury.blogspot.com.

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